"Gatekeeping" ou "O Bourdieu é que a sabia toda"

A sessão começou mais ou menos mortiça mas não demorou muito até que o primeiro mandasse a primeira bujarda à internet. Zás! Toma lá! A internet é a grande culpada pela perda de importância dos críticos musicais, a internet é povoada por um bando de adolescentes cheios de sede de protagonismo que mandam meia dúzia de patacoadas sobre música não fazendo a mínima ideia do que estão a dizer, a internet é um espaço fechado ao contrário dos jornais(!), a internet pôs o jornais em crise e os jornais, matreiros, disponibilizam cada vez menos espaço à crítica musical, os críticos são mal pagos por causa da internet. Enfim, foram umas a seguir às outras. O título da sessão era "Gatekeepers e 'grilos falantes': as funções da crítica musical" e os críticos, muito orgulhosos da sua inestimável acção enquanto guardiões de um portal (desculpem lá mas portão não me soa nada bem aqui), bradavam aos céus por não receberem o reconhecimento merecido, por estarem a guardar um portal às moscas e, mais do que tudo, por haver um bando de badamecos na internet que faz com que tudo pareça muito fácil e dá de graça aquilo que eles tentam vender.

"Aquilo"? Não. Essa gente que debita opiniões não pode ser inserida verdadeiramente na categoria dos críticos. Porquê? Não se sabe muito bem. Entre dizer que eles não escrevem em jornais (que utilizaria os mecanismos de recrutamento de recursos humanos dos jornais enquanto legitimadores de críticos) e dizer que, no campo da crítica, o grupo outrora hegemónico está a perder a hegemonia em detrimento de um grupo de bandalhos (que nem sequer têm a honra de serem considerados críticos) por razões que não percebem, optaram por continuar a lamuriar-se e a dizer mal dos ingratos que não lhes agradecem o suficiente.

O que esta gente não percebe é que o portal que guardam está cada vez mais às moscas porque ao longo do muro, com a massificação da internet, foram sendo abertas brechas, portas, portinholas, janelas e janelinhas. Ou seja, as fontes de produção artística com acesso ao espaço público multiplicaram exponencialmente e, para o bem e para o mal, são precisamente os badamecos da internet que conseguem dar conta do recado e de manter a contabilidade sobre quem entra e quem sai dessa multiplicidade de brechas. O potencial consumidor precisa cada vez menos de alguém que lhe diga o que é bom e o que é mau. Antes, com a quantidade esmagadora de informação, precisa de quem consiga construir e actualizar permanentemente as cartografias das brechas. Os críticos não estão a ser capazes de o fazer e agora queixam-se que guardam uma passagem por onde ninguém quer passar. Temos pena.

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