o castigo

Há pessoas que só não me irritam todos os dias porque, felizmente, não sei o que pensam quotidianamente. Um desses casos é Miguel Oliveira da Silva (MOS).
Desde que é presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida que MOS teve, pelo menos, duas intervenções públicas que considero tóxicas.

Em finais de Junho deste ano, MOS defendia, em entrevista a um jornal, a revisão da lei do aborto. Sobre isso pronunciei-me aqui.

Ontem, MOS foi ouvido, por sugestão do PSD, no grupo de trabalho que analisa os projectos de lei do Governo e do Bloco de Esquerda sobre transexualidade e defendeu a esterilidade dos transexuais e o impedimento de mudarem o registo civil se mantiverem os órgãos reprodutores.
«É altamente aconselhável que se realize a cirurgia total antes da mudança de sexo e nome no registo», são palavras suas.

MOS não compreende que há transexuais, transgéneros, pessoas que podem ou não querer mudar de sexo, assim como não compreende que falamos de identidade de género e não de genitais.

Até hoje acreditei que Cavaco Silva era o único português que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, mas, afinal, não está sozinho. Só assim se compreende que MOS tenha a ousadia de defender a irreversibilidade da transexualidade.

Há, no pensamento pequenino de MOS, uma ideia recorrente: o castigo. Por isso, castiguem-se as mulheres que têm comportamentos sexuais que não cabem na sua cartilha moral; castiguem-se os/as homossexuais proibindo a adopção; castiguem-se os/as transexuais impondo-lhes o absolutismo cirúrgico.

Quando MOS for capaz de perceber que a cartilha pela qual se rege até pode ser muito certa para orientar a sua acção mas não tem por que ser imposta às outras pessoas; quando resolver levantar os olhos do seu adorável umbigo e se der ao trabalho de perceber que há mais umbigos no mundo; quando tiver a delicadeza de não se pronunciar sobre assuntos cuja complexidade ultrapassa a sua disponibilidade para os conhecer e entender, então, talvez aí, tenha respeito pelas suas opiniões. Até lá, agradecia que não intoxicasse os meus dias.

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