entre marido e mulher, alguém meta a colher



Assinala-se hoje o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. As efemérides têm destas coisas, obrigam-nos a encarar uma realidade que, por vezes, anda demasiado esquecida nos restantes dias do ano.


Analisando este relatório, percebemos também que os homens mais violentos são aqueles com quem as vítimas têm uma relação de intimidade (60%), seguidos daqueles com quem já mantiveram uma relação (20%), estando, porém, agora deles separadas ou divorciadas.

Apesar do muito que foi feito nos últimos anos, nomeadamente a nível legislativo, muito há ainda para fazer. É preciso acabar com a impunidade e com os olhares, práticas e discursos desculpabilizadores. É necessário continuar com campanhas nacionais que denunciem a violência doméstica como crime, porque essas campanhas não só empoderam as mulheres e as ajudam a romper com este ciclo de violência, como constroem na sociedade a ideia urgente de tolerância zero para este tipo de crime. Precisamos, igualmente, de Juízos especializados em violência doméstica porque precisamos de tribunais capazes de compreender a amplitude deste crime, de modo que possam agilizar e adequar as suas decisões: grande parte das mulheres assassinadas já estava sinalizada como vítima de violência doméstica, o que significa que a protecção não foi eficaz ou não chegou a tempo. Basta olhar para o número de processos que chega ao fim e compará-lo com o número de queixas apresentadas, o número de condenações e o número de medidas de coacção aplicadas para percebermos a importância desta medida.

E, evidentemente, é necessário proteger as vítimas, pois elas são-no não apenas porque levam tareias e são sujeitas à violência e coacção psicológicas, mas também porque, para romperem com essa situação, são obrigadas a desestruturar as suas vidas, já de si precárias. Ir para uma casa abrigo exige romper com a maioria das relações sociais; significa abandonar o emprego e a casa familiar; implica sujeitar os filhos e filhas, quando existem, a uma vida diferente e escondida: mudar de escola, viver numa casa que não é sua, etc. Lembro-me de uma vez, quando trabalhava como voluntária na UMAR, de ter ido retirar rapidamente uma mulher e o seu filho à pensão onde tinham sido albergados. O filho tinha telefonado ao pai, denunciando o seu paradeiro, porque queria comer «chocapic» e na pensão onde estavam não havia. Parece ridículo, mas não é. O sofrimento destas mulheres é aumentado pelo facto de terem de sujeitar os seus filhos e filhas a uma vida diferente da que tinham imaginado. Notícias como esta são, pois, inaceitáveis.

É por isso que está é uma batalha de toda a gente, de todos os homens e mulheres que não se resignam perante a desigualdade e violência. É de uma batalha civilizacional que se trata, de uma batalha que não aceita a desigualdade e a violência como argumento. Quem cala, consente; quem cala, desculpa. Elas somos todos e todas nós.
[publicado também aqui]

Um comentário:

Sílvia disse...

Muito bom Andrea. Lembro-me muito bem dessa mulher, desse filho...e de uma forma muito especial, de todas elas!

Como tu bem dizes, "Elas somos todos e todas nós".

Um abraço, Sílvia

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