A liberdade tem destas coisas. Quando funciona a sério, funciona tanto para a "emancipação" como para a "dominação" e isso é uma coisa que faz uma comichão desgraçada a alguma Esquerda. Ávidos leitores da imprensa alternativa e convencidos que descobriram a "matrix" da nossa realidade, armam-se em Keanu Reeves e desatam a disparar contra as conspirações feitas nas costas dos ignorantes indivíduos, desconfiando de tudo o que mexe e identificando opressão em cada buraco de estrada.
Mais do que defensores da liberdade, estes cruzados defendem, antes, uma esterilização purificadora e "emancipatória" da vida social, empenhados que estão em desmascarar, tudo e todos. Pior, acreditam que este tudo e todos é composto por indivíduos que ou são ingénuos ou fazem parte da trama maquiavélica. O distúrbio já está mais do que documentado na psicologia mas não é essa a perspectiva que aqui me interessa.
A crítica (discutida aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo) aos anúncios publicitários da Super Bock e da Vodafone constituem material para um bom estudo de caso a este respeito. Na publicidade não vale tudo, é certo, mas daí a atribuir à publicidade uma capacidade estruturante na nossa sociedade, vai um bom bocado, tal como vai um bocado de não gostar de um determinado anúncio a acusá-lo de ser opressor de um determinado grupo social. Todos os dias, através dos meios de comunicação (não só através da publicidade que contêm mas também através dos próprios artigos) somos aliciados a consumir, somos confrontados com imagens que constituem referentes simbólicos aos quais queremos aderir através do consumo, esteja ele relacionado com a imagem do corpo, hábitos alimentares, práticas culturais, ou outra coisa qualquer. Ora, partindo do princípio que a publicidade não é, em si, maléfica (mas temo não ser acompanhado por toda a gente quando o faço), a grande questão põe-se ao nível da capacidade de interpretação destas mensagens de sedução. É precisamente aqui se estabelecem todas as diferenças. Mais do que "limpar" a esfera pública de todas as más influências da publicidade - que, como é óbvio, serve os interesses de capitalistas gordos que fumam charutos cubanos -, trata-se de garantir a liberdade de publicação destas mensagens num contexto social reflexivo e crítico que só pode ser alcançado através de boas políticas de educação. Mas isso é outra discussão e outros quinhentos. Creio, aliás, que os consumidores estão cada vez mais informados e cada vez mais capazes de ponderar as suas escolhas.
Agora, que não é possível ser-se pelo povo e, ao mesmo tempo, desconfiar de toda gente, isso parece-me evidente.
Mais do que defensores da liberdade, estes cruzados defendem, antes, uma esterilização purificadora e "emancipatória" da vida social, empenhados que estão em desmascarar, tudo e todos. Pior, acreditam que este tudo e todos é composto por indivíduos que ou são ingénuos ou fazem parte da trama maquiavélica. O distúrbio já está mais do que documentado na psicologia mas não é essa a perspectiva que aqui me interessa.
A crítica (discutida aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo) aos anúncios publicitários da Super Bock e da Vodafone constituem material para um bom estudo de caso a este respeito. Na publicidade não vale tudo, é certo, mas daí a atribuir à publicidade uma capacidade estruturante na nossa sociedade, vai um bom bocado, tal como vai um bocado de não gostar de um determinado anúncio a acusá-lo de ser opressor de um determinado grupo social. Todos os dias, através dos meios de comunicação (não só através da publicidade que contêm mas também através dos próprios artigos) somos aliciados a consumir, somos confrontados com imagens que constituem referentes simbólicos aos quais queremos aderir através do consumo, esteja ele relacionado com a imagem do corpo, hábitos alimentares, práticas culturais, ou outra coisa qualquer. Ora, partindo do princípio que a publicidade não é, em si, maléfica (mas temo não ser acompanhado por toda a gente quando o faço), a grande questão põe-se ao nível da capacidade de interpretação destas mensagens de sedução. É precisamente aqui se estabelecem todas as diferenças. Mais do que "limpar" a esfera pública de todas as más influências da publicidade - que, como é óbvio, serve os interesses de capitalistas gordos que fumam charutos cubanos -, trata-se de garantir a liberdade de publicação destas mensagens num contexto social reflexivo e crítico que só pode ser alcançado através de boas políticas de educação. Mas isso é outra discussão e outros quinhentos. Creio, aliás, que os consumidores estão cada vez mais informados e cada vez mais capazes de ponderar as suas escolhas.
Agora, que não é possível ser-se pelo povo e, ao mesmo tempo, desconfiar de toda gente, isso parece-me evidente.
11 comentários:
Foste muito bem até à panaceia das «boas políticas de educação». Um «contexto social reflexivo e crítico» também se constrói na luta simbólica pelos imaginários e representações prevalecentes no espaço público, onde se encontra, por exemplo, a publicidade. Mais: escolarização e literacia conferem competências descodificadoras aos consumidores. Correcto. Mas o grau de progressão das competências é proporcional ao grau de sofisticação da publicidade. Nada contra: mas não é líquido um final feliz. É a vida.
Percebo o que dizes mas eu nunca indiquei a possibilidade de um final feliz. O que fiz foi fazer o raciocínio ao contrário do que acabaste de fazer. Se é certo que a publicidade se sofistica e adapta, então, os consumidores também terão que o fazer e, para isso, é preciso que o sistema educativo também se sofistique e adapte.
É um movimento dialéctico perpétuo, se preferires... ;)
Às vezes um comentário não tem que fazer sentido: Rinoceronte.
Anónimo, quem conhecer as proporções do meu nariz judeu, não achará o comentário sem sentido. :)
Caro Diogo, apelidar de paranoicos Chomsky, Deleuze, Debord, Benjamin, LeFebvre, Certeau e Foucault (só para citar alguns) - tudo personagens que discorreram sobre esta matéria com a tal "paranoia" e com essa vontade de "purificar" ou "esterilizar" o espaço publico parece-me, no minimo, uma leitura pouco esclarecida sobre a contemporaneidade. mas cada um agarra-se ao que quer...
Uma coisa é identificar estruturas, outra é fazer leituras estruturalistas da sociedade. Mas, de facto, esse é um erro de muito neo-marxistas. O que é que se há-de fazer?
neo-marxistas? ò meu amigo, nao fales de quem nao conheces...
e se consideras que todos os personagens que referi sao estruturalistas, é melhor reveres o abc dos pensadores de esquerda...
sobre esta matéria, com mais tempo, escreverei algo...
Então deixo-te dois pedidos:
1º - lê com atenção o que escrevo;
2º - dá-me lá umas indicações para eu passar a perceber.
Diogo, tens de aceitar que demasiada liberdade de escolha é, pelo menos, pouco estético. ihih. Concordo com o Rafael portanto. Agora o que me parece estranho é que este, pelo paleio, parece dos bons (comuna), mas a bibliografia que apresenta não é muito autorizada. Desculpa, mas quem é o teu controleiro? Sabe que andas a ler essas merdas?
Diogo, eu leio tudo com atençao (faço é as minhas interpretaçoes...)
AP, se soubesses, ainda ficavas surpreendida com a liberdade que me dá o meu "controleiro" (sic)...mas nao quero contar-te, ainda acabavas militante do PCP ;)
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