Professor Galamba

Diz ele assim:


Para além de usar brinco (palavra de honra) e de não saber escrever decentemente a palavra «possibilidade», João Galamba consegue condensar numa só frase toda a sua imbecilidade. Se lhe acrescentasse que os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas (coisa que ele insinua, mas isto tem de ser dito em modo lenga-lenga), então poderia dedicar-se à astrologia ou, como é mais ambicioso, teria argumento bastante para uma tese de mestrado em economia doméstica e seria um qualificado profissional liberal. Eu, que sou de esquerda, nunca lhe chamaria mulher-a-dias, antes aquela senhora que vai lá a casa de vez em quando. Mas adiante.

Para o que aqui nos interessa, devo dizer que não me parece necessário chumbar a matemática ou partilhar todas estas visões da ciência económica para compreender coisinhas simples do quotidiano, como dormir, comer, beber e, por exemplo, que a economia política não é outra coisa que não a definição das condições de possibilidade. Tal como não é preciso ler Foucault para chegar à ideia conexa de regime de verdade. Se o truísmo lhe escapa convém voltar aos banquinhos da escola, até porque prefiro pagar-lhe a educação ao ordenado.

Vem esta história a propósito do PEC e da alegada insustentabilidade financeira do subsídio de desemprego, ideia comercializada com a conhecida semântica da crise. O objectivo é reduzir-lhe - ao subsídio - a consistência, a abrangência e a acessibilidade. Preguiçoso da cabeça como sou, por agora só me lembro de uns problemas financeiros que houve há tempos e que, salvo erro, redundaram em política social para a banca. João Galamba chama a tudo isto uma tragédia. Eu, que sou de esquerda, chamo-lhe autoritarismo social.

PS: Não sabia que o slogan «sejamos realistas, exijamos o impossível» era do Zizek. Muito me conta, João Galamba.

18 comentários:

Diogo Augusto disse...

Nada de novo se enquadrarmos isto na tendência mais geral de tecnocratização da política e, portanto, a sua redução a possíveis e impossíveis, a certos e errados.

Diga-se, no entanto, que no que diz respeito ao PEC, pouca ou nenhuma será a margem de manobra do governo. É que os "mercados internacionais" estão de olho bem aberto e, se os governos adoptam medidas que esses mercados achem ruinosas, pois tratarão de fazer com que sejam de facto ruinosas. Nesse sentido, estamos todos reféns das agências de rating. Ou seja, a discussão da exequibilidade da manutenção dos apoios sociais nem faz sentido.

Tiago Ribeiro disse...

Discutir desemprego e política social à escala nacional é agora um absurdo. Muita globalização nessa cabecinha, não? Explica-me lá como funcionam as agências de rating e como determinas a margem de manobra - e o grau de responsabilidade - dos governos nacionais. É que eu às vezes sou tão asno como o Galamba, embora não o subscreva com o mesmo entusiasmo com que tu o fazes.

Diogo Augusto disse...

Epá, calminha com os golpes baixos.

Mas, já agora, toma lá: http://financecareers.about.com/od/ratingagencies/a/ratingagencies.htm

Sabes perfeitamente que as exigências que são feitas ao PIGS não são genéricas. São exigências de corte nas despesas do Estado. O que é que, dentro disto, os governos podem fazer? Não faço a mínima ideia mas calculo que não possam fazer muito.

Diogo Augusto disse...

E, já agora: http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOW_VIDEO&id=415667 .

Tiago Ribeiro disse...

Tu aguentas-te à jarda :) Há naturalmente dois eixos políticos escrutináveis: o trabalho político de reforma do sistema de regulação financeira - que duvido estar inteiramente esgotado - e o mapeamento da despesa pública em função da sua urgência. Nesse sentido duvido que te rendas à fatalidade deste PEC. Nem tu nem alguns socialistas reputados que resolveram agora - e bem - sair da toca.

Diogo Augusto disse...

Mas onde é que poderias sustentar a ideia de que me rendo à fatalidade deste PEC? Aliás, ainda há um par de dias elogiei as propostas do Bloco nessa matéria. O que me parece inevitável é estar sujeito a uma linha geral de actuação que não é nem de perto nem de longe da responsabilidade dos governos nacionais mas que os condiciona. É um bocado como a história dos factos sociais do Durkheim...

