Futebol e a paz entre os povos

Agora que os espanhóis mostraram que têm mau íntimo (que, se pensarmos na urgente situação de Olivença, já não é novidade nenhuma) ao derrotarem a nossa selecção, resta-nos uma decisão: quem devemos apoiar? Os arrogantes dos franceses e os irritantes dos italianos já nos fizeram um favor em ir de vela. Resta-nos esperar que os estúpidos dos alemães percam com o mal menor que é a Argentina e que os brasileiros, esses nossos irmãos quando têm residência no Brasil, ganhem esta porcaria.

G20/Toronto: Aonde é que pára a polícia?


O fotojornalista Joe Wenkoff acompanhou uma centena de encapuzados no cortejo dos "black bloc" que durante hora e meia atravessou tranquilamente 24 quarteirões do centro de Toronto, partindo montras e incendiando alguns carros de polícia "plantados" nos cruzamentos. Essas foram as imagens que chegaram às televisões de todo o mundo para justificar a repressão policial que se seguiu sobre a grande maioria dos manifestantes. Com 20 mil polícias na cidade e quase 800 milhões de euros gastos na operação de segurança da cimeira, Wenkoff questiona-se sobre a cumplicidade policial - nalguns casos, bem activa - com os protagonistas das melhores fotografias que saem destas cimeiras.

Absentismo escolar? Suspende-se o abono de família.

Desta o nosso Bloco central ainda não se lembrou mas não deve faltar muito.

é tão bom voltar a casa

Parece que os virtuosos «navegadores» voltam a casa a tempo de participarem na grande festa de entrada do novo escalão do IVA e do IRS.
Já os espanhóis, esses ficam em África do Sul a gastar o dinheiro que não têm e a contribuir para o aprofundamento da crise em que também estão mergulhados.
Deviam ter vindo todos embora. Juntinhos. Poupava-se na pegada ecológica e quanto mais eles gastam, menos importam. E isso é mau para a economia portuguesa.

"Não vivemos acima das nossas possibilidades"

Vale a pena ler este artigo de Daniel Oliveira sobre um Estudo coordenado pelo ISCTE divulgado ontem e revelando, entre outras coisas, que o que nos permite não ter uma taxa de pobreza de 40% (é actualmente de 20%) são, pasmem-se, os apoios sociais.

Será que o Governo e, já agora, o "PPD PSD" leram este e outros estudos? O de Alfredo Bruto da Costa Um olhar sobre a pobreza , por exemplo, também lhes dava jeito e permitiria já agora ao CDS deixar de (só) ser, se é que consegue, demagógico e intelectualmente desonesto quando fala à boca cheia do Rendimento Mínimo. Mmhh...Não me parece.

Sim, esse mesmo governo que negoceia e subscreve uma Estratégia UE 2020 em que os Estados Membros se comprometem a reduzir de 25% o número de europeus/eias vivendo abaixo dos limiares de pobreza nacionais. Não estou bem a ver como pretendem lá chegar, se bem que ainda falta muito para 2020 não é? Na verdade, também não parecem ter grande noção que o salário médio em Portugal é de menos de 680 euros. Ah , e que estamos em 9º lugar no ranking europeu da pobreza. E que estamos no TOP 3 dos países mais desiguais da UE. Que apenas 9% dos/as nossos/as empresários/as têm uma licenciatura. Que 65% dos/as trabalhadores/as por conta de outrém tem um nível de instrução inferior ao ensino primário ou secundário inferior. Essas coisas que o António Barreto, por exemplo, sempre disponível para botar faladura poderia com o seu Retrato Social de Portugal actualizado dizer-lhes. Enfim, minudências ...

Fica aqui um excerto:

Este estudo diz nos duas coisas:
A primeira é evidente para quem conheça o País: os portugueses não vivem acima das suas possibilidades. Vivem abaixo delas. Há uma minoria, isso sim, que garante para si a quase totalidade dos recursos públicos e privados. Somos, como se sabe, o País mais desigual da Europa. Temos dos gestores mais bem pagos e os trabalhadores que menos recebem. Somos desiguais na distribuição do salário, do conhecimento, da saúde, da justiça. E essa desigualdade é o nosso problema estrutural. É esse o nosso défice. Ele cria problemas económicos - deixando de fora do mercado interno uma imensa massa de pessoas -, orçamentais - deixando muitos excluídos dependentes do apoio do Estado -, sociais, culturais e políticos.


Adenda: já agora também vale a pena ler esta notícia sobre o mesmo estudo e esta.

Obrigada, Dr. Rui Rio

Aos bocadinhos, o cinema independente e europeu foi abandonando a cidade do Porto. Primeiro foi o Nun'Álvares, depois o Cineclube e, finalmente, vão-se agora as quatro salas do Cidade do Porto.

Só a mobilização popular tem travado, ou adiado, este processo. Em 2007, um abaixo-assinado garantiu-nos as salas Medeia por mais três anos e o Cineclube do Porto começa agora a reestruturar-se após o surgimento de um movimento em sua defesa. Com programação contínua e poiso certo, resta-nos o Teatro do Campo Alegre, completamente à desamão e com fracas acessibilidades ao nível dos transportes públicos.

O Porto não tem público para o cinema? O que o Porto não tem é habitantes nem política cultural. Obrigada, Dr. Rui Rio, pelo seu enorme contributo.

