Na semana passada, um ano após a sua morte, João Martins Pereira foi homenageado numa sessão decorrida na recém-inaugurada Casa da Achada. Junto-me ao coro daqueles que não se conformam com o esquecimento de uma das mais singulares vozes da esquerda portuguesa da segunda metade do século XX, remetendo para um luminoso texto de Maria Manuela Cruzeiro acabado de publicar, dedicado a No Reino dos Falsos Avestruzes. Aproveitando a embalagem, aqui vos deixo um excerto deste livro que infelizmente já só se encontra nas estantes esconsas dos alfarrabistas (e que nos inspira a olhar mais para Sartre do que para Lenine):
Recordo aqui, a propósito, uma interessante distinção assinalada por António José Saraiva, há muitos anos, num artigo de jornal sobre a tradução portuguesa do francês «engagement». Propunha ele uma dupla tradução, correspondente ao duplo sentido da palavra original: por um lado, alistamento, por outro, empenhamento. Alistamento corresponderia ao «engagement» numa tropa, numa organização, num partido. Pressupõe uma adesão a regras pré-estabelecidas, uma atitude dominantemente passiva, «irresponsável». Ao contrário, o empenhamento é uma auto-mobilização de natureza emotivo-intelectual, uma atitude activa em que assumimos perante nós e perante os outros uma total responsabilidade, o risco de não termos quem nos «cubra» em juízos, afirmações, decisões, actos em que nos jogamos por inteiro.
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