Envergonhados

A proposta de referendo ao casamento homossexual trouxe um importante efeito colateral. Os defensores da «vida», da «tradição» e da «família» concentram-se agora na legitimidade do referendo (e na ilegitimidade da AR) e suspenderam por momentos o argumentário apocalíptico. A plataforma referendária chegou mesmo a dizer que não é contra nem a favor dos casamentos homossexuais - o que o currículo dos seus promotores, a escolha dos locais de recolha de assinaturas e os textos incluídos no site, não só desmentem como tornam ridículo. Na verdade, tudo isto me dá pena. Esperava um final em grande estilo, daqueles em que o fragor aproximado da derrota final traria a transparência das opiniões. Conservadores envergonhados, é o que são.

Ficaríamos por aqui se a lei apresentada pelo PS não fosse, ela própria, um passo envergonhado: dá o casamento mas retira a adopção. E a roçar perigosamente a inconstitucionalidade, o que pode acarretar um indesejável impasse na aplicação da lei. Como tenho lido alguns socialistas afirmarem-se favoráveis à adopção, estou curioso por saber quantos, perante essa possibilidade concreta, irão votar a favor dos projectos-lei que o proporcionam. Ou serão socialistas envergonhados?

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