Aprendei

Tribo, subcultura ou embuste, a cena indie é dos fenómenos musicais mais conseguidos, interessantes e fidelizados da última década e meia. E sim, polissémico, mas não me apetece agora enfiar-me na discussão do conceito original de «independência» (estética, criativa, comercial, dos pais, etc). Sublinho apenas que um sinal da sua consistência reside na tendência que tem para gerar militâncias, ora entusiásticas, ora destrutivas, mas militâncias. Passa de besta a bestial no intervalo de uma mesa de café e é raro o urbanóide a quem possa passar despercebida ou indiferente (o que é facilmente testemunhado pelo facto de, por sistema, o espécime sacar do bolso um adjectivo muito próprio com o qual se atira ao indie como que a desvendar-lhe a verdadeira essência: genial ou fraudulenta).

Mais: é difícil situar a cena indie face à dicotomia dominante vs alternativo, muito cara às abordagens críticas das dinâmicas de criação, mediação e consumos culturais e do seu potencial simbólico no conflito e na disputa social. Parece-me, por isso, bastante pedagógico para clarificar que a guerrilha urbana e a luta por imagens e verdades sobre as cidades não se esgota na parolada grafiteira nem está condenada ao mau-gosto do hip-hop e quejanda porcaria suburbana. Sim, há aqui coisinhas de classe que fazem muita (demasiada) diferença, mas esqueci-me de inquirir os indivídios para chegar a conclusões respeitáveis - embora a minha intuição valha mais que essas pintelhices do rigor e da validade.

Serve este breve intróito (!) para dizer que o indie é muito bom, o melhor de todos, e que toda a música que lhe seja de alguma forma estranha tem grande probabilidade de não valer um caralhinho. Dito isto, passo a apresentar o Festival Incerto de Música Urbana, que decorrerá no Teatro Aveirense a 28 e 29 de Maio. Este projecto da Mariana Ricardo merece particular atenção. Além disso, na próxima sexta-feira pára por lá a Juana Molina e ao sexto dia de Junho o Bonnie "Prince" Billy, primo aqui do Diogo Augusto.

Sexta 28
Warpaint + Matt Elliott + Rita Braga + After Party (após concertos)

Sábado 29
Debate (17h), com críticos de música nacionais e programadores culturais
Scout Niblett + Here We Go Magic + Mariana Ricardo + After Party (após concertos)

7 comentários:

Diogo Augusto disse...

Tem piada, colas o indie ao urbano sem pensar muito no assunto. Embora o género possa englobar na sua definição, coisas tão distante como Arcade Fire ou Sex Pistols (ainda que, neste caso, pela anacronia, não fizesse sentido), cheira-me que te referes ao indie mais folk, mais rudimentar. Ora, esse - o caso do meu primo é paradigmático - retira elementos de uma música urbano/rural que mereceria outra discussão. Falo da tradição folk de Woody Guthrie, Lead Belly, Hank Williams e Townes Van Zandt... Música rural apropriada pelos seus consumidores citadinos.
Ora, estes indies todos são terceira ou quarta geração. Gente que chegou ao Bob Dylan através da versão que os Guns'n'Roses fizeram da Knockin' on Heaven's door, depois do Bob Dylan chegaram ao Woody Guthrie, deste ao Lead Belly e deste ao Robert Johnson. O fio da meada já vai longo mas gente como o Bonnie "Prince" Billy insiste em manter as referências rurais numa música consumida por gente urbana que confunde "rural" com "naif" como é o caso da tua amiga Mariana Ricardo.

Tiago Ribeiro disse...

Ok, já mijaste no território. Não percebi o teu ponto: julgo ser consensual que a «cena indie» é urbana, se não urbaníssima. Os recursos criativos são vários - tu falas de uma versão da história e de uma linha criadores, eu falo de gangs que têm uma década e meia e que se desdobram em 500 grupos e não seguem necessariamente essa coerência canónica -, e se o indiefolk vai ao campo a indietrónica nem por isso. Queria ver onde enfias of B&S nessa lista de referências. Não conheço indie dirigido a outro tipo de consumidores que não escolarizados e parametrizadamente estilizados. Estou enganado? Como bem sabes, indiefolk não é folk e musicologia não é sociologia ;) Depois há uma coisa chamada Hell Hound, mas disso falaremos mais adiante.

Diogo Augusto disse...

O que quis dizer é que aquilo que está nas origens do indiefolk é música rural apropriada por consumidores urbanos. O indiefolk em si é música de gente urbana, consumida por gente urbana mas carregada de referências rurais que ora são kitsch, ora são naif, ora tomam a forma de hipérbole (como é o caso desse Hell Hound, mas isso é tentativa desesperada de parecer autêntico).

Mas pronto, acima de tudo queria mijar no território.

AP disse...

E eu que também tinha vontade de fazer xixi, mas o tiago tirou o mictório antes da mija. Atou as pontinhas por causa das coisas, com um conveniente "não me apetece agora enfiar-me na discussão do conceito original de «independência»"; ou o enorme saco onde cabe tudo através do "sinal da sua consistência [que] reside na tendência que tem para gerar militâncias, ora entusiásticas, ora destrutivas"; repete a piada da distanciação com o "é difícil situar a cena indie face à dicotomia dominante vs alternativo", acabando com o resto não presta.
Ó Tiago! Assim não dá!

João Pena disse...

epah.. vão ver mão morta e calem-se.

Hugo Dias disse...

A propósito, quando é que essa banda indie emergente de nome "La Redoute" lança o seu primeiro album?

Tiago Ribeiro disse...

AP, tens de ter paciência comigo. Nos entretantos, vai mas é mijar que dás cabo da bexiga e depois essas merdas fodem a próstata a um gajo ou o caraças.

João - inefável - Pena, como tenho tido oportunidade de to dizer com profusão, ultimamente dou por mim a suspirar pelos teus olhos verde mar. Impressionante, não é?

Hugo a Dias, os La Redoute trabalham com minúcia de relojoeiro. Vais ter de aguentar os cavalinhos mais um pouco, mas olha que vale a pena. Fixa: algo mata em Góis. Ah pois.

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