Quem não vive aqui não se aperceberá da dimensão do problema, mas é notório para os habitantes de Coimbra que a cidade sofre de um «complexo de inferioridade». Como é sabido, um primeiro sintoma da magreza de horizontes é a auto-afirmação grandiloquente: na boca dos poderes locais, Coimbra é a Lusa-Atenas, a capital do conhecimento e da saúde, o reduto do fado autêntico, a fonte primeva do bem-falajar. A verdade é que essa imaginação da «centralidade» é quase sempre feita, não por meio de um discurso cosmopolita e aberto às novas dinâmicas sociais e culturais, mas através do recurso ao específico, ao pitoresco e ao “tradicional”. Houve mesmo um vereador da cultura que só lido e uma ponte que deixou de se chamar “Europa” para ser baptizada de “Rainha Santa”. Todo este relambório para dizer que neste preciso momento o Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra está a promover uma conversa sobre “vivências do meio universitário” com o Dux Veteranorum – para quem não sabe, é o pior aluno da Universidade, apresentado no cartaz como “chefe máximo dos estudantes da Academia de Coimbra” – devidamente acompanhado por um “caloiro”, qual alegoria hegeliana do senhor e do escravo. Peço desculpa por não ter avisado mais cedo, mas perdi-me em busca da ilustração indicada.
Nos ombros de gigantes
Há 7 horas
16 comentários:
Eu bem te digo que te ponhas a milhas e venhas para Lisboa! Mas se és masoquista...
tanta tradição junta não é nada bom prá saúde
txii, o dux ainda é esse gajo.
Joana: não me desgraces ;-)
drmaybe: assino por baixo; também acho que a metáfora do bolor e da penincilina tem os seus limites.
João: foi exactamente a primeira coisa que me ocorreu.
O Dux ainda está grisalho ou já tem o cabelo todo branquinho? Subscrevo o texto inteiramente e olha que não é facil um sectário como eu concordar com um texto inteiro. Até à festa do salão de chá... esperemos que a bebida dure até à meia noite! Abraço
O dux ainda é o mesmo, Renato. Vai aparecendo por aqui que a maltinha também te anda a ler no Cinco Dias. E até este fim-de-semana, no salão de chá!
Uma estratégia de modernidade para Coimbra terá de passar por assumir-se como capital da corrupção. Mas não está fácil.
Isso não é fácil, João José. Até porque a concorrência é grande.
De 1969 até hoje foram 40 anos a andar para trás, no que respeita ao "estudante festivo" e ao "folclore"...
Quanto ao desafio da Joana, acho que não se deve "desertificar" Coimbra (nem outros locais da actual "paisagem" portuguesa), antes nutri-la de gente que substitua símbolos.
São muitos séculos, Jorge! Só com MUITA gente a ir para lá. Chineses?
A propósito da proposta despudorada da Joana ao Miguel:
Deixe cá ficar alguns. Coimbra, apesar de tudo e embora a enorme desgraça que nela grassa, precisa de algum Welfare State. Embora compreenda o desvio proposto e compreenda. Mas que coisa, querem que fiquemos só com a "inenarrabilidade" dos acontecimentos que os nossos olhos presenciam e isso não pode ser! Abaixo a imigração "prá" capital.
Quanto aos dux's deste mundinho já não há papel que aguente a enormidade da cartola.
Carlos Freitas
Eu sou muito Bracarense e nunca, nunca pus a hipótese de não trabalhar em Braga. Acho que Porto, Coimbra e Lisboa já têm lá bons profissionais e que na minha área tinha de investir na minha cidade. Por razões profissionais e após um convite de uma amiga de Coimbra pus pela primeira vez a hipótese de ir trabalhar para Coimbra este ano. Então desaconselha? Por acaso, disseram-me que Coimbra está mais provinciana que Braga (sim Braga modificou-se muito de alguns anos a esta parte, apesar de várias coisas continuarem iguais, e nem todas boas).
Não desaconselho, Henedina. Coimbra é muitas. Como Braga. Há muitas e amplas margens para além destes discursos "oficiais". Temos é de os gramar, volta e meia.
obrigada pela lucidez. continuem, por favor. excelente blog by the way. parabéns!
Sobre esta conversa do dux sobre vivências devo informar-vos que li notícia no "As Beiras" que me parece poder ser útil alguém que seja assinante digital desse diário aqui introduzir. Isto porque a referida notícia dá conta de declarações sobre as "festas académicas" muito interessantes porque depreciativas do seu "status quo" actual... qalquer coisa como serem a Latada e a Queima um autêntico maná económico financeiro nos quais se inserem um ou outro tema "tradicional" só para não parecer mal e a face fiduciária das festanças se revelar na sua plenitude...
Não é preciso grande perspicácia para proferiu uma afirmação dessas...
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