Pintelhos entalados doem

«“Não temos nenhum estudo que nos permita dizer qual a consequência orçamental da redução do subsídio de desemprego”, assumiu José Sócrates, em reacção a uma pergunta de Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, sobre quanto o Governo esperava poupar com esta medida.»

À boleia desta constatação, e face às declarações de José Sócrates acima transcritas, concluo duas coisas: a deriva ideológica do governo (há muito que o PS perdeu a mão no governo) e a respectiva incompetência técnica. Porém a primeira conclusão é mais certa que a segunda, na medida em que de tão patética que será a poupança, a haver estudo, será bom que fique bem guardadinho, que as vergonhas evitam-se e às vezes o Rei vai nu. Mas não é esse o ponto (ou o pintelho entalado): reparo no cabeçalho da notícia e leio que José Sócrates desconhece o impacto daquele corte «na economia». Notícia de uma Ana Rita Faria. Pois bem, permito-me fazer um favor à cachopa e entregar-lhe, de grátes, um estudo que eu próprio vou realizar de caminho sobre o impacto da redução do subsídio de desemprego na economia.

10 logaritmos mais tarde, concluo - categoricamente - que os desempregados receberão menos dinheiro e que isso não é mais nem menos do que um impacto na economia. Já na cabecinha da cachopa - e na semântica da grande maioria do jornalismo económico - a narrativa dos impactos constrói-se nos nexos seguintes:

interesse nacional e saída da crise = impacto positivo na economia = impacto positivo no orçamento = impacto desastroso no trabalhador/desempregado: é a vida.

Eu, que sou naïf e que vejo a economia (dando tudo o resto de barato) como as formas e as escolhas de produção, distribuição e consumo de bens e serviços pelas pessoas, enfio os desempregados na economia das coisas, mesmo quando são tramados pelo orçamento. Já quando bebo em excesso tendo a encarar o factor trabalho como relativamente diferente dos restantes factores de produção e fantasio com coisas engraçadas como o nascimento do direito do trabalho e a natureza do Estado Social. Mas se, em seguida, me falarem no perigo incontrariável dos mercados nervosos, vem-me à memória o bem-estar e a paz de espírito dos desempregados preguiçosos e passa-me logo a borracheira. Em bom rigor devo andar a beber de mais.

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