Percebem assim ou querem um desenho e uma performance?

Pede-se a demissão de um ministro a propósito de umas declarações sobre pirataria de conteúdos artísticos e a esquerdalhada (vá lá, não vale a pena ficar ofendido, até é um termo bastante carinhoso), que é unha-com-carne da cultura, fica caladinha? Por outro lado, ainda Mariano Gago não acabou de dizer que a pirataria foi "fonte de progresso e de globalização" e já tudo o que é responsável por qualquer associação de meia tigela de defesa dos direitos de autor lhe caiu em cima, tudo muito indignado (mas já de olho nas possibilidades de negócio) com a afronta que constituem "declarações de uma absoluta irresponsabilidade, gravíssimas"!

Agora percebe-se. O que é que a esquerdalhada vai fazer? Critica o ministro (pondo-se do lado dos artistas de que tanto gosta e critica o governo) mas ao mesmo tempo defende os interesses das editoras? Ou vice-versa? A decisão não será, certamente, fácil.

Mas o que interessa mesmo aqui é forma violenta como tudo o que é artista (principalmente músicos, mas não só) se virou contra o ministro à conta das declarações dizendo, entre outros disparates, que as declarações iam contra as legislações portuguesa e europeia e pouco faltou para chamar a Amnistia Internacional e a Greenpeace. É que isto lembra-se de uma vez que, numa aula estava a falar de algumas situações de desigualdade de género que persistem na sociedade portuguesa (no caso, estava a falar da entrada das mulheres no mercado de trabalho e na acumulação de tarefas que isso implicou) e uma aluna, certamente convencida de estar a prestar um grande serviço ao movimento feminista me interrompe dizendo: "Eh! O stôr 'tá a ser machista!".

Serve a anedota para dizer que afirmar que a pirataria foi fonte de progresso de globalização não é exactamente a mesma coisa que defender a pirataria. Ou seja, negar o papel fundamental que a pirataria de conteúdos tem tido no processo de pôr todo o mundo em contacto e de disseminação de produtos culturais que, de outra forma, permaneceriam perfeitamente desconhecidos é pura e simplesmente estúpido. Mas não seria de esperar mais dos mesmos que andaram aí a reivindicar a instituição de quotas de música portuguesa nas rádios.

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