O Eduardo Nogueira Pinto explica-nos aqui porque é que não percebemos nada de nada. Diz ele, e passo a citar "Fazer do Óscar a Kathryn Bigelow um marco na luta feminista – como certa esquerda do tipo gaiola aberta está fazer – é mais ou menos o mesmo que eu e as minhas barbas sairmos à rua a festejar uma vitória do velho Fidel". Passando ao lado do humor não conseguido, a verdade é que destacar-se Kathryn Bigelow como a primeira mulher a ser galardoada com o Oscar de melhor realizadora não faz parte de uma estratégia de um qualquer feminismo torpe tampouco de uma esquerda com síndrome de Piu Piu e silvestre. Para além de ser uma evidência - até prova em contrário a Kathryn Bigelow é uma mulher, é realizadora e foi a primeira mulher realizadora a receber uma estatueta dourada -, a verdade é que o que alguns sectores enaltecem é a capacidade da academia em, finalmente, premiar uma mulher com este galardão. Kathryn Bigelow não ganhou o óscar por ser mulher; Kathryn Bigelow ganhou o óscar apesar de ser mulher.
p.s. Quanto à barba de Eduardo Nogueira Pinto e a sua exaltação pelas vitórias de Fidel Castro, não estou cá para contrariar ninguém.
8 comentários:
No Publico espanhol de hoje, vem uma critica que me parece bastante pertinente relativamente às "oscarizadas", dando uma leitura um pouco diversa. O filme de Kathryn Bigelow, que eu nao vi, é apresentado como o primeiro filme "aprovado" pelos neo-cons sobre a guerra do iraque e logo, tambem, uma opçao politica...
Aconteceu o mesmo em 2002 quando a Hale Berry ganhou o Óscar de Melhor Actriz. Na altura, notei um certo laivo de comiseração nos comentários quando sublinhavam "a primeira mulher negra...". Isto é mesmo uma faca de dois gumes, não é?
É completamente irrelevante para mim e para as minhas esperanças de mudança um prémio de uma menina rica nos óscares de hollywood.A mudança não passará por ai...
Alexandre, passa também por aí. Passa, aliás, por todo o lado e independentemente da riqueza das pessoas em casa.
Alexandre se é certo que os vários eixos de discriminação (por exemplo, o sexo e a classe social) quando se cruzam acentuam as desigualdades, neste caso parece-me que a riqueza das pessoas se torna um pouco menos relevante.
Sim, sem dúvida que, independentemente das classes originárias, a mudança social é sempre relevante. A minha provocação é mais política que outra coisa, questiono o grau de relevância desta notícia, quando ela reporta a uma classe pouco representativa (o mundo de cristal de Hollywood), e ao carácter prático destas mudanças para o mundo "real" e pouco ou nada abastado.
Além disso, por vezes questiono-me acerca de outro factor: é sempre uma vitória para o feminismo a representação das mulheres em qualquer esfera de poder, independentemente de quem falamos? Por exemplo, representaria uma Manuela F. Leite primeira-ministra um avanço para a emancipação feminina, só por termos uma mulher no cargo de poder, mesmo tendo ela assumido características masculinas e retrógradas inerentes ao concurso do cargo?
No fundo é a velha dialéctica entre um feminismo liberal que almeja a igualdade mas não promove a mudança, ou um feminismo que carregue em si uma perspectiva revolucionária.
Alexandre,parece-me que não discordamos no todo, talvez em parte. O meu post vem no sentido de contrariar a ideia expressa no post do E. Nogueira Pinto, a que me remeto, de que o movimento feminista pegou neste prémio como se de uma enorme conquista se tratasse. Não foi isso que algum sector feminista fez (e não estou aqui a falar, obviamente do modo como a notícia surgiu na comunicação social). O que ressalta é que meios muitas vezes fechados às mulheres começam a reconhecer o mérito destas apesar do género. Isto não traduz,obviamente um avanço no sentido da revolução, mas as pequenas reformas também são importantes. Eu não sei se para o feminismo é sempre uma vitória a representação das mulheres em qualquer esfera de poder. A vitória é que a essas mulheres não lhes seja vedada essa representação por serem mulheres. Exemplo prático, eu concordo com as quotas, mas dispensava matildes sousa francos e rosários carneiros que pouco fazem pela luta feminista.
Estamos meio de acordo então (:
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