A crise toca a todos


Depois de Passos Coelho garantir que só a filha mais nova irá receber prendinhas, também Maria Cavaco Silva nos assegura que o seu marido não terá um presente no sapatinho. Eu já desconfiava, porque só os meninos que se portam bem são recompensados. Ainda assim, fico muito mais tranquila. Se ao menos a Irlanda tivesse implementado medidas como esta...

De como decisões tomadas pelo povo não são necessariamente democráticas.

O novo racismo já não passa pela manutenção dos dominados na proximidade controladora dos dominantes. Agora, passa pelo afastamento, pelo saneamento, pela eliminação de um risco de contágio, pela adopção de penas a aplicar especificamente a emigrantes. Não serão pobres mas são, pelo menos, mal agradecidos.

O Benfica ganhou.

Será desta que os mercados acalmam?

Governordem

Marinho Pinto quer combater o facilitismo e a massificação da advocacia. O instrumento: um exame de acesso à Ordem. Uma Ordem deve regular as práticas profissionais, certo e isso incluirá uma regulação do direito ao exercício da profissão. Certo? Nem por isso.

Um dos grandes problemas das Ordens reside precisamente aqui: na vontade que têm de se sobrepor aos poderes do Estado que determina que cursos são homologados. Se Marinho Pinto não está contente com a qualidade dos licenciados em Direito que exija do governo uma regulação mais exigente dos cursos. Implementar essa regulação a posteriori é desautorizar o Estado e erguer uma barreira às legitimas expectativas de quem entra numa licenciatura em Direito. Infelizmente esta tendência não está presente apenas na Ordem dos Advogados, a parvoíce é partilhada.

e agora, rio?



A imprensa dá hoje conta que Filipe La Féria está de malas feitas e pretende abandonar o Rivoli.
Será desta que Rio vai perceber que tem que gizar uma política cultural para a cidade ou pretende alugar o Rivoli para casamentos e batizados?
[publicado também aqui]

Como a banca toma conta de Bruxelas

Entre amigos (Unter Freunden) from ATTAC.TV on Vimeo.

A dignidade contra a chantagem

A chantagem contra greve


A maior greve de sempre foi uma manifestação impressionante de dignidade. A dignidade ergueu-se contra a narrativa auto-contraditória da situação que pretendia sustentar, ao mesmo tempo, que a greve geral não funcionaria porque seria uma acção minoritária que nada mudaria e que ela faria mal ao país porque interferiria com a produção nacional e fragilizar-nos-ia face aos mercados. A dignidade ergueu-se votando com os bolsos numa altura em que se contam os cêntimos para sobreviver. A dignidade ergueu-se pelo simples acto de fazer greve contra os patrões chantagistas. É que, neste país, a democracia é suspensa quando os dominantes se sentem ameaçados. É o mesmo estado de excepção que refaz as fronteiras para impedir manifestantes pacíficos de entrar e que inventa fronteiras no interior das manifestações para cercar os/as que imagina indesejáveis. Só que o tempo da greve é o do estado de excepção permanente tornando o direito à greve quase como uma miragem para muitos/as trabalhadores/as. E ainda assim a dignidade ergueu-se contra a chantagem.

O resto lê-se aqui.

entre marido e mulher, alguém meta a colher



Assinala-se hoje o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. As efemérides têm destas coisas, obrigam-nos a encarar uma realidade que, por vezes, anda demasiado esquecida nos restantes dias do ano.


Analisando este relatório, percebemos também que os homens mais violentos são aqueles com quem as vítimas têm uma relação de intimidade (60%), seguidos daqueles com quem já mantiveram uma relação (20%), estando, porém, agora deles separadas ou divorciadas.

