O Estado também serve para isto

Eu não sei dos princípios do meu amigo Diogo, mas tenho umas coisinhas a dizer. Em primeiro lugar - e sabe Deus o que me custa ceder às teses de João Pereira Coutinho quando ele joga em casa - há uma campanha anticlerical alimentada tanto intuitiva como cerebralmente por diferentes interesses políticos e ancorada em eixos retóricos bem conhecidos: a relação causal entre celibato e pedofilia (Sena Martins comprou e vende agora a ideia baratinha), o conservadorismo moral e sexual como causa maior da proliferação da SIDA nos países pobres (perguntem aos alterglobalistas e aos justiceiros pós-coloniais, que eles têm provas) e causa maior da gravidez na adolescência nos países ricos (perguntem a alguns peritos em saúde sexual e reprodutiva - têm sempre este bónus quando falha o argumento às respectivas causas e lutas), o colonialismo disfarçado das missões "humanitárias" (aspinhas, né?) em África e o oportunismo social e clientelar das IPSS da Santa Casa. E há mais, basta sondar os populares sobre a riqueza e o património da Igreja que eles põem tudo em pratos limpos.

Dito isto (e sublinhe-se que isto não é de todo desprovido de razão), vem o segundo lugar: o Estado - que na minha terra é garante material e simbólico de direitos, liberdades e garantias - é um dos grandes responsáveis pelos maus tratos e crimes sexuais cometidos no interior da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Ensinam os manuais que não se deixam crianças particularmente vulneráveis e desprotegidas (e as outras também) sob a tutela de uma organização privada (sim, privada) sem controlo e acompanhamento absolutamente nenhum. Ponto. Seja a ICAR seja a Casa do Artista (com os velhos é a mesma brincadeira). Não sei onde andou o Estado este tempo todo, mas se a ICAR pede desculpa e lamenta a cobertura que anos a fio deu a homicídios sinistros da intimidade de seres humanos - e portanto há muita investigação criminal a fazer, - dá-me ideia de que há por aqui mais mãos sujas (eventualmente laicas e republicanas): sujas por pensamentos e palavras, actos e omissões. Há que tratar disso, não? E não me chega uma Catarina Pestana. Ou Catalina.

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