sobre o rolamento de cabeças

O Bloco de Esquerda que eu conheço nunca se furtou nem à responsabilidade nem à crítica. Talvez seja por isso que me sinto incomodada com uma certa histeria que por aí corre, materializada em atoardas que clamam pela demissão da direcção bloquista. Esta direcção foi eleita há cerca de um mês; é posterior aos erros que a generalidade dos fazedores de opinião sinalizam como responsáveis pelo desaire eleitoral do Bloco. Se me disserem que o programa com que o Bloco se apresentou a eleições era um disparate, se me disserem que a campanha que fizemos não teve ponta por onde se pegasse, aí eu até compreenderia a necessidade de propor a demissão da direcção. Mas se não for esse o caso, como não é, era bom que nos empenhássemos em fazer uma discussão séria, ao invés de nos entretermos a clamar por soluções que rendendo bons sound bites - porque imitam o funcionamento dos partidos grandes - pouco contribuem para a reflexão que, em meu entender, faz falta ao Bloco.

Sou militante do Bloco de Esquerda e detestaria fazer parte de um partido que descarta dirigentes assim que a coisa corre mal. Prefiro esse outro que conheço onde as responsabilidades são partilhadas, onde se discute, colectiva e solidariamente, as razões das vitórias e dos fracassos, onde aprendemos em conjunto. Responsabilidade é chamar derrota à derrota; responsabilidade é iniciar o processo de discussão para compreendê-la e corrigir erros; responsabilidade é ter disponibilidade para uma discussão séria.

7 comentários:

Alexandre disse...

Pois, vão rolar as cabeças do comité das relações públicas...se o bloco não vendeu bem, a culpa é do comunicador, e não do conteudo! Ai temos o bloco no fantástico mundo do marketing politico...

A Andrea afirma entao que nao se deve substituir a direcção?nao serão os resultados das eleições um indicador a ter em conta? Não devia partir da própria direcção a sugestão de mudança, em vez de se eternizarem qual capelinha? E a quem se atribui as responsabilidades desta brutal derrota? é sabido que a população votante no bloco é flutuante, mas o partido deveria tirar ilações sobre o que falhou. A meu ver, e ao contrario dos sociais democratas que apontam o facto de o bloco nao ter dialogado com a troika como causa de falhanço(continuando a empurrar o bloco para o centro) , o problema foi a esperteza saloia deste piscar de olhos a manuel alegres e afins! A esta descaracterização que transforma o bloco em mais um refundazione comunista, ate um dia ter os votos necessarios, ser governo, e diluir-se nesse falhanço anunciado. É incrivel ver no que o bloco se tornou, pergunto-me que lugar ocupa no seio destas mudanças na sociedade...Nas acampadas por ai, mais ou menos controladas e influenciadas, qu elugar ocupa o bloco?É reacçionario ou está na rua? (desculpem a terminologia usada, mas somos todos marxistas...nao somos?)

Anônimo disse...

Como sabes, Andrea, a ultima convenção foi um comicio pré eleitoral. Eventualmente nem poderia ser outra coisa... A politica decidida nessa reunião foi a luta por um governo da esquerda ou das esquerdas. PCP+BE+independentes???.
Na tua opinião essa politica serve para alguma coisa, hoje??

Andrea Peniche disse...

Alexandre,

Surpreende-me a vidência com que olha para o Bloco, apesar de considerar o seu comentário sério.
Se a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, por que raio a mudança no Bloco não pode ser obra dos próprios bloquistas?
Isto para lhe dizer que os balanços estão a ser feitos, os erros a ser analisados e o futuro a ser construído colectivamente.

Andrea Peniche disse...

Caro Anônimo,

Tens uma família grande, a dos Anônimos. A minha também o é, chama-se Esquerda Grande.

Anônimo disse...

Obrigado pela resposta que não deste.

Anônimo disse...

não sei como assinar o comentario de outra maneira.
Mas não será por isso que ficas impedida de responder:
Anónima 13 de junho de 2011 15:22 e Anónima 16 de junho de 2011 11:10 = Julia Santos Lima

Andrea Peniche disse...

Júlia,
Na minha opinião, uma política de convergência das esquerdas continua a fazer sentido. Não sei se em somas, como apresentas, se de outra forma qualquer. Parece-me que a esquerda grande terá que ser mais do que um somatório do que já existe. Sendo o caminho longo e cheio de escolhos, é ele que me anima.

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