eu votei SIM

Há quatro anos era domingo. Um dos domingos mais importantes da democracia portuguesa. Há quatro anos, o SIM à despenalização do aborto vencia nas urnas o obscurantismo. Há quatro anos, o País dava um passo de gigante, tardio, mas dava-o.

Ontem, a Federação Portuguesa pela Vida entregou na Assembleia da República 5500 assinaturas a pedir a revisão da lei do aborto e inventou números sobre os custos da mudança legislativa.

Há quem tenha dificuldade em perceber que a máquina de calcular deve ficar fora das contas dos direitos humanos. O voto universal, por exemplo, deve ser bem mais caro do que o voto limitado aos cidadãos maiores de 21 anos que sejam chefes de família ou que saibam ler e escrever.

Há quem use o terror contra o exercício de direitos e há quem tenha dificuldade em perceber que há direitos que não voltam para trás. A lei pode ser melhorada e, evidentemente, que há muito caminho a trilhar. No entanto, gosto de crer que, em matéria de direitos humanos, o mundo não anda às arrecuas.

Quatro anos depois ainda é preciso lembrar que a lei não obriga ninguém a abortar; que a única alternativa coerente a esta lei é a proibição total do aborto; que houve mulheres perseguidas, julgadas e condenadas; que as mulheres não pertencem ao reino da infantilidade e são capazes de tomar decisões ponderadas sobre as suas vidas.
Contra o esquecimento, fica aqui o lembrete.

Um comentário:

paulita mulher metálica disse...

Contra o esquecimento, é preciso sempre lembrar que a luta foi dura. E está cá o teu belo livro para lembrar aos vindouros como foi. Ainda tenho o cartaz EU MANDO NA MINHA BARRIGA E TU MANDAS NA TUA - estava para o queimar, se a lei fosse aprovada por já não fazer sentido a existência de tal objecto, mas como tu mesma me disseste, " tens de guardar o cartaz, pertence à história das mulheres em POrtugal". Está bem guardado, e espero nunca mais voltar a ter de o usar em Portugal. Abraço de aço, Paula

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