Finalmente boas notícias!

Já andava um bocadinho aborrecida com a desconsideração dos dois Primeiros-Ministros em funções. Depois de terem anunciado as medidas que farão com que os desempregados e as desempregadas participem activamente no combate à crise e ao défice, só a boateira ocupava o espaço hertziano. Nunca gostei de discriminações e por isso andava triste e a sentir-me preterida.
Mas hoje acordei com um sorriso estampado na cara. Lembraram-se finalmente de mim e do resto da malta e anunciaram o pacote solidário de combate à crise, ao défice e de apoio ao PEC: aumento da taxa normal do IVA de 20 para 21%; da reduzida (bens alimentares, de primeira necessidade e culturais) de 5 para 6%; e da intermédia (aplicada, por exemplo, à restauração) de 12 para 13%. Subida do IRS de 1% nos ordenados até cinco salários mínimos (2375 euros) e de 1,5% acima desse valor. Infelizmente, quem ganha o salário mínimo, ou menos, só poderá contribuir por via indirecta, através do IVA.
Os políticos e gestores públicos contribuirão com 5% de redução salarial. E a banca também vai ajudar com 2.5% sobre os seus lucros.
Há que referir, no entanto, que os desempregados e as desempregadas continuam a ser os queridinhos e queridinhas dos Primeiros-Ministros: além de poderem contribuir através dos cortes nas prestações sociais, ainda lhes é dada a oportunidade, nada despicienda, de aumentarem a sua participação através do IVA.
Era, pois, justo que os Primeiros-Ministros, em jeito de política para a igualdade, se deixassem de balelas e propusessem de facto os cortes no 13º e 14º meses. É que os desempregados e as desempregadas não são mais do que o resto da malta e nada lhes dá o direito de contribuírem mais do que os outros.

6 comentários:

Albuquerque disse...

Só posso considerar este seu post uma forma simpática de brincar. Eu que me desloco 200 km (ida/volta) para trabalhar diariamente e gasto cerca de €20, incluindo alimentação e outros, por dia, ganho limpos €1000, se descontar os tais €20x22 dias, por dia dá €440, ora restam-me €560. Mas, tenho que me levantar às 6 da manhã e regresso a casa por volta das 20h00, 21h00. Se 19000 postos de trabalho ficaram por preencher porque há quem se dê ao luxo de não os aceitar... Andam sempre os mesmos a pagar para aqueles que nada fazem, ou não querem fazer, com as devidas ressalvas aos que, infelizmente, querem e não podem, claro! Cortem no nº de deputados para o minimo previsto na CRP para 180, reduzam salários, prémios e ajudas de custos, motoristas, cartões, etc..., aos Ministros e aos gestores públicos. Agora, aos que têm que utilizar todos os seus meios para prestar trabalho, serem os que mais contribuem. Não, por favor!

Andrea Peniche disse...

Evidentemente que estou a ironizar!
Peço-lhe, no entanto, que tenha atenção aos ditos postos de trabalho que ficam por ocupar. A maioria deles não o são de facto. As histórias de postos de trabalho oferecidos pelo IEFP que na realidade não existem são várias. As remunerações oferecidas por algumas dessas ofertas de emprego, feitas as contas a 40 horas semanais, ficam abaixo do salário mínimo. Enfim, esses números servem para colocar o ónus nas costas dos desempregados e das desempregadas. Que há quem não queira trabalhar é verdade, mas não confundamos a excepção com a regra.

Frederica Jordão disse...

Cara Andrea, lamento que te tenhas esquecido de um grupo extremamente importante no combate à crise: o das bolseiras/bolseiros e estagiárias/estagiários. Porque também nós estamos activamente empenhadas e empenhados na resolução desta crise. Com o dinheiro das nossas bolsas, felizmente livre de quaisquer descontos ou contribuição para a Segurança Social, poderemos continuar a patrocinar - em mais 1% nos bens essenciais e intermédios - a recuperação do nosso país, embora ultimamente sejamos menos (não sei porquê, talvez haja mais gente a seguir a via de ensino). É pena que haja tanta discrimação por aqui: como se o nosso trabalho fosse invisível - que não é, não é, não senhora, e toda a gente sabe disso!

Andrea Peniche disse...

Frederica, penitencio-me (13 de Maio é um bom dia para penitências!) pela obliteração de tão importante sector social. Alegra-me, no entanto, que também vocês possam contribuir para este desígnio nacional que é o combate à crise em sentido unívoco. Mas trago-te boas notícias: o aumento da taxa reduzida do IVA (de 5 para 6%) abrange os livros! Assim, se continuares a comer e a trabalhar serás reconhecidamente uma portuguesa empenhada.

Frederica Jordão disse...

Oh, alegria maior! Obrigada, Srs. Primeiros Ministros! E se o bom Paulo Portas quiser estender a proposta da cedência de um mês de salário também a este sector, estamos à disposição!

Jorge Neves disse...

As notícias não são boas e o ministro das Finanças já avisou: as medidas de contenção que o Governo vai implementar são "impopulares" e os "portugueses não vão gostar".
Com estas alterações das medidas que fiz a negrito, diminuía a impopularidade, e não sufocava quem menos rendimento tem.
• Imposto especial sobre rendimentos dos trabalhadores
Os salários serão sujeitos a mais uma taxa de imposto. Quem recebe um salário mínimo (475 euros) ou menos está isento desta nova taxa. Quem tem rendimentos de 1500 até 2375 euros (o equivalente a cinco salários mínimos) paga 1% a mais todos os meses - o que representa, no máximo 23,75 euros. Quem ganhar acima deste valor, é taxado em mais 2,5%.
• Todas as taxas de IVA aumentam um ponto
Os impostos sobre o consumo vão ficar mais altos. A taxa normal de IVA regressa aos 21% e todas as outras aumentam também em um ponto percentual. Ou seja, a taxa reduzida de 5% passa a 6% e a de 12% passa a 13%. O aumento da taxa do IVA é a receita mais utilizada pelos Governos para conseguir baixar o défice. Em 2005, o Governo subiu para 21%, em 2008 baixou para 20%.
• Empresas pagam mais 2,5 pontos de IRC
Não são só os trabalhadores por conta de outrem que serão chamados a pagar. Também as empresas terão de contribuir para o esforço de consolidação do défice orçamental. Este ano, o IRC a pagar será acrescido de 1,5 pontos percentuais. Até agora, as empresas com matéria colectável até aos 12.500 euros pagavam 12,5%, (passa a 14%) As restantes estavam sujeitas a uma taxa de 25%, (passa a 26,5%).
• Corte de 5% nos salários dos titulares de cargos públicos
Gestores públicos, autarcas, deputados, reguladores de mercados e responsáveis pelas empresas municipais terão todos o salário reduzido em 10%. A medida foi proposta pelo PSD e o objectivo seria mostrar que todos serão chamados a contribuir. Com esta medida, o aumento de 2,9% dado a estes profissionais no ano passado será mais do que eliminado.
• Cortes na despesa com autarquias e RTP
Como forma de reduzir as despesas, as transferências para as autarquias serão reduzidas em 50 milhões de euros, bem como a indemnização a transferir para a RTP. Do mesmo modo, haverá uma redução da aquisição de bens e serviços. No total, estes cortes na despesa, juntamente com a redução nos salários, permitirão poupar cerca de mil milhões de euros ao Estado.

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