Apesar do muito que foi feito nos últimos anos, nomeadamente a nível legislativo, muito há ainda para fazer. É preciso acabar com a impunidade e com os olhares, práticas e discursos desculpabilizadores. É necessário continuar com campanhas nacionais que denunciem a violência doméstica como crime, porque essas campanhas não só empoderam as mulheres e as ajudam a romper com este ciclo de violência, como constroem na sociedade a ideia urgente de tolerância zero para este tipo de crime. Precisamos, igualmente, de Juízos especializados em violência doméstica porque precisamos de tribunais capazes de compreender a amplitude deste crime, de modo que possam agilizar e adequar as suas decisões: grande parte das mulheres assassinadas já estava sinalizada como vítima de violência doméstica, o que significa que a protecção não foi eficaz ou não chegou a tempo. Basta olhar para o número de processos que chega ao fim e compará-lo com o número de queixas apresentadas, o número de condenações e o número de medidas de coacção aplicadas para percebermos a importância desta medida.

E, evidentemente, é necessário proteger as vítimas, pois elas são-no não apenas porque levam tareias e são sujeitas à violência e coacção psicológicas, mas também porque, para romperem com essa situação, são obrigadas a desestruturar as suas vidas, já de si precárias. Ir para uma casa abrigo exige romper com a maioria das relações sociais; significa abandonar o emprego e a casa familiar; implica sujeitar os filhos e filhas, quando existem, a uma vida diferente e escondida: mudar de escola, viver numa casa que não é sua, etc. Lembro-me de uma vez, quando trabalhava como voluntária na UMAR, de ter ido retirar rapidamente uma mulher e o seu filho à pensão onde tinham sido albergados. O filho tinha telefonado ao pai, denunciando o seu paradeiro, porque queria comer «chocapic» e na pensão onde estavam não havia. Parece ridículo, mas não é. O sofrimento destas mulheres é aumentado pelo facto de terem de sujeitar os seus filhos e filhas a uma vida diferente da que tinham imaginado. Notícias como esta são, pois, inaceitáveis.

É por isso que está é uma batalha de toda a gente, de todos os homens e mulheres que não se resignam perante a desigualdade e violência. É de uma batalha civilizacional que se trata, de uma batalha que não aceita a desigualdade e a violência como argumento. Quem cala, consente; quem cala, desculpa. Elas somos todos e todas nós.
[publicado também aqui]

A ressaca

A ressaca traz sempre dores de cabeça. Neste caso, as que mais latejam são as dos sindicatos que não se conseguem livrar de uma imagem de mandriões com aversão ao trabalho. O governo centra a discussão nos números (o que conseguiu de forma particularmente hábil, declarando que não queria discutir números mas sempre foi disponibilizando um serviço em tempo real de contagem de grevistas assente em critérios manhosos), os sindicatos, papalvos vão atrás e a discussão que deveria ser gerada é abortada.

A greve contribuiu para alimentar a ideia de que a ela aderiu um conjunto de privilegiados que se pode dar ao luxo de fazer essas coisas. Ontem, num daqueles programas de "opinião pública", um "empresário" lá ia dizendo que nenhum dos seus funcionários fizera greve nem ele admitiria que tal acontecesse. O contexto social dos trabalhadores de empresas privadas (especialmente as pequenas) e as pressões sociais que impedem estes trabalhadores de fazer greve são atropelados e ficamos sem saber se estes trabalhadores fariam greve mesmo que o pudessem fazer. Muitos seriam certamente os que não a fariam e para isso contribui a actuação clientelar e pouco protectora de sindicatos tal como contribui a ideia de que a greve não resolve nada.

Na verdade, a greve não resolve mesmo nada. Mas é também verdade que a isso não é obrigada. A manifestação do descontentamento acontece essencialmente pelos que têm alguma consciência de classe e os que ficam de fora dessa lógica, aprofundam o seu afastamento em relação à actuação sindical. Mesmo admitindo os 3 milhões em greve, essa é uma pequena vitória sem repercussões. O governo sabe da animosidade dos trabalhadores de empresas privadas em relação aos "privilegiados" dos funcionários públicos e explora-a.