Honduras: 1 ano depois

G20 em Toronto: Mais imagens que não passam no telejornal


Reportagem da Real News Network sobre a repressão policial aos manifestantes e jornalistas na cidade que acolheu a reunião do G20.

anita no conselho de ética para as ciências da vida




Miguel Oliveira da Silva (MOS) é presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) há cerca de nove meses.
Na entrevista que hoje deu ao Público fez algumas considerações que me fizeram perder a esperança que, de algum modo, tinha depositado no facto de este Conselho ter, finalmente, alguém minimamente de esquerda e pró-escolha à sua frente. Não sei se o problema é o CNECV ser tóxico se é o Miguel Oliveira da Silva ser retrógrado.

A escalpelização da entrevista daria pano para mangas. Eu vou centrar-me apenas em duas questões.

Sobre o aborto

«Quer-se evitar que o médico recuse, de manhã, fazer um aborto num hospital do Estado e o faça, à tarde, numa clínica privada. Mas isto faz com que muitos médicos que poderiam aceitar, nalguns casos, interromper a gravidez, (uma mulher que engravida com um dispositivo intra-uterino, ou que tem o azar que um preservativo se rompa, que tomou um antibiótico e não sabia que os antibióticos interferem no metabolismo da pílula, etc) o recusem porque sabem se forem fazer um, têm de fazer todos. (Há entre 75 a 80 por cento de médicos obstetras objectores de consciência). Se eu aceitar interromper a gravidez a uma mulher que engravidou com um dispositivo intra-uterino, tenho de aceitar fazer um aborto a uma mulher que não toma a pílula porque não quer, e que tem um comportamento permissivo e irresponsável».


E lá voltamos nós, pela mão do distinto presidente do CNECV, a usar como argumento
pretensamente válido a apreciação dos comportamentos sexuais das mulheres.
Para mim a questão é bem simples. Se alguém acha que um embrião é vida, e que este, apesar de não nascido, tem um estatuto equivalente ou superior ao de uma mulher grávida, vivente, pois muito bem, não deve violentar-se e deve assumir o seu estatuto de objector/a de consciência e não practicar abortos. Discordo mas respeito.
Mas o que MOS vem introduzir na discussão é outra coisa bem diferente. O que vem defender é uma espécie de objecção de consciência a la carte, onde a invocação do estatuto depende das apreciações morais sobre o comportamento sexual das mulheres. E por isso pergunto: qual a diferença entre um embrião que resulta de um deslocamento do DIU e um outro que resulta de uma relação não protegida? Nenhuma. A única diferença é mesmo haver quem ache ter superioridade moral para sancionar e condicionar a vida sexual das mulheres.
Evidentemente que é preocupante a reincidência do aborto, como também diz MOS, mas é-o porque quem o faz está a prejudicar a sua saúde. Nesse sentido, desculpar-me-á MOS, mas a proposta de o tornar não gratuito ou de mexer na lei não faz sentido nenhum. O que faz sentido é perceber como, porquê e onde falha o planeamento familiar. Há, aliás, muitos estudos que nos podem ajudar a perceber os problemas. Haja igual vontade em conhecê-los como em proferir juízos desta natureza.

Sobre a adopção
«Acho que em termos de antropologia sexual, temos uma dualidade masculina e feminina. E precisamos de ter no nosso desenvolvimento uma referência feminina e uma referência masculina. E com os casais homossexuais isso não existe».

Pois não. Nem com os casais homossexuais nem com as famílias monoparentais. Defende então MOS que a Comissão de Protecção de Menores retire, por exemplo, a guarda das crianças à mãe ou ao pai de uma família monoparental? E os critérios para poder adoptar uma criança devem ser quais? Uma família tradicional (numerosa, se possível)? E o que fazer às crianças que vivem numa família cujo pai ou mãe morreu? E aquelas outras cujo pai ou mãe nunca quis delas saber? E as crianças cuja guarda foi dada a uma avó ou avô, tio ou tia... que não têm companheiro ou companheira?
O disparate é tão grande que até custa a acreditar. MOS tem uma visão anquilosada de família, desconhece o mundo que o rodeia e por isso parece ainda não ter percebido que não só há muitos tipos de famílias como também que a vida não é tão simples como nos livros da Anita. Pior do que esta visão conservadora e bafienta é o facto de o presidente do CNECV desconhecer os estudos que já foram feitos. Mas eles existem e são públicos.

Percebido?

Independência ou morte!


"Artistas independentes são quem mais vai sofrer com os cortes", diz Gabriela Canavilhas. Na verdade, se fossem independentes, não sofreriam por aí além com os cortes, parece-me. Não consta que o Tony Carreira ou a TVI vão sofrer grande coisa com os cortes orçamentais. Não quero com isto dizer que os produtores culturais se têm que vender e que todos os grupos de teatro se têm que dedicar à revista. Ainda assim, um planeamento cuidado de actividades, uma gestão adequada de dinheiro e espaços aliada a boas práticas de marketing e publicidade poderiam ajudar muitos produtores culturais demasiado imaculados para se dedicarem a essas coisas mundanas. É que posições irredutíveis de manutenção de uma pureza criativa que despreza os mecanismos económicos da cultura pode ser muito cool mas, convenhamos, esconde muitas vezes posições de "eu sou demasiado bom para este país". E deve este desprezo pelo público continuar a ser financiado pelo Estado?

