o novo alfabeto


Anda para aí uma má onda contra Nogueira Leite. Primeiro, tentam diminui-lo dizendo que ele só vai para administrador da CGD porque é do PSD. Ora, Fernandes Thomaz também só para lá vai porque é do CDS. E, pergunto, não foi sempre assim? Nada disto traz novidade. É apenas a inveja a falar mais alto.

Atacam-no também quando dizem que ele é um dos homens de mão do Grupo Mello e que a sua nomeação configura uma grotesca sobreposição dos interesses privados aos interesses públicos. Tudo isto porque o homem que colecciona cargos nas empresas do Grupo Mello vai para a CGD e esta vai vender a sua parte numa grande empresa de saúde? Pfff... já vi melhores argumentos.

Eu sou das que não só apoia como leva grande fé em homens providenciais como Nogueira Leite. É que não é qualquer pessoa que consegue viver num alfabeto de 14 vogais, uma vice-presidência e um conselho consultivo. Mais, Nogueira Leite ainda consegue retirar um tempinho à azáfama diária para ser vice-presidente do PSD e conselheiro de Pedro Passos Coelho. E, pasme-se, tudo isto em 24 horas. É de gente assim que o país precisa.

Nogueira Leite apenas coloca um problema que deve ser analisado com alguma delicadeza, uma vez que pode ferir susceptibilidades mais sensíveis. Com ele, a parangona Jobs for the Boys não faz muito sentido. O uso do plural não se aplica porque a extrema produtividade de Nogueira Leite pode conduzir ao acantonamento dos Boys no desemprego.

Esta é a constelação de afazeres que Nogueira Leite coleccionava em 2010:

Vogal do Conselho de Administração da Brisa Auto-Estradas de Portugal SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Químicos Industriais, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Adubos, SA; Vogal do Conselho de Administração da José de Mello Saúde, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da SEC - Sociedade de Explosivos Civis, SA; Vogal do Conselho de Administração da EFACEC Capital, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Expocomitur - Promoções e Gestão Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Herdade do Vale da Fonte - Sociedade Agrícola, Turística e Imobiliária, S.A.; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária e Turística do Cojo, SA; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária da Rua das Flores, n.º 59, SA; Vogal do Conselho de Administração da Reditus, SGPS, SA; Vice-Presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment, SA; Membro do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão do Crédito Público.

Quem for capaz de fazer melhor, que atire a primeira consoante.

O programa do governo mastigado pelos precários

O movimento Precários Inflexíveis analisou o programa do governo e as suas intenções de acelerar a precarização do país. E em seguida publicou um documento a explicar tudo por capítulos: Contrato único, Banalização do trabalho temporário, Perseguição aos desempregados, Legalização dos falsos recibos verdes, Redução da Taxa Social Única, Cortes e privatização da Segurança Social, Imposto extraordinário, Privatização de serviços públicos, Desvalorização do trabalho e Facilitação e embaretecimento dos despedimentos. Leitura obrigatória!

Sinos e saliva

Mas o que é que quer dizer o "C" em "UCP"? Hmmm?

O homem do lixo

O caso das escutas ilegais em Inglaterra parece dar início à queda de Rupert Murdoch, o magnata da News International. Este grupo de comunicação dispôs de uma autêntica rede de espionagem sobre políticos, celebridades e não só: os investigadores deste escândalo confirmam 4000 pessoas na lista de alvos de vigilância do detective privado suspeito de violar os "voice mails" dos telemóveis.

O News of the World, tablóide campeão de vendas ao domingo, pagou durante anos a agentes e responsáveis policiais para obter informações confidenciais sobre gente poderosa, entre eles alguns adversários do grupo. A violação dos "voice mails" foi denunciada primeiro pelo príncipe William e a investigação que condenou um editor e um detective privado apontava para a existência de apenas mais oito pessoas escutadas da mesma forma. O responsável pela investigação foi Andy Hayman, o oficial de polícia que liderou o contraterrorismo em Inglaterra entre 2005 e 2007, altura em que foi obrigado a demitir-se sob suspeita de fazer despesas sumptuárias. Foi então contratado como colunista dos jornais do grupo News International

Os tablóides ingleses de Murdoch lucraram quase 100 milhões de euros em 2010, um dos anos mais complicados para os grupos de imprensa. A ambição do magnata era comprar a totalidade da cadeia televisiva BSkyB e aumentar ainda mais a influência que já tem sobre a política do país: Andy Coulson, o editor do News of the World que saiu na sequência das condenações das escutas em 2007, tornou-se em seguida director de comunicação dos Conservadores. Com a eleição de David Cameron no ano passado, Coulson foi para Downing Street dirigir a comunicação do primeiro-ministro e ganhar o salário mais alto de todos os assessores do governo... até se ter demitido de novo em Janeiro, pelo avolumar das suspeitas sobre o seu papel encorajador do uso das escutas para produzir manchetes.

Nos Estados Unidos, Murdoch detém a licença de 27 canais, entre eles a Fox News, defensora da guerra do Iraque e da administração Bush e por onde já passaram como comentadores os principais candidatos republicanos às próximas presidenciais. Mas se se provarem as suspeitas de que o grupo usou o mesmo método para escutar os "voice mails" de vítimas do atentado de 2001 nas Torres Gémeas, dificilmente encontrará quem o defenda, mesmo entre a direita que recebe generosos contributos financeiros do magnata.