Ora, sendo verdade que as lógicas de repressão mais ou menos invisíveis são difíceis de combater, a inocuidade de uma greve com estas dimensões deveria ser, pelo menos, alvo de reflexão por parte dos sindicatos que, no contexto em que vivemos, poderiam e deveriam ser um instrumento democrático essencial no combate à injustiça das medidas de austeridade. Ou seja, podemos continuar a reclamar das coberturas jornalísticas das greves (que, neste caso, chegaram a ser vergonhosas com jornalistas que mais pareciam perdigueiros em busca de alguém que soltasse os habituais queixumes em relação aos transtornos provocados pela greve), podemos continuar a reclamar contra a indiferença de um governo que, mais do que apostado em reduzir o défice, está determinado em reduzi-lo de uma forma muito específica, mas enquanto os sindicatos não se repensarem e não conseguirem arranjar formas de federar eficazmente os descontentamentos, não terão a força necessária para uma greve como a de ontem como alavanca de reivindicação.

Da situação na Universidade Pública

Manuel Loff, Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto fala sobre a situação na Universidade Pública no contexto da crise económica e da hegemonia do capital financeiro. Claro e incisivo. No piquete de greve em frente à Faculdade. Assim é que deve ser.

Em greve.

amanhã, na praça da liberdade

Amanhã é dia de Greve Geral. É a primeira, destas assim mesmo gerais, em que participo. Eu, que sou trabalhadora do sector privado, deparo-me com a necessidade de ter de explicar que fazer greve não é necessariamente combater o «nosso» patrão. O que está em causa é muito mais do que a nossa relação laboral com o patrão que nos emprega. O que está em causa são as escolhas feitas pelo Governo, com o apoio dos partidos da oposição do dito arco governativo, e que estrangulam as nossas vidas. As razões para aderir à Greve são várias e diversificadas, de tal modo que todos e todas cabemos neste apelo.
Reclamas porque te cortaram o abono? Reclamas porque apesar de estares no desemprego não tens direito ao subsídio? Reclamas porque te congelaram a pensão? Reclamas porque tens mais mês do que salário? Reclamas porque aumentaram os impostos? Reclamas porque te vão cortar o salário? Reclamas porque nos roubaram o Teatro Nacional de São João? Reclamas porque a banca te aumentou o spread? Reclamas porque não consegues um contrato de trabalho? Reclamas porque vives em regime de falsos recibos verdes? Reclamas porque apesar de ainda não teres acabado o curso já te estão a cobrar o empréstimo? Reclamas porque ficaste sem bolsa? A resposta é Greve Geral.

Fazer greve é transformar este permanente estado de indignação em resposta colectiva. Uma greve geral é isso mesmo, é a expressão da recusa e da alternativa. Amanhã é dia de dizermos que não engolimos o discurso da inevitabilidade, que não aceitamos a austeridade socialmente selectiva, que recusamos uma política de competitividade feita à custa de reduções salariais e de baixos salários. Amanhã é dia de nos afirmarmos como alternativa ao pensamento único e ao discurso da inevitabilidade.

Porque recuso a atomização, porque não dispenso de ânimo leve um dia do meu salário, porque vivo numa cidade onde o presidente da Câmara manda arrancar das fachadas dos sindicatos o apelo à greve geral, porque trago muita coisa entalada na gargante, amanhã vou juntar-me ao protesto no Porto, marcado para as 14h30, na Praça da Liberdade. Em nome da justiça e do direito ao futuro.

A caminho da Greve Geral (2)

quanto custa a intimidação?

Anda por aí muita gente a falar dos custos da Greve Geral. Quando ouço e leio isso, só me apetece responder com estas imagens.

Se o objectivo é intimidar para melhor desmobilizar, lamento, mas comigo não funciona. Amanhã faço greve e a partir das 14h30 estarei no Porto, na Praça da Liberdade, para dizer tudo o que trago entalado na garganta.

