Com o Papa andamos para trás

Num encontro com agentes da pastoral social, o Papa reiterou ontem a condenação do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e defendeu a indissolubilidade do matrimónio:



Quanto aos mecanismos socioeconómicos, até eu aplaudo, uma vez que defendo que as mulheres que não têm capacidade económica para prosseguir uma gravidez desejada devem ser apoiadas, de todas as formas possíveis, de modo a que a sua decisão seja respeitada. Por isso é que a maternidade se inscreve no campo dos direitos e não das obrigações.
Mas o que são os «mecanismos culturais» que levam ao aborto? Estará, porventura, a referir-se ao direito das mulheres terem um projecto de vida que não inclua a maternidade ou ao seu direito de escolher o momento em que querem ser mães? Estará a referir-se a uma sociedade em queda que lhes permite tamanha monstruosidade? Estará a afirmar que as mulheres que escolhem não ter filhos estão a negar a sua identidade? Deve ser por isso que a doutrina vaticanista inscreve o respeito pelas mulheres na sua capacidade e concretização procriativas (ver, por exemplo, a carta apostólica Mulieris Dignitatem).

Apesar do efusivo aplauso com que foi presenteado, deveria ter sido explicado ao Papa que os católicos e as católicas deste país não só contribuíram com o seu voto para alterar a lei que perseguia criminalmente as mulheres acusadas de aborto, como também têm um espírito bem mais tolerante do que aquele a que o Papa exorta: os valores morais são preceitos individuais e as leis não devem impôr convicções religiosas. Isso sim, é o bem comum.

O que o Papa nos veio dizer, em matéria de costumes, é que o último século português foi uma autêntica perda de tempo.

2 comentários:

Diogo Augusto disse...

E convinha que ele se decidisse. Trata-se da visita de um chefe de Estado ou do chefe da Igreja Católica? É que, no primeiro caso, não tem que meter o bedelho. No segundo, não tem que ter honras de chefe de Estado. Mas acho que nunca ninguém teve dúvidas em relação a isto, não é? Chefe da Igreja Católica com honras de chefe de Estado. Pode ser que volte daqui a uns tempos para investir o novo Presidente da República.

miguel andrade disse...

Sabendo que começou por citar cerejeira e acabou a pedir a indissolubilidade do matrimónio que acabou com o regime do tal de "veneranda memória", tudo o que houve no meio não espanta.
e o que ia dizer a seguir já foi dito no comentário do diogo...
que vá mas é pó baticano que o ...

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