P.S. - Já és o segundo em dois dias que, num comentário que me é dirigido, fala em alguém sair da toca. Bastante suspeito...

Tiago Ribeiro disse...

Citando Maria José Valério, «toca o telefone a toda a hora. Toca. Toca.»

zé neves disse...

o diogo fala como se este fosse um governo chavista ou coisa parecida. a um governo com uma linha anti-imperialista (seja isso o que for e nem sequer utilizo anti-imperialista como elogio) admite-se o recurso à construção de um inimigo externo. a um governo que sublinha uma e outra vez a articulação positiva entre nacional e global, nas formas e nos conteúdos, só o cinismo admite o recurso ao argumento dos constrangimentos estruturais globais.

Diogo Augusto disse...

Com a devida ressalva de que o global não é uma massa homogénea, concordo inteiramente com o Zé Neves e nem sei onde foi buscar essa do "governo chavista".
A ver se nos entendemos: uma coisa é o governo estar perfeitamente em sintonia com as medidas que enuncia neste PEC (o que, francamente, não duvido), outra completamente diferente é avaliar a possibilidade de serem tomadas medidas diferentes caso houvesse vontade política para tal.

AP disse...

1. As agências de rating (directório de 3 empresas que não prestam contas a ninguém) condicionam os estados como os extorsionários da sícilia os lojistas do local, embora um pouco mais sofisticados. A financeirização dos títulos de dívida dos estados transforma-os em assets financeiros que circulam com a decência do jogo da mala. Baixa-se o rating, baixa o seu valor (dos títulos de dívida), compram-se os títulos, revendem-se mais tarde, lucrando com a coisa. O trigo é limpo...

2. A UE, depois do fiasco da Grécia com o FMI a meter o bedelho e a ameaçar a coesão europeia, já pondera a criação de uma estrutura equivalente à sua escala, e, mesmo que Portugal se estivesse nas tintas para o défice, não seríamos propriamente trocados por patacas. Os mecanismos que permitem ao BCE limitar o recurso dos países ao endividamento são politicamente limitados por esta altura.

3. Por último, enfim, as parvoíces habituais de limitações orçamentais como justificação para o corte de despesas sociais (como se detivessem a exclusividade do corte não é?), neste caso, e não querendo ilibar os xuxas, advém também da sua (deles) negociação do orçamento de estado (e do PEC por arrasto) com a direita.

Tiago Ribeiro disse...

Acabou-se o paleio das petições e do frentismo de esquerda: eu voto AP para as presidenciais.

AP disse...

Só aceito se for o Soares a convidar... eheheh

Diogo Augusto disse...

É... É uma pena o AP estar a perder-se nos computadores... Mas pronto, dizem que é um emprego com saída.

Anônimo disse...

Galambíssimo este post. Ainda estou em êxtase com a genialidade da fonte da tua inspiração. Socialista o homem, hein! E esperto.

Apenas discordo da segunda metade do teu desabafo final.

Autoritário sim senhor, mas social só se for para a segurança social da banca. Era isso?

Renato T.

Tiago Ribeiro disse...

Não, Renato. Digo autoritarismo social e não social-autoritarismo ;)

DG disse...

se os mercados de capitais não gostam do PEC os juros sobem - como é que o Estado e as familias se safam? agradecia uma explicação referenciada sff.

Tiago Ribeiro disse...

Eu também agradecia muita coisa, mas a vida é assim. Madrasta. Em todo o caso deixe-me dizer-lhe que há funções e instrumentos de regulação, supervisão e - naturalmente - política financeira com particulares responsabilidades na desarticulação desse nexo que enunciou. BCE, por exemplo. Mas certamente esta resposta não lhe será satisfatória. Vá ao google.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Zizec, se foi de facto o autor da frase, estava a ser perfeitamente racional. Quando um político diz que uma coisa é impossível, devemos entender que é politicamente impossível; e esta é a melhor das razões para que a exijamos.

Todos os tiranos se esforçam por confundir o politicamente impossível com o materialmente impossível; ou, por outras palavras, confundir a ordem artificial que os serve com a ordem natural das coisas. Que João Galamba ainda vá nesta treta, é lá com ele - ou seria lá com ele se não se esforçasse por difundi-la. Mas esta difusão está cada vez mais difícil; o gato escondido tem cada vez mais o rabo à mostra.

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