Flor do Deserto - a Mutilação Genital Feminina em filme



Fui ontem à antestreia do filme A Flor do Deserto. Este filme, em exibição por toda a Europa, e, a partir de hoje, nos cinemas em Portugal, baseia-se no best seller de Waris Dirie em que a autora conta a sua história: nascida na Somália, numa família vivendo em pobreza extrema, excisada aos 5 anos, vendida para casar aos 13. Waris foge, quase morre, recorre à sua avó que pouco mais faz do que colocar Waris a trabalhar, sob exploração, junto de diplomatas somálios em Londres. Com o regresso dos/as diplomatas à Somália Waris fica na rua sem qualquer tipo de rede de apoio. Não entrando muito em pormenores, a história de Waris é conhecida: acaba por se tornar numa supermodelo e, simultaneamente, usa a sua notoriedade para contar a sua história e alertar para o grave problema de saúde pública, de violência contra as mulheres, de atentado aos direitos humanos que constitui a MGF, sendo escolhida para Embaixadora das Nações Unidas.

É um filme forte que ao mesmo tempo pode parecer, por vezes, demasiado "leve" no tratamento desta temática e das outras que são abordadas (tráfico, uso do corpo das mulheres, situação das/os refugiados/as, etc), contingências de um filme que quer chegar ao grande público. Ainda assim, claramente, recomendo. Estar nos circuitos da grande distribuição e querer chegar ao "grande público", baseando-se num livro autobiográfico, é também a sua mais valia: porque informa, alerta, sensibiliza quem possivélmente não o estava e para quem estava, ou pensava estar, volta a reforçar o sentimento de que é urgente (ainda que saibamos muito díficil) acabar com esta prática.

E salienta dados que nenhum/a de nós deve esquecer: 6000 crianças/jovens, por dia, são vítimas desta prática. 130 milhões por ano...

E se estivessem quietinhos?

Estava a preparar um secante post sobre a forma como a Esquerda reage pavlovianamente a todas as notícias de violência policial e, mais precisamente, sobre a forma como, à bruta, tomam o todo pela parte, quando visito o blog da Plataforma Contra a Violência Policial e vejo um link para "Fotos de Agredidas/os". É, sem dúvida, a marca da seriedade.

Para poupar trabalho, posso avançar já que não, não incorro no mesmo erro que aponto em cima. É precisamente por condenar a violência policial (até porque, embora não de forma física, já fui alvo dela) que alguns argumentos me parecem perfeitamente disparatados.

E pronto, espero que a violência deste vídeo ofenda menos que o sexo de outros.


Saramago? Qual?

Nunca liguei muito ao José Saramago-escritor.
Adorava o José Saramago-político.
Gostava assim-assim do José Saramago pessoa.
Tinha uma opinião francamente positiva em relação ao José Saramago homem.
O José Saramago-jardineiro era um desastrado.
O José Saramago-contador-de-anedotas-em-castelhano era um prato!
Era impecável o José Saramago-vizinho.
O José Saramago-colega-de-quarto era um desleixado inacreditável.
O José Saramago-marido era muito atencioso mas deixava sempre o tampo da sanita levantado.

Com que então, quiseram apoiar o Manuel Alegre né?

Pode ser só coincidência mas...na verdade, não me parece :) Mário Soares foi, ainda bem antes das legislativas, um acérrimo , ou quase vá, defensor de José Socrátes e das políticas levadas a cabo pelo seu Governo . Ora, vir agora com declarações tão certeiras, cheira-me a vingançazinha :)

“essas medidas de ataque ao estado social, não vão resolver o problema e vão conduzir a uma outra crise.”
O ex-Presidente da República diz estar de acordo com o desagrado manifestado pelas centrais sindicais e acusa o Governo de estar a privilegiar políticas neo-liberais que só protegem os ricos.

Com que então quiseram, ainda que tarde e a más horas, apoiar o Manuel Alegre não é? Não perdem pela demora..:)

don't let the world cup leave it's mark on you



Durante o último Mundial de futebol, em 2006, as ocorrências de violência doméstica aumentaram quase 30% in West Yorkshire. Em resultado dessa constatação, a polícia desenvolveu a campanha don't let the world cup leave it's mark on you.

Agarram'as mamas!

A ideia não é nova nem surpreende ninguém. O desígnio divino de arrasar com o Estado social vem de trás e é uma demanda em forma de corrida em que PS e PSD se acotovelam à Ben-Hur para ver quem chega primeiro. Acontece que Pedro Passos Coelho, neste particular, poderia roubar bem mais do que uma pose e uma frase a Barack Obama que se bateu pelo alargamento da prestação dos cuidados de saúde nos EUA. Ele (PPC) vai dizendo que tudo vai ficar melhor. Eu vou-lhe dizendo: "Agarram'as mamas!".


pedro passos coelho funde-se com a cip

Ontem, os patrões da indústria portuguesa fundiram as suas três associações. Onde antes se lia CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), AIP (Associação Industrial Portuguesa) e AEP (Associação Empresarial de Portugal), passa agora a ler-se simplesmente CIP. Porém, ao abrigo do novo acordo ortográfico patronal, CIP passa a querer dizer Confederação Empresarial de Portugal. De uma assentada, toda esta gente passa a estar representada na Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS), coisa que até ao momento era privilégio apenas da CIP/aao (antes do acordo ortográfico).
Provavelmente, a bolsa terá reagido com entusiasmo a esta fusão, uma vez que António Saraiva, presidente da CIP/aao e actual presidente da CIP/dao, anunciou já que «poderá haver despedimentos nas estruturas associativas actuais, mas que só depois da definição da estrutura final, que deverá estar pronta até Dezembro, será possível quantificar essas reduções». A questão é, tão-somente, saber quantas pessoas vão receber a temida carta de despedimento.

