foda emancipatória

Muito embora bastante apreciado aqui, este contributo de Raquel Freire para o debate em torno do sexismo e publicidade é simplesmente o pior serviço que poderia ser prestado à luta feminista. Não desconstrói porra nenhuma, excepto o que a fulana traz na cabeça e que aplica tanto às cuecas da prima como às finanças públicas ou à teoria das cordas. O que menos lhe interessa é o anúncio da Stout: está ali para debitar agenda. Corpos inteiros? Cérebro? Nunca duvidei da inteligência daquele corpo nem de que estaria seguramente comandado por uma cabeça pensante. Pelo que lamento estragar o argumento à cineasta especialista em Pavlov (básicos são os outros, né?), mas é puro preconceito pensar - ou pensar que os outros pensam - que as mamas são sinónimo automático de descerebralização. Não são - às vezes. Ou seja, tem dias. Vareia. So what? Complexidade, ambiguidade e reificação fazem parte do governo e do cuidado de si e dos outros, tanto em relações de poder desiguais e patriarcais como na partilha equitativa da autoridade. E com muita pena minha as coisas não podem começar do zero. De resto, por mais que sejam conhecidos enquanto estratégias rasteiras de descredibilização argumentativa, mimos sociológicos como justicialismo ou engenharia social ganham assim um sentido de oportunidade flagrante (e posso ser poupado à lenga-lenga chantagista de que estar quieto é reproduzir a ordem dominante: comigo não cola).

Perita em como se deve desejar os corpos (e por sua vez marcas e produtos, porque com toda a psicanálise do mundo os nexos operam assim e pelo que tenho lido ultimamente arrisco afirmar que vivemos entre o socialismo e a publicidade e eu sei que não estou daquele lado), fornece um manual do bom desejo ergo da boa publicidade que, por mais feminista e radical que Raquel Freire se julgue, rendunda em qualquer coisa entre a decência beata à Modas e Bordados e um és tão boa que até militava contigo no BE. Redige assim o código moral do aceitável e do censurável no sentido de proteger bem protegida uma mulher-álibi que, em bom rigor, não existe senão para o seu discurso autorreferencial. Comentários como o de Raquel Freire só podem ser combatidos com camiões de feminismo. Mesmo para os mais cépticos, está visto que faz afinal muita falta.

10 comentários:

Diogo Augusto disse...

Por muito que concorde com o que dizes aqui, temo que te estejas a transformar na Fernanda Câncio do MR.

Anônimo disse...

Ena bem, ainda não ouvi o comentário da raquel na Antena 1, nem o posso ouvir agora, só logo á noite mas ainda assim e não pondo em causa o que postaste (precisamente porque não ouvi o comentário da R) confesso que começo a ficar preocupada contigo:) tá tudo bem? O tom e a forma da tua escrita começa a ficar perigosamente parecida com a do carlos vidal do 5 dias, e olha que isso não é um elogio, pelo menos dito por mim :)

magda alves

Andrea Peniche disse...

Este meu computador não tem placa de som. Irra, nunca mais é logo à noite para ver se a fúria do Diogo se justifica.

Diogo Augusto disse...

Andrea, longe de mim não ser solidário com um colega de blog, mas toda a fúria aqui presente é do Tiago. Isto sem prejuízo de, caso seja democraticamente decidido que o blog deve contemplar o comentário da Raquel Freire com uma fúria desmedida, eu fazê-lo também. ;)

Anônimo disse...

retórica ressabiada sem consequência.

Frederica Jordão disse...

É um comentário pobrezinho e desmiolado mas também não é razão para tanto ódio... Menos desconstrução e mais acção!

Tiago Ribeiro disse...

Fernanda Câncio e Carlos Vidal: só falta a Vera Lagoa.
Anônimo, graças a Deus contamos com a firmeza e consequência dos seus comentários.
Frederica, é tontinho e tolerado com o porreirismo de sempre. Ela não é inimputável nem está «acima dos partidos», como o Cavaco e Silva :)

Frederica Jordão disse...

Mas pensa que, ao contrário do Cavaco e Silva, o que ela diz vale o que vale... Nem lhe ouvi nada de chocante, apenas o eco do vazio...

AP disse...

Pois eu gosto. Finalmente, nestes tempos de criatividade ortográfica e de mansidão na imensidão, haja quem ponha os pontos nos i's, trace os traços dos t's e coloque as consoantes mudas nos devidos sítios. É demasiado importante a desmistificação destes discursos para correr o risco de não ser ouvido com os afagares no cabelo e os tapinhas nas costas.

Anônimo disse...

Ah Tiago... Isso é que é maré alta! É o Diogo a concordar comigo e eu a concordar contigo... Pelo andar da carruagem não sei onde isto vai parar. Unidade! Unidade! Unidade!

Renato Teixeira

(Magda... consta que o Carlos Vidal ficou muito consternado com o teu desdenho...)

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