O meu Sonho: Enriquecer com a Cultura
Os preguiçosos
Tínhamo-nos já habituado a que as elites alemãs fizessem passar a ideia de que os portugueses, tal como os gregos, são calões. Mas, agora, um governante chinês tratou de alargar o estereótipo. Para ele, todos os europeus são mandriões, não querem trabalhar e vivem de papo para o ar na praia.
Alguns sentir-se-ão vingados ao ver os alemães assim enxovalhados e colocados ao nível tuga da indolência, procurando tirar a desforra possível face a Merkel e amigos. Aos olhos dos outros, somos todos preguiçosos.
Mas pode ler-se também aqui o que se revela e desvela sobre os preconceitos nacionalistas das preguiças alheias que justificam que, a bem da nação, haja cada vez menos direitos; sobre esta economia da baixa tendencial dos direitos dos trabalhadores; sobre a capacidade de penetração desse discurso da preguiça servido pronto a utilizar para que explorados/as o usem contra explorados/as (os desempregados não querem é trabalhar, os funcionários públicos têm um emprego mas não trabalham nada e por aí adiante); sobre a ideologia da preguiça como pecado capital contra o capital.
A crise acentua o discurso da exploração produtivista e moralista como se não houvesse alternativa.
Já no século XIX, Paul Lafargue procurava desmitificar a ideologia do trabalho defendendo “o direito à preguiça”. Numa sociedade que produz mais riqueza e bens de consumo que qualquer outra antes, continuamos longe do apelo que Lafargue repesca na frase de Lessing: “preguicemos em todas as coisas, excepto em amar e beber, excepto em preguiçar”.
Pois, no século XXI, estamos no patamar em que temos de voltar a lutar contra a ideia de isso do trabalhador ter direitos é uma coisa de preguiçosos.