A porta das fusões ficou ainda aberta para outros empregadores com assento na CPCS.

A este repto respondeu imediatamente Pedro Passos Coelho. Para se tornar credível, uma vez que ainda não tem assento na CPCS, apesar de imaginar que isso esteja para breve, anunciou que, para acabar com um Estado «que enfia pela goela abaixo o social que cada Governo quer», fará uma revisão constitucional que acabará com essa «vermelha» tendência da educação e da saúde públicas.
[A imagem é de Barbara Kruger]

Apoios sociais? Apoios quê? Mmhh...Não. Não conheço.

Leiam o Decreto de Lei com que o Governo nos presenteou hoje... Aquele que não faz nada mais nada menos do que cortar em tudo o que é apoio social a eito, assim "Zás" que é para doer tudo de uma só vez.
São eles...vamos lá então (respirem fundo):

1 — O presente decreto -lei estabelece as regras para a determinação dos rendimentos, composição do agregado familiar e capitação dos rendimentos do agregado familiar para a verificação das condições de recursos a ter em conta no reconhecimento e manutenção do direito às seguintes prestações dos subsistemas de protecção familiar e de solidariedade:
a) Prestações por encargos familiares;
b) Rendimento social de inserção;
c) Subsídio social de desemprego;
d) Subsídios sociais no âmbito da parentalidade.
Calma, que ainda não acabou..
2 — As regras previstas no presente decreto -lei são ainda aplicáveis aos seguintes apoios sociais ou subsídios, quando sujeitos a condição de recursos:
a) Apoios no âmbito da acção social escolar e da acção social no ensino superior público e não público;
b) Comparticipação de medicamentos e pagamento de taxas moderadoras;
c) Pagamento das prestações de alimentos, no âmbito do Fundo de Garantia de Alimentos a Menores;
d) Comparticipação da segurança social aos utentes das unidades de média duração e reabilitação e aos utentes das unidades longa duração e manutenção, no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados;
e) Apoios sociais à habitação atribuídos pelo Estado quando tal atribuição dependa da verificação da condição de recursos dos beneficiários;
f) Outros apoios sociais ou subsídios atribuídos pelos serviços da administração central do Estado, qualquer que seja a sua natureza, previstos em actos legislativos
ou regulamentares
(Página 2)
E para quem conseguir ler este documento até ao fim, vale a pena ter em atenção a retórica utilizada..
E isto no mesmo dia em que tã-rã Portugal é retratado pela Eurostat como......"o Nono País mais pobre da União Europeia"
Este Governo parece empenhadíssimo em chegarmos ao primeiro lugar! Como é que é possivel..!

Mais violência nas esquadras, agora na Amadora

A ler e divulgar este texto da Ana Barradas sobre mais um caso de violência policial, ocorrido na madrugada de domingo. Desta vez, as vítimas da noite de pesadelo - que passou pelas esquadras da Mina, do Casal da Boba e de novo na Mina - foram os rappers LBC e Hezbollah, que no ano passado falaram com o Nuno Ramos de Almeida nesta reportagem aqui em baixo (ao minuto 1:30m e 7:00m, respectivamente).

Faites vos jeux, rien ne va plus

O porreirismo e as goleadas levam-me aos arames por uma sére de factores. Um dos mais lesivos passa por ver cagões deste clube de labregos endinheirados vir à tona com aquele paleio da mini e dos tremoços, como quem desce à terra uma vez por ano e... adora.

«Escrevo este texto de Dusseldorf.»

Ai sim? Eu escrevo da casa de banho, que tenho wireless.

Ó malta do PC!

Estão a ver que é melhor viver num regime demoliberal do que na Coreia?

Melhor que 7-0 só mesmo o 7-1

Admirável Mundo Novo

Desde que apareceram os computadores acessíveis a quase toda a gente que a evolução tecnológica progrediu mais do que exponencialmente. Deve ter demorado, por exemplo, menos tempo a passar de discos de 1 GB para discos de 32 GB do que de discos de 254MB para discos de 1 GB. Isso dá-me alento. Dado o primeiro passo e proporcionando uma empresa de distribuição de canais televisivos por cabo uma opção para calar as vuvuzelas, será uma questão de poucos dias até que surja a opção de calar as Venezuelas.

Unidade, unidade, unidade, do Capital contra o Trabalho...

tacanhez sem limites

Cavaco Silva, em Julho de 2008, interrompeu as suas férias para fazer uma comunicação ao país sobre o estatuto político-administrativo dos Açores. Pela voz de um dos seus assessores soubemos «que só uma razão verdadeiramente importante levaria o Presidente a interromper as suas férias».

Cavaco Silva, em Junho de 2010, não interrompe as suas férias para assistir e representar o Estado português no funeral de José Saramago.

A animosidade entre ambos é conhecida: António Sousa Lara, subsecretário da cultura do então Primeiro Ministro Cavaco Silva decidiu, em 1992, e com o apoio deste, afastar «O Evangelho Segundo Jesus Cristo» de um prémio literário europeu. A justificação foi clara: «A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os» e «o livro não representa Portugal nem os portugueses».