Neste escândalo que vitimou o maior jornal de escândalos, as ligações perigosas entre os media, a política e a polícia compoem uma teia de favores e chantagens que provavelmente nunca será conhecida. Muita da informação privada recolhida não foi publicada, mas poucos crêem que não terá sido usada para servir os propósitos do todo-poderoso grupo mediático agora caído em desgraça. Até a primeira comissão de inquérito ao escândalo optou por não convocar Rebecca Brooks, a ex-editora e agora administradora do grupo que se transformou na vilã deste caso:  despediu 200 jornalistas que nada tinham a ver com todos estes crimes, anunciando ao mesmo tempo que não se demite do cargo que detém na empresa. Ao que parece, os membros da comissão de inquérito tiveram receio das represálias do grupo e optaram por não arriscar ver alguma parte menos favorável das suas vidas expostas no Sun ou News of the World.

A queda de Murdoch é uma boa notícia para a liberdade de imprensa e para a democracia, independentemente do terramoto político que venha ainda a provocar. E é animador saber que no fim da história acaba por ser o jornalismo que está de parabéns: foi na redacção do Guardian, indiferente aos recuos na Justiça, que avançou a investigação para saber a verdade por detrás das escutas, ao ponto da Justiça não poder agora ignorá-la. A petição que corre em Inglaterra para que os políticos assumam as suas responsabilidades - e promovam um inquérito público que vá até às últimas consequências em vez de tentarem abafar a extensão da teia montada - diz-nos que a sociedade está vigilante em defesa da informação contra a manipulação. É sempre boa altura para limpar o lixo...

(também publicado no esquerda.net)

O Ensino Superior e o cabelo de PPC

Diz o programa deste governo que "o reforço da capacidade das Instituições do Ensino Superior é essencial para a cultura, o desenvolvimento e a afirmação do País nas diversas áreas do conhecimento".

As verbas do Orçamento de Estado destinadas ao Instituto Politécnico de Leiria diminuirão em quase 17%. A verba chegará para cobrir cerca de 80% dos vencimentos dos seus funcionários.

O que é que isto nos diz? Diz-nos que, para além de este governo não fazer a mínima ideia de para que raio serve o Ensino Superior, ele está disposto a sacrificá-lo em nome de um acordo que nos levará à bancarrota e que o programa de governo vale tanto como o pente que puxa a franja de Pedro Passos Coelho para a direita.

Cultura feat. Michael Bolton & Rita Guerra




A Cultura que, sendo despromovida a Secretaria de Estado, foi promovida passando a estar na dependência directa do Primeiro Ministro, está, como o próprio PM, em actualização. Mas alguma coisa boa devem estar a fazer, os resultados já estão aí bem à vista.

Elementary, my dear Moody.

A malta está chateada. A Moody's declarou-nos lixo. Acha que não vamos conseguir sair da espiral recessiva e que vamos precisar de outro empréstimo.

À Esquerda já se dizia isto há algum tempo mas a malta fica chateada na mesma porque a Moody's serve o grande capital e mais não sei o quê. Os governos têm respondido às agências de notação com austeridade e teme-se que a resposta venha em forma de mais austeridade. Mas aí a chatice é mais com o governo do que com qualquer agência de notação. Só chateia mais porque as previsões destas agências têm a característica de serem "self-fulfilling prophecies".

À Direita, cumprido o papel de bom aluno que se senta na fila da frente e que interrompe para fazer perguntas merdosas, o chumbo é sentido como um murro no estômago.

Mas o mais interessante é o maralhal. O maralhal, como quem canta o hino no 12 de Março, ficou lixado. Depois de se ter manifestado contra a precariedade, foi a correr com o rabinho entre as pernas votar em quem propunha precariedade e austeridade. "Toma lá Sócrates que já almoçaste", não foi? E agora a Moody's tem a desfaçatez de classificar a pátria de D. Afonso Henriques como lixo. É também para estes um murro no estômago mas, diga-se, não só se puseram a jeito como estavam mesmo a pedi-las.

A verdade é que a Moody's, ao perceber que este caminho torna o pagamento da dívida impossível, é a única até agora a avaliar bem a nossa situação. E, contra isso, batatas.

Já só faltam 25 mil assinaturas!



A Iniciativa Legislativa de Cidadãos já recolheu 10 mil assinaturas de eleitores proponentes duma "Lei Contra a Precariedade". É uma lei que cria mecanismos simples para ultrapassar as situações mais típicas de precariedade: os falsos recibos verdes, a contratação a prazo para funções permanentes e a intermediação abusiva por empresas de trabalho temporário.
Para que esta Lei Contra a Precariedade possa ser a primeira iniciativa legislativa de cidadãos a chegar ao Parlamento português, recolhe tu também uma ou mais folhas destas (download aqui) e segue as instruções de preenchimento.

pic-nic contra a precariedade


O convite para este piquenique é assinado pelo Movimento 12 de Março (M12M), pela Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), pela CGTP/Interjovem e pela Juventude Operária Católica (JOC).

Pretende-se que neste piquenique sejam discutidas iniciativas e formas de luta futuras para combater a precariedade no trabalho. Do programa fazem parte mesas redondas e debates, música e performances.

É já no sábado, a partir das 10 horas, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.