Aí vem ela!

Como suspender o direito à manifestação em bom português

Expulsión OTAN
Razão da expulsão entregue na fronteira de Vilar Formoso aos militantes da Izquierda Anticapitalista de Madrid: "Viajava em viatura com onde foi encontrado em material de propaganda contra anti-NATO".

Serviços e manif: do SEF das manifs aos serviços secretos do “Público”

A manifestação de ontem inaugurou um serviço policial: o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras das manifestações. Do lado de fora das fronteiras, ficaram os elementos perigosos e indesejáveis. E se o Black Bloc falhou à convocatória do tal senhor Anes do tal “Observatório de Segurança”, rapidamente os serviços secretos do jornal Público descobriram o novo plano dos violentos. O agente secreto Paulo Moura não revelou as suas fontes mas não hesitou a escrever no seu texto informativo: “o plano era espalharem-se na multidão e começarem a provocar os polícias, na esperança de que estes ripostassem indiscriminadamente contra a manifestação. Um cenário de a polícia a carregar sobre os velhos militantes do PCP era provavelmente o sonho mais selvagem dos elementos anarquistas.”

Tal como o Block Bloc falhou, também este plano secreto foi gorado. Mas ao agente secreto não bastou revelar estes planos, ele apresenta-nos ainda a sua verdade, armado que está com a sua capacidade psicanalítica. Conhecedor profundo dos sonhos selvagens dos anarquistas, talvez imagine agora aquela “centena” desiludida de anarcas (desiludida mas mantendo como é óbvio a capacidade selvagem de sonhar selvagemmente que caracteriza os anarquistas) depois de regressada a casa masturbando-se ao pensar em cargas policiais sobre velhinhos do PC.

Os vários serviços secretos da República terão triunfado desta feita, mas não será dessa derrota e da repressão que se alimentará essa perversa libido anarquista?

Estratégias de manipulação

O tpc para este fim-de-semana é simples. É aplicar as dez estratégias de manipulação mediática de Noam Chomsky (o texto circula por como alguns/algumas já devem ter reparado) à cobertura noticiosa sobre a cimeira da NATO. Quem quiser poderá responder à segunda chamada aplicando-as à cobertura noticiosa sobre a GREVE GERAL.

Já agora, recordo que estas dez estratégias são: a da distracção; a de criar problemas e depois oferecer soluções; a da gradualidade; a de diferir; a de dirigir-se ao público como crianças; a de utilização do aspecto emocional; a de manter o público na ignorância; a de estimular a ser complacente com a mediocridade; a de reforçar ao auto-culpabilidade; a de conhecer os indivíduos melhor do que eles próprios se conhecem.

Naturalmente nem todas se produzem num caso concreto uma vez que se tratam sobretudo de estratégias de fundo. Mas é importante apresentar exemplos concretos, identificar aqueles que acontecem mais frequentemente e fazer um comentário crítico sobre se este modelo de estratégias de manipulação se cola ou não ao exemplo concreto estudado e à nossa percepção da acção dos meios de comunicação de massas sobre a sua audiência. Será importante ainda procurar identificar outras estratégias de manipulação que possam completar/corrigir este quadro.

Até já!

Flash mob anti-NATO em Lisboa

A caminho da Greve Geral (1)

Dia 24 fechamos os livros

«A greve geral do próximo dia 24 de Novembro é um momento privilegiado para questionar as respostas políticas, manifestamente desequilibradas, a um quadro económico de crise. Mas a greve pode assinalar também uma insatisfação mais difusa, prolongada, que atinge a relação das pessoas com o seu trabalho, mas que cada vez mais invade outras dimensões do quotidiano. A imposição de uma austeridade assimétrica, que protege os mais fortes, restringe progressivamente a autonomia pessoal e a possibilidade de escolha, corrói as capacidades de definir projectos de vida individuais e colectivos, destrói direitos que constituem a base elementar de uma sociedade minimamente justa.