Não é por medo do confronto que Cavaco Silva não vem ao funeral de José Saramago. Cavaco é destemido, caso contrário não passaria férias numa região cujo estatuto político-administrativo vetou reiteradamente e que até pôs fim à famigerada cooperação estratégica entre São Bento e Belém.

Cavaco Silva não interrompe as férias porque a sua mediocridade e tacanhez não têm limites.

Correr com ele da Presidência da República é, cada vez mais, um imperativo.

José Saramago - Este mundo da injustiça globalizada


Texto lido na cerimónia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002 (Via Guilherme)

Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.

Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."

Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...

Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.

Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica.

E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira.

Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes...

Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.

Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

Redenção

Todos os defeitos de um homem se desvanecem perante o seu bom gosto.

É já este sábado! Às 17h no Principe Real, Lisboa. Marchar. Marchar!

Todos os anos, ao longo do mês de Junho, muitas cidades do mundo organizam eventos que celebram o Orgulho LGBT, entre os quais uma marcha, chamada Marcha do Orgulho. Portugal teve a sua primeira Marcha do Orgulho LGBT em Lisboa no ano de 2000, decorrendo em 2010 a sua 11ª edição. Este ano, a sua comissão organizadora integrou 18 associações, sinal inequívoco do seu crescimento.
Os seus objectivos são vários:
- Assinalar o dia 28 de Junho de 1969, pois foi nessa data que, na cidade de Nova Iorque (EUA), no bar Stonewall Inn, homossexuais e transsexuais resistiram, pela primeira vez na História, às habituais rusgas policiais, à discriminação e à violência. A data de 28 de Junho é, por isso, fundamental para o movimento de defesa dos direitos das pessoas LGBT, sendo marcada por diversas Marchas e Prides a nível mundial desde então.
- Ocupar o espaço público com a diversidade de identidades de género e de orientações sexuais que nos caracteriza enquanto seres humanos porque, felizmente, somos todos/as muito diferentes entre nós e as identidades, as relações humanas e os afectos não obedecem a regras alheias, arbitrárias e injustas. -
- Contrapor à vergonha que muitos/as querem impor às pessoas LGBT o Orgulho, pois só assim é possível resistir a séculos de opressão e discriminação e lutar por sociedades mais livres, mais iguais, em que a nossa diversidade seja respeitada e valorizada.
- Celebrar o recente direito adquirido de igualdade no acesso ao casamento civil, tudo o que já foi conseguido e continuar a mobilizar-nos para que mais seja possível alcançar, até chegarmos a uma cidadania plena. A mudança não acontece sozinha, por si, com o tempo. Os avanços legais, sociais e culturais que conseguimos deveram-se sobretudo à mobilização colectiva, à denúncia e à participação.
- Recordar que, no Portugal de 2010, há ainda muito caminho a percorrer na luta contra a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género. A lei perpetua a exclusão de casais de pessoas do mesmo sexo no que se refere à adopção e tarda em reconhecer formas de coparentalidade. Portugal nega às muitas crianças geradas e/ou criadas por gays e lésbicas o reconhecimento das suas famílias. Mulheres solteiras e mulheres lésbicas estão impedidas de aceder a técnicas de procriação medicamente assistida. Permanece ausente uma lei de identidade de género que proteja pessoas transgénero e transsexuais. Uma efectiva mudança social e cultural resta ainda por fazer.
- Promover e respeitar a diversidade sexual como valor humano porque boatos, anedotas, mexericos e controlo social continuam a contrariar o direito à felicidade de todas/os. A violência psicológica e física exercida sobre pessoas LGBT é uma realidade, como o demonstram os casos de bullying nas escolas ou os ataques e assaltos em vários pontos do país.
- Denunciar o facto de, pelo mundo fora, existirem sete países em que a homossexualidade é punida com pena capital e que em 93 outros qualquer pessoa pode ser julgada e punida com multa ou prisão por ser lésbica, gay, bissexual ou transgénero.
Saímos à Rua porque muitos/as de nós, amigos/as, colegas, familiares, pessoas ao nosso lado, vivem a discriminação todos os dias, mesmo que num silêncio imposto pelo medo, pela solidão ou pela vergonha. Por isso, importa denunciar, olhar nos olhos, ocupar o espaço. Fazemos da nossa cidadania uma bandeira contra a homofobia, a lesbofobia, a bifobia e a transfobia. Por nós, por todas/os!

Apelo à libertação do consumo de carne de porco. Não haja paciência para esta gente!

Em frança, a moda dos aperitivos gigantes, lançados via facebook essencialmente com o objectivo de beber copos e do convívio, já tinha dado que falar devido ao estado de embriaguez de alguns/mas (há quem diga que eram muitos/as). Houve até um jovem que morreu na sequência de tamanha bebedeira...Depois do sucedido, as autoridades francesas têm procurado proibir ou "desmobilizar" este tipo de concentração que em algumas cidades chegaram a juntar num mesmo sítio mais de 15000 pessoas. Esta "moda" foi agora "cooptada" pela extrema direita que não arranjou mais nada do que fazer do que ir para a porta das mesquitas beber alcool e comer carne de porco com o lema "pela libertação do consumo de carne de porco"! Pode ser que libertem outras coisas com a sua estupidez! Enfim...

