A associação sem-abrigo e a capital dos arrumadores

A “Associação Volta a Casa” das Caldas da Rainha, que serve refeições a sem-abrigo, ficou sem abrigo para servir estas refeições. A Câmara Municipal deste concelho decidiu correr com ela das instalações porque, segundo o presidente da Câmara local, a instituição “está a transformar-se num problema e não numa solução.”

Problema porquê? Aparentemente porque “atraem à cidade dezenas de arrumadores de outros locais do país” (a notícia cita indirectamente a PSP e o governador civil de Leiria e directamente o presidente da Câmara que chega a afirmar que há arrumadores do Porto que vêm para as Caldas à conta destas refeições).

Ou seja, ao que parece o problema é a associação cumprir aquilo para o qual foi criada, é haver muito quem recorra e sobretudo haver na Câmara a ideia mirífica de que devido a uma associação prestar solidariedade em forma de refeições a sua cidade se está a transformar numa capital dos arrumadores. Sendo que o raciocínio do Presidente da Câmara implica que todos os que recebem esta ajuda serão toxicodependentes e que todos os toxicodependentes são criminosos, dizendo o mesmo: “ninguém está contra a ajuda humanitária às pessoas, mas alguém quer mais instabilidade nas Caldas? Querem mais assaltos, querem mais roubos por esticão?”

Será que fechar estas portas serve para resolver a criminalidade ou a exclusão? Será que estigmatizar ainda mais a pobreza contribui melhora a vida de alguém?

Quem leva estes fantasmas destas cabeças?


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