Os amigos e as ocasiões

O embuste do «interesse nacional» merece ser todos os dias escavacado: sabemos exactamente a que interesse e a que nação diz respeito. Também não vale agora a pena discutir até que ponto o seu sentido pode ou deve ser disputado no debate político corrente. Por mim, até ponto nenhum: prefiro a luta de classes. Mas quando a reacção de Ana Gomes à convergência das esquerdas baseia no «interesse nacional» a importância da inclusão do BE e do PCP em novos consensos políticos que respondam à crise (e, a bem dizer, redireccionem a austeridade para onde é justa e precisa), não deixo de, enternecido, reconhecer que quem é vivo sempre aparece. Reduzam o gesto a mero foguetório ou tesão do mijo - e terão toda a razão.

Esta ideia cancerosa (bom dia Manuel Alegre) de ganhar a ala esquerda do PS para a contra-hegemonia não deve cair, e será bom sinal se ouvirmos ad nauseum o elegantíssimo adjectivo histérica para acarinhar Ana Gomes - é porque certamente está a a fazer um bom trabalho, como de resto tem feito. Mas não me venham com beijinhos inconsequentes. Já a multiplicidade de orgasmos em torno da "aproximação" entre o BE e o PC também tem muito que se le diga, não tem que se le? Quais as divergências na política económica de resposta à austeridade? Afinal divergiam? Assim tanto? E o que é convergir? É formar um novo partido? É marcar uma manif conjunta? É cantar a Internacional? Se a ideia é fazer política, tudo bem, se é brincar à unidade, tende lá paciência, mas eu não me dou com comunas.

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