Agora, porém, as autoridades enfrentam novos problemas, porque grupos de extrema-direita decidiram convocar para amanhã, sexta-feira, apéros saucisson et pinard(aperitivos salpicão tintol) claramente anti-muçulmanos, em diversas cidades.
Em Paris, a reunião foi proibida por ter sido marcada para o dia de oração dos muçulmanos, para uma praceta em frente a uma mesquita da "Goutte d'or", um bairro do norte da cidade maioritariamente habitado por muçulmanos
(Expresso online)

38 anos depois - parte 2

38 anos depois, David Cameron pede desculpa.

[Para aqueles e aquelas a quem U2 causa urticária.]


38 anos depois

38 anos depois, David Cameron pede desculpa.

inventem mentiras novas

Pedro Passos Coelho afirmou que «a precariedade e a insegurança, infelizmente, hoje, já dominam a preocupação de muitos trabalhadores». Até aí já sabíamos, mas o que me preocupa é que, infelizmente, não dominem a dele. Se calhar é porque são só dois milhões de pessoas a quem o futuro é roubado todos os dias. E disse também que as suas propostas de flexibilização da legislação do trabalho não promovem a precariedade. Pois, por isso é que a CIP anda tão contente.


Sócrates anda entusiasmado com a subida do PIB, mas ainda o IVA e o IRS não aumentaram e o dinheiro já não chega nem para o bife nem para a farmácia, como dizia o José Mário Branco na altura em que o FMI aterrou na Portela.

E para acabar, eu chamo-me Maradona e sou argentina.
[A imagem é de Barbara Kruger]

Ketchups, prognósticos e assopradelas


Chegou a altura. De dois em dois anos, por alturas ora do campeonato europeu de futebol ora do mundial, reúnem-se em cafés nem demasiado chiques nem demasiado populares, jovens intelectuais em potência para que, com a força que o grupo lhes confere, possam dar uma valente coça conceptual, semântica e/ou gramatical aos jogadores de futebol. É uma barrigada de riso a simples denúncia de uma qualquer enormidade proferida por qualquer daqueles ignorantes. Além do mais, esgotado o assunto, pode-se sempre admirar a candura honesta de um velho transmontano que se viu num vídeo do youtube, tecer elogios a uma qualquer recolha etnomusicológica da Beira Interior, ou esboçar lamentos e relação aos desgraçados e às desgraçadas que são obrigados a deixar a escola para ir trabalhar.

Para, como nos telejornais, acabar num tom mais leve, pode-se sempre voltar ao assunto de abertura e declarar: "Epá, mas aquela do Ketchup é mesmo digna de um Philip Roth, não é?". A malta ri-se toda, acaba a cerveja e vai para casa inundada daquele sentimento ambíguo de ser tão bom que até dói.

cuidados paliativos


E depois do Bagão, não há mais ninguém para sondar?

um bilhetinho


Bilhetinho encontrado no fundo do bolso de um casaco...

ENCRUZILHADA

Terminou há dias o concurso para dar nome a uma rua do Porto integrado no projecto Viver a Rua. No topo das apostas parecem estar, deus me livre, os desportistas! Seguidos de perto pelos guias espirituais e religiosos. (Cheira a bafio este concurso, e a Ana Moura, não está?) Isto de dar voz à comunidade tem os seus riscos. Mil vezes a prosaica Diamantina que ter de atravessar a avenida Futre para chegar à praça Jorge Nuno!

DE ROMA

Em Beja, os ciganos foram transladados para um bairro na periferia, logo ao lado do canil municipal, separados da vista e do coração da cidade por um muro de 3 metros de altura. Prometeram-lhes jardins, quintais e se calhar até água canalizada!

O encantador presidente da câmara, Jorge Pulido Valente, diz que até quis manter os ciganos por perto, já estava habituado a eles. Mas se ao menos mantivessem as casas limpinhas, se calhar até dormem no mesmo quarto e partilham chinelos. Que animais! E lamenta com a voz embargada “é como nalguns bairros da África do Sul, não há nada que resista”.

Se se portarem bem, daqui a 5 anos são reintegrados noutras zonas, para o bem deles. Por um lado, não se acomodam demasiado ao local, por outro “nós sabemos que nem os ciganos gostam de viver uns com os outros”. Este inefável senhor devia passar uns dias nesta colónia:

Vuvuzelas



Demorou mas percebi: a vuvuzela é um artefacto que, ao produzir um ruído irritante e ensurdecedor, demonstra a paixão de um povo pelo futebol. Continuo é sem perceber a novidade da coisa. Não é isso que todos os noticiários (e até blogs respeitáveis, meu Deus!) fazem de cada vez que há um grande evento futebolístico?

Ó povo metanalítico!

Não o que é dito mas o que se diz sobre o que é dito. É isso o que realmente conta. E, desse ponto de vista, o Miguel Sousa Tavares é bem mais relevante que qualquer líder político de meia tigela. Aguentem-se!

Obra social


Bem me parecia que as críticas à obra social da igreja eram ignominiosas. Atentem cépticos, atentem:


E assim se reforçam os estereótipos de género..