É indiscutível que em Portugal se tem vindo a fazer um esforço de investimento na ciência. Todas as pessoas envolvidas na criação científica não deixam, no entanto, de ser afectadas por dinâmicas sociais mais alargadas que, atingido a maioria da população, se traduzem na erosão progressiva de direitos e na imposição de lógicas de organização de trabalho que assentam numa progressiva precariedade. Tal paradigma, sempre apresentado como uma inevitabilidade, constitui uma forte ameaça à autonomia do conhecimento científico.

Etapa de uma resposta colectiva ao futuro de inevitabilidades que nos é proposto, a greve assinala também a visível necessidade de criar formas de debate que permitam pensar modos mais eficazes de enfrentar estes problemas. Por isso, dia 24 fazemos greve.»

Assina a petição aqui.

A associação sem-abrigo e a capital dos arrumadores

A “Associação Volta a Casa” das Caldas da Rainha, que serve refeições a sem-abrigo, ficou sem abrigo para servir estas refeições. A Câmara Municipal deste concelho decidiu correr com ela das instalações porque, segundo o presidente da Câmara local, a instituição “está a transformar-se num problema e não numa solução.”

Problema porquê? Aparentemente porque “atraem à cidade dezenas de arrumadores de outros locais do país” (a notícia cita indirectamente a PSP e o governador civil de Leiria e directamente o presidente da Câmara que chega a afirmar que há arrumadores do Porto que vêm para as Caldas à conta destas refeições).

Ou seja, ao que parece o problema é a associação cumprir aquilo para o qual foi criada, é haver muito quem recorra e sobretudo haver na Câmara a ideia mirífica de que devido a uma associação prestar solidariedade em forma de refeições a sua cidade se está a transformar numa capital dos arrumadores. Sendo que o raciocínio do Presidente da Câmara implica que todos os que recebem esta ajuda serão toxicodependentes e que todos os toxicodependentes são criminosos, dizendo o mesmo: “ninguém está contra a ajuda humanitária às pessoas, mas alguém quer mais instabilidade nas Caldas? Querem mais assaltos, querem mais roubos por esticão?”

Será que fechar estas portas serve para resolver a criminalidade ou a exclusão? Será que estigmatizar ainda mais a pobreza contribui melhora a vida de alguém?

Quem leva estes fantasmas destas cabeças?


Não se mexam! Isto é uma greve geral! Agora mexam-se!

A NATO, o Facebook e o "Bloco Negro" do centrão

Ontem escrevi isto para o esquerda.net: "A NATO está a chegar. Vai ocupar parte da cidade de Lisboa e fechar as fronteiras do país, dando uma amostra cara do securitismo atlanticista. O tempo nunca é de vacas magras para os senhores da guerra e tal como lhes pagamos os instrumentos das suas guerras também lhes pagamos as cimeiras.
A abrir caminho, barricou-se na opinião pública um discurso sobre o perigo dos manifestantes violentos. Um bloco negro de jornalistas, comentadores e de “especialistas em segurança”, tantas vezes omisso relativamente aos interesses económicos por detrás das guerras e aos seus crimes, jura que os vândalos se irão manifestar contra a NATO, procurando assim juntar no mesmo saco todas as formas de protesto. Este bloco fica à espera ansiosamente que qualquer pedrada justifique o seu discurso. E prepara-se para aumentar o impacto dessa pedrada, até a tornar num míssil das hordas bárbaras capaz de destruir todo o nosso modo de vida, assim como está disposto a minimizar, por exemplo, a morte de civis nas guerras da NATO e a tortura contra prisioneiros de guerra. O seu bom senso pseudo-pacifista é selectivo conforme as regiões do mundo e não se incomoda com a violência de Estado apenas com a das ruas." (...)
Hoje li isto no DN:"O perfil da Esquerda Anti-Capitalista (Madrid) no Facebook foi cancelado depois do partido ter publicado uma convocatória para a participação na Contra-Cimeira da NATO em Lisboa, que decorre este mês na capital portuguesa. (...)
Em comunicado, publicado na sua página na Internet, o partido explica que a decisão "arbitrária" de fechar a página "só pode ser entendida como uma forma de cortar a liberdade de expressão e o uso aberto desta ferramenta informática"."

