sobre os resultados eleitorais

Tenho lido muitos comentários sobre os resultados eleitorais do Bloco. Uns certeiros e bem intencionados e muitos outros canibalescos. Desde o seu aparecimento que a morte do Bloco de Esquerda vem sendo anunciada. A realidade contradisse sempre a profecia. Aqui chegados, perante a primeira grande derrota, convém que, como diz e com muita razão o Nuno Ramos de Almeida, a discussão seja séria para que se possa aprender alguma coisa com isto.

O Bloco perdeu metade dos seus deputados e milhares de votos. Contra isto não há argumentos. No entanto, e paradoxalmente, esta foi uma das melhores campanhas que o Bloco fez: empenhada, certeira nos argumentos, propositiva. O Bloco apostou tudo na renegociação da dívida, uma alternativa às imposições da troika, mas ficou sozinho no debate. Os partidos do arco do FMI blindaram a discussão e a imprensa calou-se. O ódio venceu a razão e muitos dos que quiseram acima de tudo correr com Sócrates não tiveram o cuidado de olhar para o preço a pagar por uma maioria de direita.

A campanha teve fraquezas. A ausência de temas capazes de chegar a pessoas menos familiarizadas com os assuntos económicos é, na minha perspectiva, uma delas. E o Bloco não conseguiu compreendê-lo a tempo de reajustar a campanha. Porém, as razões mais importantes para o desaire eleitoral, sinalizadas pelos fazedores de opinião de direita e de esquerda, foram o apoio a Manuel Alegre, a moção de censura e a não-reunião com a troika. O curioso em toda esta questão é que os mesmos que calaram a discussão sobre o que era essencial nesta campanha, a renegociação da dívida, se entretiveram a esgravatar estas questões. Aquilo que o Bloco propôs como alternativa às políticas do presente e do futuro, não despertou interesse nenhum; já o passado, mesmo que recente, funcionou como melaço.

Talvez a coisa seja mais estrutural do que faltar a uma reunião e ter feito uma moção de censura pouco clara. Essa é a discussão que interessa e que temos pela frente. Tudo o resto é fogo de artifício.

3 comentários:

Anônimo disse...

dizes "Talvez a coisa seja mais estrutural do que faltar a uma reunião e ter feito uma moção de censura pouco clara. Essa é a discussão que interessa e que temos pela frente. Tudo o resto é fogo de artifício."
Onde é feita essa discução na Comissão Politica do Bloco? tudo o resto é pinhal ardido??

Andrea Peniche disse...

Anônimo,

Você é um incendiário!
Ao contrário do que diz, a discussão está a ser feita nos órgãos do Bloco. Digo-lhe isto porque eu já participei numa reunião e já tenho mais duas marcadas na agenda.

Anônimo disse...

Não Andreia, não sou incendiaria. Sou bombeira. Mas confesso que estou cançada.

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