Olh'ó respeitinho!

Aquece a alma saber que o PS vai fazer tudo por tudo para devolver o respeitinho à escola. Dele já se sabe, pelo menos, que é bonito, mas o que ainda não se sabia é que para que o dito exista, é preciso conhecer e respeitar um conjunto de documentos e símbolos que corporizam uma matriz "de valores e princípio de afirmação da humanidade". Ena, ena! Viv'ó luxo! E quais são esses documentos e símbolos? - perguntará o leitor mortinho de curiosidade. Pois bem: a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ah!, e parece que também a bandeira e o hino nacionais. Bonito, não? Agora é que vai ser ver os petizes cheio de respeitinho que é bonito e com um amor à pátria tal que nem multas de estacionamento vão ter.

6 comentários:

Loba Capitolina disse...

Essa ilustração da Mocidade Portuguesa que colocaste nesta entrada diz tudo sobre a tua postura. É triste quando toda uma geração associa o respeito pela Pátria ao fascismo e demais regimes totalitários. Mas é mesmo essa a nossa especialidade, não é? Mandar abaixo o nosso próprio país...
Olha, eu aprendi o hino nacional e o significado da bandeira na escola primária. Devo militar no Partido Renovador?

Diogo Augusto disse...

1 - A bandeira e o hino portugueses dizem-me tanto como a bandeira e o hino benfiquistas.
2 - Amar a pátria faz cada vez menos sentido, usar símbolos nacionais (e, por sinal, bélicos) como referências de "valores e princípio de afirmação da humanidade" faz ainda menos.
3 - O modelo de escola preparada para a multiculturalidade não passa pela exacerbação de símbolos nacionais nem por ensinar que devem ser respeitados. Ensina-se a respeitar pessoas, não se ensina a respeitar símbolos nacionais.
4 - A glorificação de uma nação, além de não fazer qualquer sentido, é perigosa porque é feita a partir de símbolos com os quais nem todos os nacionais se identificam nem têm que identificar.
5 - A imagem que pus aludia ao facto de se incutir respeito ao hino e à bandeira como forma de incutir respeito tout court o que é uma ideia de cariz fascista.
6 (e último, ufa!) - Não me meto nas militâncias dos outros. Mas eu também aprendi o hino e o significado da bandeira, o que não quer dizer que eu vá já a correr inscrever-me no PNR. Agora, se eu gostasse do hino e da bandeira, a conversa já era outra...

Loba Capitolina disse...

Em primeiro lugar, Diogo, gostaria de agradecer o tempo que dedicaste a responder ao meu comentário.
E agora, eis o contra-comentário:

1. Acho que uma nação ainda não é definida da mesma maneira que uma col€ctividad€ d€sportiva...enfim, espero!

2.Porque não faz sentido? Não gostas do teu país, nem de ser português (estou a partir do princípio que és)? E os símbolos nacionais são uma afirmação, independentemente do que os considerares, própria do ser humano e da construção de uma identidade. Poderias, talvez, argumentar que essa construção é artificial (pelo menos até certo ponto), mas isso daria para outra discussão...

3.Parece-me que estás a confundir multiculturalidade com relativismo. A primeira não impede nem enfraquece a apreciação (não exarcebação) dos símbolos nacionais...a segunda...é a indefinição de tudo. A escola devia, e espero que isso aconteça no futuro, apostar mais na exploração da riqueza cultural das nacionalidades que aqui residem, especialmente as do espaço lusófono.

4. Novamente, não entendo porque não faz sentido apreciar as coisas boas que um país tem...nem porque isso poderá ser perigoso. Em todo o lado há coisas com as quais nos identificamos ou não, cabe a cada um separar o trigo do joio. Também há muita coisa aqui que me irrita solenemente (como por exemplo, a falta de apreciação que temos por nós próprios), mas não desprezo a minha nacionalidade por causa disso.

5.Ok, já explicaste a tua intenção. Mas não creio que o objectivo destas medidas seja esse. E já agora, impôr uma boa dose de respeito (por outros meios, claro) por parte dos alunos, para com os professores e colegas, também não era nada mal pensado.

6. Eu também não morro de amores pelo hino nem pela bandeira...mas eles valem pelo que representam, e não pela estética.

Diogo Augusto disse...

Em primeiro lugar, nada de agradecimentos. Com a cabeça mais ou menos quente e com mais ou menos boa disposição, estou sempre desertinho para que alguém me contradiga. Então vamos lá ao contra-contra-comentário que o dia já vai longo:

1 - Certíssimo. Não quis dizer que era a mesma coisa, apenas que sinto a mesmíssima coisa por um e por outro embora, para ser sincero, os nacionais me façam mais urticária.

2 - A Mafalda tem um tira em que ela diz "se a professora não se zangasse, fazia uma composição só com perguntas: nós amamos a nossa pátria só porque nascemos aqui? Os franceses amam a sua pátria só porque nasceram em França? Os turcos amam a sua pátria só porque nasceram na Turquia? Título: Patriotismo e comodismo". Não, não tenho um apreço especial pelo país em que nasci e em que vivo. Sinto proximidade com as pessoas que também o habitam mas isso nada tem a ver com o país ou os seus símbolos. É cultural. Da mesma forma, sinto mais proximidade com um norte-americano do que com o marroquino que está bem mais perto.

3 - As escolas são multiculturais. A forma de lidar com isso não deve passar pela valorização de aspectos culturais e/ou ideológicos de um determinado grupo ainda que ele seja maioritário. Em Portugal deve aprender-se História de Portugal? Claro que sim. Isso não quer dizer que essa História seja dada em tom celebratório de exaltação dos grandes feitos deste bravo povo.

4 - É perigoso por um motivo muito simples: a escola é para todos mas nem todos têm que respeitar o hino e a bandeira.

5 - Já tinha dito no ponto 3: "ensina-se a respeitar pessoas, não se ensina a respeitar símbolos nacionais". É que nem todos somos portugueses e nem todos temos que gostar de Portugal, mas somos todos pessoas.

6 - Continuo sem perceber o que, para ti, o hino e a bandeira representam. Para mim, muito mais significativo do que os símbolos são estas medidas que pretendem a sua valorização.

Tiago Ribeiro disse...

Capitolina, deixe lá o Diogo, que ele tem excesso de zelo sociológico e inventa problema onde não existem. Pelo que ainda não percebeu que o seu cardápio de objectos de culto (hinos, bandeiras, meias rotas e merdas afins) não indiciam raio de deriva nacionalista nenhuma, antes mau gosto, parolice, muito Politeama e demasiada Praça da Alegria. Vá lá pôr a sua bandeira na janela, que não tarda chega o Mundial e torceremos todos, unidos, pela Selecção. E olhe que eu tenho um feeling :) Ah! «Falta de apreciação que temos por nós próprios?» Graças a Deus não meteu ao barulho a «auto-estima colectiva» e não citou, à rata, o José Gil. Mas olhe que há muita gente que tem muito boas razões para essa coisa que a irrita solenemente. É tramado, não é?

Anônimo disse...

"parece desejável que as crianças portuguesas sejam cultivadas, não como cidadãos do Mundo, em preparação, mas como crianças portuguesas que mais tarde já não serão crianças, mas continuarão a ser portugueses", ordem da Direcção dos Serviços de Censura, 1944

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