We were gonna take it all and throw it all away




O Pedro Adão e Silva já aqui falou disto mas o que é que ele percebe disto? O Bruce é mais meu do que dele (é mais meu do que de qualquer outra pessoa), e eu até o trato pelo primeiro nome. Já há muito que o perdoei pela fita na cabeça em 1985 e já há muito que os meus dois dedos de testa me permitiram compreender coisas como a música Born in the USA.

Andava toda a gente (passe o exagero) a ler Chomsky na adolescência enquanto eu ouvia Born to Run, Darkness on the Edge of Town, Nebraska, The River, The Ghost of Tom Joad. Escusado será dizer que vale infinitamente mais uma música como Factory do que todos os volumes d'O Capital em versão anotada. Há certamente álbuns mais políticos mas foi com o Darkness on the Edge of Town que eu comecei a perceber onde estava o lado certo das coisas. Percebê-lo é perceber que ele não faz música no sentido em que outros fazem, é perceber que consegue pôr numa canção aquilo que nos faz remexer nas entranhas, é perceber que a vida não acaba quando nos apercebemos do carácter inalcançável dos nossos sonhos de adolescente. É por isso que o PAS ainda se emociona e é por isso que eu ainda me emociono (embora eu me emocione, claramente, mais). E quem me vier dizer que ele é americanóide capitalista pode ir para o raio que o/a parta mais a sua santa ignorância.

Para a semana sai o álbum em edição especial com um CD duplo de músicas gravadas nas mesmas sessões de gravação, o álbum remasterizado, um DVD com um documentário, um DVD com um concerto e outro DVD com uma performance ao vivo do álbum de uma ponta à outra mais uns bónus.

Doenças de nervos são doenças de ricos

A ministra da saúde anda a braços com a saúde mental: prescrições exageradas, médicos mal formados, despesistas e corruptos. E logo agora que o país está em crise!

Num país hiperdoente e hipermedicado (o que por si só faria sentido) não nos cansamos de ouvir que “já não se pode estar triste”, há países mais pobres e mais felizes, a especificidade de Portugal, o fado, a saudade...

Convinha antes de mais perceber porque é 23% dos portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica no último ano, se estão a ser mal diagnosticados, mal medicados, se os médicos são excessivamente zelosos ou simplesmente uma cambada de burlões.

Depois de ter revogado a portaria dos psicofármacos, Ana Jorge afirmou que ia “definir mecanismos reguladores” que beneficiassem quem realmente precisa, os doentes mais pobres e famintos, assim já a ver-se a barriga de kwashiorkor. Mas lembrando-se da frase da melhor poeta cá do burgo “Vinte anos de psiquiatria deixaram-me com mais 40 kg e uma distensão abdominal que me dá lugar sentado em todos os transportes públicos”, Ana Jorge resolveu reconsiderar e criar excepções para os doentes mentais graves, se assistidos no serviços público e “já" para o próximo ano.

Se o principal problema são as prescrições emotivas face às “prescrições racionais”, porque não implementar de vez a prescrição por princípio activo (ou de uma forma mais pomposa, por denominação comum internacional)? E longe de patentes e receitas trancadas à chave, criar um concurso prévio de modo a que ao princípio activo prescrito corresponda um só medicamento. Reproduzindo o que acontece nas farmácias hospitalares, evitavam-se as diferenças de biodisponibilidade que ocorrem mesmo quando se mantém o princípio activo e se muda de marca, a escolha subjectiva entre uma imensidão de fármacos equivalentes com preços muito variáveis, o problemas da mudança de caixas, paletes, cores ou sabores.