Sob pena de ser convidada a sair deste belo tasco ou de ser acusada de desviar as atenções dos graves problemas do país ,bla, bla, bla, não acho normal ter começado ontem (sexta) um dos maiores eventos desportivos - o maior quando se fala de futebol - e nem uma referênciazita ao dito! Pseudos:)

Assim sendo, para além de deixar aqui o hino do mundial para animar a malta , aqui vai o ensaio de um post futebolístico.
Consciente, contudo, das minhas limitações neste campo, vou só deixar umas notas (tipo fax), que isto não dá para muito mais. Ah, e também para evitar que o Bruno do tasco do lado me dê uma esfrega.

Jogo Uruguay- França (0-0):

- Jogo equilibrado; pouco empolgante. Poucas ocasiões de golo (ainda assim a França teve mais). Melhor a 1ª parte do que a 2ª. Jogadores em boa forma física. Bom ritmo de jogo mas ambas as equipas não conseguiram "encontrar o seu jogo"/imprimir o seu ritmo. Dificuldades em construir jogadas. Demasiados remates de longe, percas de bola.
Anelka teve muito fraquinho. Henry devia ter entrado mais cedo. Ribery teve bastante áquem do esperado. O número 10 do Uruguay destacou-se.

- Vuvuzelas: barulho de fundo MUITO irritante que até deve incomodar vários jogadores e retira qualquer hipótese às claques de animar o jogo de outra forma.

- O Uruguay acabou com 10 jogadores devido a uma justa expulsão. O Arbitro ñao estava para grandes brincadeiras ainda que me tenha parecido que 2 ou 3 amarelos foram dados sem necessidade quando 2 ou 3 outros ficaram por dar. Dúvida sob possível penalty no fim do jogo com mão, ainda que não intencional (pareceu-me) de um jogador do uruguay.

- Gourkuff e Gignac: bem giros.

Pronto, era isto:) ah, e....WAKA, WAKA.

minoritárias na área!

A apresentação pública do livro é já na próxima segunda-feira, na FNAC do Chiado, em Lisboa, pelas 18.30 horas, com Manuela Tavares e Duarte Vilar a comentá-lo.
De entre as cinco mãos que o assinam encontram-se as de Madalena Duarte e Magda Alves, duas ilustres minoritárias.

assim dá gosto trabalhar!

Sem cair do palco


A ministra Gabriela Canavilhas foi convidada para uma produção da Vogue portuguesa de Julho, trajada de Yves Saint Laurent e colar Chanel. Entre sessões de fotografias e desfiles de charme, a ministra vai sentindo “sempre o apoio do sr. primeiro-ministro”, “uma discriminação positiva” do seu ministério, “certa de que a cultura é um desígnio particular deste Governo”. Em 6 meses, as suas expectativas estão alcançadas. Se bem me lembro, ao longo de sucessivas entrevistas tem falado da formação de públicos, indústrias criativas, mecenas, fundações, redes de cine-teatros... e da crise, claro! É uma artista “com todo o direito a sê-lo” e isso dá-lhe a garantia de compreender melhor os problemas do meio mesmo que manietada para os resolver. Desde que o primeiro ministro assumiu o erro de ter investido pouco na cultura notou-se uma diferença abissal no entusiamo, no alento... mas ao contrário do que dizia Michelle no Palombella Rossa, as palavras pouco importam. Fica a ressalva de iniciativas individuais, de associações, teatros, centros culturais que têm surgido em cidades periféricas (Aveiro, Guimarães, Famalicão, Braga... só para citar algumas nas minha proximidades) que têm sabido cativar, fixar, deslocar públicos.

Quanto à Ministra, a política é um palco, a sociedade um espectáculo. Já se antevê a condecoração “póstuma” do Presidente da República. Mas em matéria de divas e colares de pérolas, não chega aos calcanhares da Maria de Belém.



Lição do 10 de Junho: Nunca deixar que a verdade estrague uma boa história


O arrastão policial de Carcavelos faz hoje cinco anos.

Com a presença de Natasha Nice

Em casa de cego, semiótica de surdo


O novo Governador do Banco de Portugal (BP), Carlos Costa, começa com o pé direito a sua missão, especialmente no que diz respeito ao ponto 2.2 do Código de Conduta do BP: "ter em conta as expectativas do público relativamente à sua conduta, dentro de padrões genérica e socialmente aceites, comportar-se por forma a manter e reforçar a confiança do público no BP e contribuir para o eficaz funcionamento e a boa imagem da Instituição."

Do seu discurso de tomada de posse, que não passou de um desfiar da missão e valores do BP que em nada compromete este funcionário, destacarei o seguinte parágrafo:

"É necessário ter presente, por isso, que as enormes vantagens da estabilidade de preços e da participação na área do euro, de que os agentes económicos rapidamente se apropriaram, têm como contrapartida inexorável um ajustamento dos comportamentos de formação de salários e de alocação do rendimento, e que o ritmo deste ajustamento, no presente contexto de crise internacional, terá de ser acelerado de forma determinada e credível, sob pena de pôr em causa o processo de retoma da economia portuguesa."

