Pietro Masturzo receberá, no próximo dia 2 de Maio, o prémio World Press Photo. A fotografia que lhe valeu o galardão mostra uma mulher, debruçada de um terraço sobre Teerão, gritando, de mãos em concha à volta da boca, sobre a cidade, entre outras duas figuras femininas. Para além do necessário contexto - a mulher estaria a gritar, em coro com a multidão em baixo, em protesto contra a reeleição do Governo de Mahmoud Ahmadinejad, essencial à estrutura do evento, esta fotografia traz consigo um sentido de dignidade que, na minha opinião, nos concursos da World Press Photo (WPF) já ameaçava diluir-se num triste voyeurismo.
A tentação, em especial para os bons fotógrafos, de acreditar que a fotografia pode comunicar sem palavras é perigosamente recorrente e quando um bom fotógrafo é também um jornalista, o resultado surge, muitas vezes, minado por um expressionismo que se pode tornar grosseiro ou mesmo cruel. Lembro a fotografia vencedora do ano de 1963 em que, pese embora o contexto da sua produção, muita humanidade é, na minha opinião, sacrificada ao ensejo de comunicar. O delicado limite entre a comunicação e a denúncia deverá ser o ponto em que as fotografias da WPF acontecem e, atrevo-me a dizer, esse equilíbrio nem sempre existiu, por razões que se prendem com o próprio mercado da comunicação.
Nesta fotografia de Pietro Masturzo, o sentido operático da cena é sublinhado pela perspectiva que nos mostra sucessivas linhas de casas, em primeiro plano e ao fundo, criando um lastro para as figuras aparentemente solitárias num terraço. Plasticamente, é uma fotografia rica, de cores orgânicas, uma paleta que se associa facilmente a uma certa temperatura psicológica.
Não havendo nada de chocante ou perverso nesta fotografia, torna-se difícil deixar de lembrar outras imagens, das Mães da Praça de Maio argentinas, de momentos políticos e sociais em que a voz das mulheres foi determinante para a denúncia das condições de um país ou de uma comunidade.
Destaque ainda para a galeria de Retratos onde Willeke Duijvekam apresenta a série "Eva, the transgender teenager". É com muita alegria que vejo reconhecido o trabalho de Eugene Richards, galardoado com o primeiro prémio na categoria "Contemporary Issues" pela reportagem da Sunday Times Magazine acerca dos militares regressados do Iraque.
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