Bem sei que o João Cordeiro (e não só) ia ficar muito zangado e podia até ter, sei lá, uma crise de ansiedade. Caro João, caso isso aconteça, não nego que o ideal era ter o fármaco da melhor família, porsche design, sabor a mentol e "Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo...” de preferência nos champs-élysées, pois “estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo”. Na impossibilidade, o melhor é começar já a poupar.

um espectáculo maravilhoso de se ver

«Zarvan Mandale não tinha aquilo a que chamamos grandes orelhas. As suas orelhas eram normais. Mas era uma pessoa que amuava muito facilmente. Quando Nadav Schiff lhe enfiou uma faca no peito ele, como seria de esperar, amuou um pouco.
- És mesmo idiota - vociferou Nadav, mal-humorado. - Se amuas por te ter enfiado uma faca no peito, nem quero imaginar o que farias se te espetasse um pontapé no cu.
- Não estou amuado - ensaiou Zarvan, sem conseguir disfarçar. - Apenas me quer parecer que estou ferido de morte e isso provoca-me um prurido muito desagradável na planta dos pés.
Nadav fervia por dentro. Detestava o tom mimado do outro. E acho que se pode dizer que por causa disso explodiu ali mesmo, a 43 graus de latitude Norte e 25 graus de longitude Oeste, no meio de um enorme clarão, todo ouro e azul. Foi um espectáculo marvilhoso de se ver».

Há cerca de quinze dias comprei e li este livro de pequenos contos absurdos do meu amigo Rui Manuel Amaral. Desde aí que o revisito constantemente em busca de uma boa risadinha. Até agora não tem falhado. O raio do livro é mesmo bom. E é por isso que vos recomendo a sua leitura.

Resistência Islâmica

Eu ajudo


É tirar subsídios à mandriagem! Chiça, se isto vai lá por tentativas, nunca mais...

A birra


Gorada a tentativa de convocar uma Convenção Extraordinária, alguns militantes do BE fazem agora o extraordinário trabalho de atacar Manuel Alegre desta forma tão brilhante: "Tem figura física altiva que se enquadra no protótipo do macho latino cujo timbre de voz ajuda a transmitir a sua mensagem, principalmente de agrado no eleitorado feminino". Tão fofo, não é?

Andar aos toques



Um seguro automóvel que pensa nas mulheres porque isto de ser mulher é viver numa azáfama constante: a maquilhagem, os rolos, os saltos. A gente é muito distraída, umas cabeças de vento. Numa ida ao shopping, não há tempo para pensar se o carro ficou fechado, travado, estacionado, se bebe gasóleo, gasolina ou pepsi-cola. Uma canseira. Não me venham dizer que é cultural, lateralização cerebral, instinto maternal. É estrutural. “É de gaja”.
Eu, do alto das minhas 45 lições de condução, sou contra o plano cor-de-rosa-toques. É claramente insuficiente. Quero um seguro contra todos os riscos, arranhões ou estaladelas de verniz. Melhor, arranjem-me um motorista. Fica-nos mais em conta.

paradoxos

Manuela Ferreira Leite afirmou hoje, no debate do Orçamento do Estado, que «quem manda é quem paga». A banca afirmou hoje que prevê pagar menos 86 milhões em impostos.

