"Esta catástrofe demográfica faz de nós um povo em vias de extinção e ameaça a nossa herança e cultura."

Várias poderiam ser as citações a retirar de mais uma delirante e divertida crónica de João César das Neves. Por estes dias, qualquer pessoa de bom senso não faz outra coisa que não ignorar por completo JCN e as suas descompensações que, mais do que episódicas, parecem ser a regra. Ora, eu não sou uma dessas pessoas. De uma assentada, como é costume, insurge-se contra o aborto, a lei da procriação medicamente assistida, o divórcio (que relaciona directamente a fenómenos como insucesso escolar, depressões, miséria e crime), as uniões de facto, o casamento de pessoas do mesmo sexo, as praias de nudistas (!) e compara estes processos legislativos às obras de Nero, Napoleão e Hitler. Enfim, que o senhor é um prato já se sabe. Nada de novo. Mas se utilizo esta citação de JCN (penso que é a primeira vez que falo publicamente do respeitável senhor de barbicha), faço-o com um propósito muito claro.

Fora os delírios que não convencem senão os que já estão convencidos, um tipo de argumento contra este tipo de medidas de liberalização da vida privada é especialmente inquietante: o demográfico. Se consigo perceber o argumentário assente numa posição moral de defesa da vida contra o aborto, por exemplo, mais difícil de engolir é a patranha de que os projectos de vida das pessoas devem estar sujeitos à prossecussão de um desígnio nacional. Não falo da ridícula afirmação de que os portugueses estão em vias de extinção mas da ideia que suporta este argumento e que repetidamente é invocada. É uma ideia que esquece por completo que barrar os caminhos do divórcio, das uniões de facto, do aborto, do casamento e da procriação medicamente assistia é sentenciar pessoas à infelicidade. Esta é uma sentença que obrigou mulheres a sujeitar-se a situações insuportáveis de violência, que obrigou pessoas a viverem o seu amor na marginalidade. É uma sentença que não pode ser decretada em nome da demografia. É uma sentença estúpida defendida por este imbecil que ainda tem a lata de falar em monstros.

3 comentários:

Andrea Peniche disse...

Pela estatização dos úteros, marchar, marchar!

Xavier disse...

Diogo,
"É uma ideia que esquece por completo que barrar os caminhos do divórcio, das uniões de facto, do aborto, do casamento e da procriação medicamente assistia é sentenciar pessoas à infelicidade."

Depreende-se deste seu argumento que não deve haver condições para a prossecução da liberdade individual a não ser o próprio consentimento do/s sujeito/s envolvido/s.
Nesse caso, os unicos critérios aceitáveis para o julgamento de determinada opção ou comportamento são meramente utilitários. Seguindo esta lógica, o estado não teria qualquer base para negar ao indivíduo o direito ao suicídio, ou a um tipo de eugenismo que contemplasse a escolha das características físicas dos filhos por catálogo, ou ao casamento poligâmico, e por aí adiante.
Note que apenas estou a dizer que a felicidade individual, ou seja, o consentimento esbarra inevitavelmente em condições estipuladas pela comunidade. A tarefa é compreender, através de uma discussão que foge necessariamente a uma dimensão meramente prática ou utilitária e se situa no plano ético, se essas condições têm ou não razão de ser.

Cumprimentos

Anônimo disse...

RELATIVISMO MOVEDIÇO:O argumento principal que os relativistas tentam usar é o da tolerância. Eles afirmam que dizer a alguém que sua moralidade é errada é intolerante, e relativismo tolera todas as posições. Mas isso é simplesmente um engano. Antes de tudo, o mal nunca deve ser tolerado. Devemos tolerar o ponto de vista de um estuprador de que mulheres são objetos de gratificação a serem usadas? Segundo, esse argumento se destrói porque relativistas não toleram intolerância ou absolutismo. Terceiro, relativismo não pode explicar porque qualquer pessoa deve ser tolerante em primeiro lugar. O fato que devemos tolerar pessoas (mesmo quando descordamos) é baseado na regra absoluta moral que devemos sempre tratar as pessoas justamente – mas isso é absolutismo de novo! Na verdade, sem princípios universais morais, a bondade não pode existir. www.gotquestions.org -

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