Trocando por miúdos, o que o Sr. Governador quis dizer é que, para apoiar o paradigma europeísta da Estabilização, os patrões devem agora seguir o paradigma chinês ao nível dos salários. Os banqueiros gostaram muito e em Lisboa houve cheiro de sardinhada à "integralismo lusitano".

os paspalhos do costume

A conversa é sempre a mesma. Enquanto isto não chegar ao ponto do trabalhador/trabalhadora on demand haverá sempre alguém a aproveitar-se ora da crise ora de outra coisa qualquer para nos vir lembrar as imensas vantagens que estamos a desperdiçar por termos esta posição empedernida relativamente aos direitos no trabalho e à protecção social, ancorada numa legislação que mais parece resultar desse sistema anacrónico que é o socialismo.
Depois da deixa do comissário europeu Olli Rehn, António Saraiva, presidente da CIP, não podia perder a oportunidade de vir sublinhar a necessidade de flexibilizar ainda mais a legislação laboral.
Eu, por mim, se for para fazer o jeito à CIP e aos senhores que nos meteram na crise, até dispenso o contrato de trabalho. Basta dizerem-me, no dia anterior, onde e quantas horas devo trabalhar para poderem contar comigo sem reservas. E, de uma assentada, podiam acabar também com o salário mínimo, que só atrasa o desenvolvimento e a competitividade.

cheira a mofo

Em Aveiro, o Centenário da República é comemorado de forma muito estranha: crianças fardadas com as vestes da Mocidade Portuguesa a desfilar pelas ruas e praças da cidade.

A ser verdade que só um pai reclamou, a coisa ainda é pior do que parece. Haver quem tenha más ideias já é chato, mas não haver quem nisso repare é dramático.

Pergunto se neste processo de revisão histórica há lugar para, com a mesma grandeza, lembrar os Congressos Republicanos da Cidade de Aveiro, de 1957 e 1969, o Congresso da Oposição Democrática, ou mesmo o aveirense Zeca Afonso. E Carolina Beatriz Ângelo, vai ser evocada?

Parece-me bem



E a seguir era tirar o RSI a quem já tenha sido visto a cuspir para o chão, a fazer aviões de papel na aula ou a soltar um "Foda-se!" depois de ter entalado o dedo mindinho na porta do carro.

O totalitarismo de base moral que floresce em todos os "Ponto de Encontro" e "Café Central" deste país bem como no Largo do Caldas, num contexto de recuo de prestações sociais tem o claro objectivo de fazer divergir o foco responsabilizador para os "malandros", para os que "não viveram uma vida honesta como eu". Não há maneira de dar o benefício da dúvida em relação às intenções dos actores políticos que veiculam este tipo de ideias. Correndo o risco de desiludir muita gente (vá. algumas pessoas) e socorrendo-me do número 4 do artigo 46º da CRP queria só dizer aqui fáxabôr que não só esta proposta é anticonstitucional como um partido que defende este tipo de alarvidades não pode ser deixado de ser considerado também como tal.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10


Como sempre no que diz respeito a estas coisas, o debate em torno da possibilidade de um aluno com mais de 15 anos passar do 8º ano para o 10º sendo que para isso precisa de fazer com aproveitamento os exames de Matemática e Português (salvo-erro) do 9º ano mais parece um campo de batalha.

Não surpreende que se multipliquem as bocas salivadas a disparar as palavras "mérito", "justiça", "calões" e "preguiçosos" à velocidade de 600 palavras por minuto. Não surpreende também que, do outro lado se dispare a palavra "oportunidade". Por isso também não surpreende que ninguém pare dois segundos para pensar no impacto que esta medida terá tendo em conta os objectivos a que a escola de uma sociedade democrática se propõe. Eu também não seria capaz de o fazer mas creio que uma medida deste género ignora por completo que a escola democrática não se deve resumir a uma instituição que valida competências e reconhece méritos. A tentativa de diminuir o abandono escolar precoce anulando parte do percurso que deve ser percorrido não faz, desse ponto de vista, sentido rigorosamente nenhum. E isto nada tem a ver com "mérito", tem, antes, tudo a ver com a compreensão de que o que justifica a existência de uma escolaridade obrigatória é o reconhecimento da escola como formadora de cidadãos com competências académicas mas também cívicas e sociais e, portanto, políticas.

Encerramento de Escolas

Posições como esta multiplicar-se-ão pelo País, contra uma decisão cega tomada centralizadamente, que recua na provisão social de um bem tão essencial quanto a educação, que põe em causa a coesão social e territorial, que ignora as especificidades locais.

O Município de Gouveia não aceita o encerramento de dez escolas do primeiro ciclo proposto pelo Ministério da Educação para o Concelho de Gouveia. Álvaro dos Santos Amaro, Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, classifica a medida como «injusta, sem ter em conta a realidade territorial sendo penalizadora para a capacidade de desenvolvimento social e educativo do Concelho.»
A proposta do Ministério da Educação propõe o encerramento de dez escolas no Concelho de Gouveia, duas delas com projecções de 20 alunos ou mais no próximo ano lectivo. Esta realidade é classificada pelo Presidente da Câmara Municipal de Gouveia como incoerente com o próprio princípio subjacente à proposta do Ministério da Educação.
Álvaro dos Santos Amaro afirma que «é diferente encerrar uma escola em Gouveia ou em Lisboa, o impacto social desta medida têm um peso elevado para os territórios do interior, contribuindo, ainda mais, para a sua desertificação. Temos um País a duas velocidades e este tipo de políticas contribui para agudizar as diferenças entre litoral e interior, propondo o autarca que o governo deve encontrar juntamente com as autarquias soluções diferentes para problemas iguais.»

Cadê você Esther?

O Nuno Serra questiona-se, e bem, sobre o paradeiro da intelectual orgânica do Estado Judaico em Portugal. Shalom.