A Europa civilizada e os EUA bárbaros

A rapaziada do The Economist, de uma assentada, manda bojardas xenófobas aos franceses, insulta os protestantes e defende o ultra-conservador, populista, racista e homófobo Tea Party. Agasalhados pelo casaco do Partido Republicano, elegeram dois senadores. Um deles, Rand Paul, fala em voltar atrás na legislação de direitos civis dos anos 60. Outros, têm posições mais de homem, outros, como Christine O'Donnell, já defenderam a aprovação de leis anti-masturbação e continuam a opor-se ao aborto mesmo em casos de violação e/ou incesto. Isto tudo misturado com posições contra a Segurança Social, contra a criação de um serviço público de saúde, a favor da desregulação da posse de armas, torna bem perceptível a simpatia da rapaziada do The Economist pelo movimento. Aliás, num dos pontos mais importantes a ter em conta na avaliação de qualquer movimento político, eles passam com distinção: não são como os arruaceiros dos franceses, "among tea-partiers it is a point of pride that their large but orderly rallies leave barely a crumpled candy wrapper behind them". São asseadinhos e isso é o que importa. O grau de civilidade destes amiguinhos é até bem visível aqui neste vídeo tão lindamente narrado:





Ainda bem que deste lado do Atlântico somos todos mais razoáveis.

O princípio do pagante mandante

O princípio enuncia-se facilmente: quem paga manda. Dito de outra forma poderia ser: manda quem paga e obedece quem deve. E quem manda? O mercado, o mercado, o mercado.

A estratégia para remediar a situação também se enuncia facilmente: finja-se. Daí que fosse mesmo melhor suspender a democracia por alguns meses, colocar actores no Parlamento e fingir que todos concordamos. Assim, o poderoso e parolo mercado cairia na esparrela e o país salvar-se-ia da crise. No meio disto tudo, já que já sabíamos que se considerava a subserviência a estes mandantes como a via única, a novidade é apresentar-se a democracia como um pormenor irritante do ponto de vista de um qualquer professor de finanças.

A política cavaquista é fingimento. E chega a fingir que é fingimento a tendência autoritária que deveras sente.

Apelo conjunto dos movimentos de trabalhadores precários à Greve Geral

Nós, movimentos de trabalhadores precários, apoiamos a convocação da Greve Geral no próximo dia 24 de Novembro. Reforçamos o apelo da CGTP, à qual se juntou já a UGT e todo o movimento sindical. Apelamos à mobilização do conjunto da sociedade portuguesa, para exigir outras saídas e dar prioridade às vidas concretas de milhões de pessoas. Ler mais...

Cavaco S. hasn't added any tips near Linda-a-Velha yet.


É isto que aparece quando clico numa das redes sociais da página do candidato Cavaco Silva. Pela conversa, percebe-se logo que é o Fernando Lima que está a gerir esta página.

Somos muito especiais

Aqui há atrasado tive a oportunidade de mostrar a tromba dos funcionários da Minoria Relativa no feicebuque. Hoje, dia de festa, faço-o em modo Fátima Campos Ferreira: para os portugueses que estão lá em casa. É uma clarificação necessária: quem somos e ao que vimos. Devo dizer-vos que, embora birrentos, não temos tendência para a ordinarice nem para fugir ao debate:

Pelo contrário, dispomos de tecnologias foucaultianas para fazer calar as vozes mais excitadinhas que nos têm dado o prazer da sua companhia:

:)

Viva a Minoria!

ladrar


«Em las cercanías de la Universidad de Stanford, pude conocer otra universidad, más chiquita, que dicta cursos de obediencia. Los alumnos, perros de todas las razas, colores y tamaños, aprenden a no ser perros. Cuando ladran, la profesora los castiga apretándolos el hocico con el puño y pegando un doloroso tirón al collar de pinchos de acero. Cuando callan, la profesora los recompensa el silencio con gulosinas. Así se enseña el olvido de ladrar».

Estas palavras, emprestadas por Eduardo Galeano, servem para assinalar o primeiro aniversário da Minoria Relativa.

Não estou cá desde o ínicio. Entrei apenas em Fevereiro, mas ouso dizer que na Minoria a caravana não passa. Aqui, ladramos e mordemos.

A quem cá esteve e já não está, aos e às que entraram posteriormente e a todos e todas que nos vão lendo, digo: tem sido um prazer ladrar e morder convosco!
[A imagem é de Barbara Kruger]