Diminuição da desigualdade?

Vale a pena seguir o Observatório das Desigualdades, pelo repositório de informação que condensa e pelo tratamento que dela faz. Alguns dos dados não constituem grande surpresa: Mulheres portuguesas têm maiores níveis de escolarização do que os homens mas são mais afectadas pelo desemprego e pobreza ou Risco de pobreza: o efeito negativo do desemprego.

Mas um outro artigo atraiu a minha atenção: Desigualdade na distribuição do rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres tem vindo a diminuir desde 2004, mas em 2008 atingia ainda a casa das dezenas. Contra-intuitivo? Pois parece. A redução da desigualdade é pequena, a série temporal é curta e termina em 2008 (dados provisórios) o que não permite incorporar o sucedido desde a crise económica, posterior aumento de desemprego e a expectativa de redução nas prestações sociais que possui efeitos (embora limitados) na redistribuição do rendimento. Portanto, mesmo que seja uma descrição fidedigna, a realidade pode ter já mudado.

Mas para além do escrutínio necessário da metodologia utilizada na construção destes instrumentos de medida, é importante não ignorar a economia política da coisa, ou seja, que as desigualdades resultam de campos estruturados de relações sociais que permitem aceder a recursos e a graus diferenciados de liberdade conforme o seu posicionamento nesses mesmos campos.

Especulo. Que efeito poderia ter na «diminuição das desigualdades» o aumento das «poupanças» nos off-shores, eufemismo para designar dinheiro não tributado e na maioria dos casos não declarado? Sabemos que os peixões não gostam muito de ter o dinheiro aqui parado, à mão de semear e de tributar.

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