Comentava comigo uma psiquiatra-em-construção (que não é pateta) que nem Freud chegou a tanto. Pensando bem, Bruno Sena Martins, conhecedor reputado da História da Sexualidade, jamais diria esta enormidade:
Se é verdade que o celibato está longe de ser causa única na relação entre sacerdócio e pedofilia, custa perceber que tanta sapiência iluminada falhe em perceber esta coisa prosaica: a repressão sexual de adultos investidos de uma especial autoridade moral – reconhecida junto das comunidade de fé - é um perverso “facilitador” do abuso de menores.
*Se não é igual é mais ou menos: vai lá parar.
Adenda: cf. Ana Matos Pires aqui.
*Se não é igual é mais ou menos: vai lá parar.
Adenda: cf. Ana Matos Pires aqui.
6 comentários:
Não vejo a contradição. Expõe o teu argumento.
Simples: bem ou mal - e isso fica para um copo noutro lado - o sacerdócio obriga ao celibato e o celibato significa abstinência. Ora ao contrário dos manuais de educação sexual que encontras na sede do teu partido, a abstinência é uma forma de construir - e não necessariamente de reprimir - a sexualidade. Sobretudo graças ao século XX. Alegarás que os custos da transgressão (arranjar uma sobrinha) são demasiado altos pelo facto de representarem um convite ao abandono do ministério sacerdotal. Pois: como não podem foder a sobrinha desenrascam-se como o Rui Miguel. É aliás por isso que os abusos sexuais de menores tendem a ser perpetrados por adultos castos e virgens, não é? É olhar para a realidade. Terás razão se me argumentares que os modelos educativos (i.e. recrutamento) religiosos são particularmente propícios ao encobrimento e à perpetuação. Não há dúvida de que são. Mas pensar que as angústias da opção celibatária são o seu potencial doentio parece-me ideia que só não é peregrina porque é demasiado popular.
Valeu.
Primeiro Foucault: a ideia que a sexualidade é mais produzida através de estratégias positivas do que reprimida colhe bem para a análise da idade clássica, para a sociedade vitoriana, mas não é exportável para o sacerdócio católico - poderia, porventura ser exportável para a análise da relação da igreja católica com a sexualidade, mas, insisto, não para a lógica que há 10 séculos obriga os padres católicos ao celibato.
Suponho que invocasses em ter favor algo próximo desta citação:
"Em vez de se partir de uma repressão geralmente admitida e de uma ignorância conforme ao que se procura saber, há que partir destes mecanismos positivos, produtores de saber, multiplicadores de discursos, indutores de prazer e geradores de poder, segui-los nas suas condições de aparecimento e de funcionamento e procurar ver como se distribuem relativamente a eles as parcelas de interdição e de ocultação que lhes estão ligados." Foucault
Ora, esta ideia pouco nos oferece para a análise da ética católica do celibato (a menos que o entendas como uma forma rebuscada de tornar o sexo mais gostoso). É verdade que um padre quando é ordenado sufraga a ideia do celibato, mas isto não implica que dentro do celibato a abstinência não possa forjar um reprimido (aqui estamos nas redondezas de Freud).
Ou seja, o celibato é uma ética religiosa que prescreve uma abstinência sexual e na medida em que queiras manter dentro dessa ética (porque interiorizaste o valor religioso do serviço sacerdotal, porque identitaria e ontologicamente te vês como padre), o celibato pode constituir de, de facto, uma forma de de repressão da sexualidade. Estamos a falar menos da produção de uma narrativa de poder que coreografa e produz os termos da sexualidade, do que uma narrativa de renúncia em que se prescinde do sexo e reconhece à sexualidade o poder do "grande outro", aquele interdito que, a mim sacerdote, me define e aparta dos demais.
"Alegarás que os custos da transgressão (arranjar uma sobrinha) são demasiado altos pelo facto de representarem um convite ao abandono do ministério sacerdotal. Pois: como não podem foder a sobrinha desenrascam-se como o Rui Miguel."
Atenção, eles podem ter uma sobrinha menor e um Rui Miguel com que preferem foder (o que eu detesto dizer asneiras). Caro Tiago, a questão é que em muitos casos a pedofilia dá-se dentro de uma luta interior em que as pulsões da carne e os valores sociais (mais ou menos interiorizados) se debatem. Nesse sentido, os menores surgem como alvos frequentes, por uma questão predatória oportunista, e por uma fuga à inscrição do acto sexual no quadro das relações sociais: a uma criança é mais fácil negar a subjectividade de outro e o estatuto de testemunha ameaçadora: ameaça o estatuto social do padre e, muitas vezes, a consciência semi-martirizada interessada em não se confrontar com o testemunho acusatória.
Obviamente que há padres que molestam crianças numa busca desesperada por sexo, há pedófilos e padres pedófilos - estes últimos vão continuar a preferir crianças mesmo que Bento XVII instale um elefante branco ao lado da capela Sistina.
abraço
XVI, XVI
Eu diria que a solução para este dilema (que, diga-se de passagem, me tem transtornado profundamente nos últimos tempos) requer nada menos que um abalo na economia-política das instituições católicas. Não sou eu quem diz. É a Sarah Silverman. Vender o vaticano = acabar com a fome = ""ca-razy pussy" para o santo padre. Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=3bObItmxAGc
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