slutwalk

«(...) Se é certo que se trata de crimes repugnantes que não têm qualquer justificação, a verdade é que, no caso concreto, as duas ofendidas muito contribuíram para a sua realização. Na verdade, não podemos esquecer que as duas ofendidas, raparigas novas, mas mulheres feitas, não hesitaram em vir para a estrada pedir boleia a quem passava, em plena coutada do chamado "macho ibérico". É impossível que não tenham previsto o risco que corriam; pois aqui, tal como no seu país natal, a atracção pelo sexo oposto é um dado indesmentível e, por vezes, não é fácil dominá-la. Assim, ao meterem-se as duas num automóvel justamente com dois rapazes, fizeram-no, a nosso ver, conscientes do perigo que corriam, até mesmo por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras habitualmente com comportamento sexual muito mais liberal e descontraído do que a maioria das nativas».

Corria o ano de 1989 quando o Supremo Tribunal de Justiça produziu este acórdão. Vinte e dois anos depois, em Toronto, um polícia que participava numa conferência sobre auto-defesa na Universidade de York disse aquilo que ainda muita gente pensa: «As mulheres não devem vestir-se como vadias, de modo a evitarem ser vítimas de agressões sexuais».

A resposta chegou um mês depois: cerca de 3000 mil pessoas, sobretudo mulheres, desfilaram nas ruas de Toronto exigindo respeito pelas vítimas de violência sexual, reclamando igualmente o direito a disporem do seu próprio corpo e a escolherem livremente o seu guarda roupa. A transferência da culpa para as vítimas é uma das mais grotescas manifestações das sociedades machistas.

Rapidamente o protesto se estendeu por todo o mundo: da América do Norte à América do Sul, da Índia à Austrália, passando também por França e Inglaterra. Portugal tem encontro marcado com a Slutwalk no dia 25 de Junho: pelas ruas de Lisboa, do Camões ao Rossio, a partir das 17h30, desfilarão homens e mulheres em defesa da autodeterminação sexual, condenando a violência e o machismo e reclamando o direito ao respeito, até que finalmente toda a gente perceba que Não significa mesmo Não.

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