Umbigo

Circula, para subscrição pública, uma petição que defende a laicidade e que divulguei neste blog. Simultaneamente, também aqui foi publicado um texto que faz a apologia da sua não subscrição. Nada a opôr. São estas as regras e eu aceitei-as.
Mas quero, no entanto, defender a sua subscrição.
A feitura de um texto colectivo é um exercício complexo. Consegui-lo implica cedências de todas as partes envolvidas. O resultado deste exercício é sempre um texto diferente daquele que cada uma ou cada um de nós escreveria. Mas o que se pretende com este exercício de consensualização é que no resultado final se revejam não apenas os primeiros subscritores e subscritoras mas também que ele possa ser reconhecido e apropriado pelo maior número de pessoas possível.
Quem me conhece com certeza estranhou que eu subscrevesse um texto que recorre ao falso neutro, que fala em direitos do homem e não em direitos humanos, mas tem também a certeza que eu propus a alteração. Tendo reclamado sobre isso, mas não tendo a reclamação chegado a tempo, subscrevi-o na mesma.
Não me incomoda nada o facto de o texto em circulação não ser aquele que eu escreveria. A convergência tem o seu preço e só o paga quem quer. Eu quis pagá-lo porque, grosso modo, me revejo nele e nos fins a que se propõe.
A convergência é um exercício difícil, que exige cedências, para que a abrangência seja possível. E por isso prefiro ser subscritora de um texto em que não me revejo cabalmente a ser atirada para um imobilismo solipsista. Prefiro tomar posição a ficar calada. Prefiro a imperfeição ao isolamento sectário. Prefiro o colectivo, por imperfeito que seja, à pureza do meu umbigo.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Cara Andrea,
como subscritor inicial do mesmo texto, gostaria de te exprimir aqui o meu acordo com o teu post. Só emendaria uma coisa: não falaria tanto em "cedências" como em "acordos". Suponho que nenhum dos subscritores sacrificou princípios nos altares do taticismo. Evidentemente, todos eles teria coisas a acrescentar, e nem todos subscreveram o texto pelas mesmas razões. Apesar de tudo, conseguiu-se - falo do meu ponto de vista - pôr cá fora um texto que defende a democracia sem defender o Estado, que interpela os poderes constituídos sem os avalizar…
O texto não diz tudo - sem dúvida. Mas não há cedência na medida em que também não diz nada que não deva dizer-se, nada que impeça de ir mais longe a partir do que se andou.
Abrç

msp

Andrea Peniche disse...

Estou completamente de acordo contigo, MSP.

Joana Lopes disse...

Totalmente de acordo, Andrea. Passo a vida a dizer que já pus o nome em muitos abaixo-assinados «apesar de».

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