sopinha

Sou suspeita de falar nestas coisas: fui criança no período revolucionário e frequentei sempre a escola pública. Talvez por isso não me repugnem nem os piolhos nem os lampiões no nariz e ache até ao interclassismo uma certa graça. Deve ser por essa razão que quando vejo as mãezinhas e os paizinhos empenhados na defesa do privilégio das suas crianças fico aborrecida.

Como um grupo de jornalistas se dedicou a fazer jornalismo, hoje podemos afirmar que é falso o argumento de que não há alternativa pública à maioria das escolas privadas: Só 18 escolas privadas, das 94 com contrato de associação com o Estado, ficam a mais de 15 quilómetros de uma pública com o mesmo grau de ensino. (...) Cerca de 20 estabelecimentos privados ficam até a menos de um quilómetro dos seus equivalentes no público.

Nada tenho contra as escolhas privadas pelo ensino privado. Cada um come do que gosta, mas há um prato, a sopinha, que tem que fazer parte de todas as refeições equilibradas. E a responsabilidade do provimento da sopinha é do Estado. Assim, se os papás e as mamãs não gostam da sopinha pública podem escolher a sopinha privada, não podem é pedir legumes subsidiados quando há sopinha pública à espera da sua prole.

O problema da sopinha é que ela não chega para todos os meninos e meninas. Sócrates prometeu uma rede pré-escolar com capacidade para acolher todas as crianças com 5 anos. Acontece que as criancinhas, pasme-se, precisam de sopinha desde que nascem. E creches e infantários públicos é coisa que, na esmagadora maioria das localidades, ou não existe ou não abunda. A pouca resposta pública que há não chega para a cova de um dente. Por isso, era bom acabar com a subsidiodependência das escolas privadas e investir a sério nas creches e infantários. Acho que isso se chama igualdade de oportunidades.

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