diz que quer um novo referendo



Eu sei que as sondagens que anunciam um empate técnico lhe dão cabo dos nervos; eu sei que José Sócrates é um osso duro de roer; eu sei que as percentagens do CDS o fazem tremelicar, mas, com os diabos, não verta sobre os nossos ovários a sua incomodidade, Pedro Passos Coelho.

O tema do aborto é mesmo o único assunto de que guardo boas lembranças suas. Defendeu a descriminalização do aborto e isso ficou-lhe bem; provou que nem sempre as coisas se dividem entre esquerda e direita; às vezes elas dividem-se entre democracia e talibanismo.

Eu bem sei que as sondagens indiciam a probabilidade de ter que fazer fretes à direita das direitas; e, sim, já não é a primeira vez que Paulo Portas coloca em cima da mesa a questão do aborto como moeda de troca para a ajudinha que o PSD tanto precisa para ir para o poleiro. Mas, tenha lá paciência, se achava a clandestinidade miserável, se achava que as mulheres podiam interromper a gravidez, não se venha agora armar-se em polícia dos costumes.

A mim também me chateia que haja mulheres reincidentes na prática de aborto. Estão, do meu ponto de vista, a escolher mal, estão a escolher prejudicar a sua saúde. Porém, não me passa pela cabeça apontar-lhes o dedo e ameaçá-las de prisão ou com uma nova clandestinidade sacada de um referendo inventado para conquistar votos à direita. O que me passa pela cabeça, e deixo-lhe a sugestão, é tentar perceber a razão do encaminhamento para o planeamento familiar e a contracepção, apesar de existir, falhar.

Diz o Pedro Passos Coelho que «hoje, é muito fácil as pessoas poderem evitar esse tipo de situações, desde que actuem com alguma rapidez, desde que o Estado e a sociedade dêem informação necessária às pessoas». Eu gostava de acreditar nisso, mas, infelizmente, a realidade contradi-lo a cada momento. Sabe, é que entre a informação e a alteração de práticas vai uma distância enorme. E não sou eu quem o diz. Se se der ao trabalho de ler algumas coisinhas que as ciências sociais vão produzindo, perceberá que esta «pólvora» já foi descoberta há muito tempo. Caso contrário, não haveria, por exemplo, novos casos de SIDA nem condutores ao volante completamente embriagados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário