Era isto, desculpem a diarreia mental mas é por "justa causa"

Ora, tava aqui a pensar escrever qualquer coisa sobre os possíveis efeitos das propostas do PSD para a revisão constitucional e descubro a "notícia" em baixo através de um post da Shyznogoud (do Jugular) no facebook. Pareceu-me um bom mote para a minha tentativa de post.
Um dos papelinhos que um dos membros da direcção de Passos Coelho tirou do saquinho de "sorteio de ideias para reformar a constituição" trazia uma proposta laboral complexa: alterar o conceito de "despedimento sem justa causa" pelo de "despedimento por you're fired".
Na sala, a ideia não foi consensual mas ninguém se acusou e as "ideias" tinham sido colocadas no saquinho "anonimamente", justamente para não se saber quem as teve.
Marco António ainda disse «isto deve ser a gozar». Relvas corou um pouquito, mas Passos Coelho não teve dúvidas: «Se estava no saquinho, estava no saquinho, vamos propor! Próximo... Miguel Macedo, tira dois papelinhos e abre...».
«Então, vamos lá ver... neste tenho "passar a Saúde para tendencialmente paga" e "aprender com aquilo do Santana e permitir que o presidente corra só com o primeiro-ministro e deixe o Parlamento em paz"», leu Miguel Macedo, enquanto Passos Coelho apontava.
E assim continuou a reunião até altas horas da tarde, sendo apenas interrompida para um pequeno lanche e meia-hora de Play Station. «Nem mais um minuto!», gritou o busto de Sá Carneiro.
Feita à piada que pode dar para rir como para gritar, só queria mesmo dizer, para além do óbvio para alguém de Esquerda - que estas propostas são um claro ataque ao Estado social, um retrocesso que não pode acontecer, etc, etc - que, ainda assim, gabo a "coragem" (ou não) a Pedro Passos Coelho que contribui assim inegávelmente para marcar uma clara divisória entre a Esquerda e a Direita. Sim, porque apesar de, cada vez mais aliás (dada a retórica e prática dos partidos do arco do poder), não parecer, continuam a existir claras diferenças entre a Esquerda e a Direita de um ponto de vista ideológico, e convém não esquecê-las . Custa ouvir estas "propostas" e tem inegáveis perigos mas, ainda assim, esta clarificação na retórica não deixa, no meu ponto de vista, de ser "saúdavel" para o debate ideológico e democrático. Que a direita se assuma, ela, as suas posições e a sua ideologia neoliberal (Só é pena o PS não fazer o mesmo: assumir-se na retórica e na Prática, em todas as áreas, como de Esquerda:) Tenho é algumas dúvidas que elas sejam partilhadas por todos/as os/as militantes e se calhar até por alguns/mas dirigentes do PSD mas enfim..
Agora, dito isto também, parece-me que os/as opinion makers - analistas políticos/as , na linha das sondagens aliás, estão muito confiantes numa clara vitória do PSD mal haja eleições, eleições que já nos disseram vezes sem conta que iam acontecer em breve. Fala-se até de maioria absoluta. Não sei... não me parece assim tão linear e "tão fácil" e estas performances de Passos Coelho tendem a reforçar a minha ideia.
Se, por um lado, acho que o Passos Coelho não deixa de ter alguma coragem ao repetir vezes sem conta (demasiado?) as suas propostas, também acho que ele está a surfar demasiado na onda, que é como quem diz "tá armado em campeão antes do tempo", confiando em demasia que este é o momento para se afirmar e assumir posições "mais difíceis" que o demarquem do PS, quando está também a dar uma oportunidade de ouro ao PS para renascer, unir as tropas, afirmar-se como o guardião do Estado social. O Governo está a ver-se à rasca para se aguentar, perdeu referências, os/as ministros/as andam à deriva; as sondagens correm-lhe (a Passos) de feição, os ventos europeus sopram como se a causa da Crise que vivemos não fosse precisamente um feito da ideologia do" Mercado e o lucro é que são", está à frente de um partido desejérrimo, depois do compasso da Manuela, por se afirmar e andar por aí de peito inchado e já com drafts feitos sobre quem ocupará que lugar no próximo governo. Certo.
Certo...mas este senhor a ir a eleições não irá assim "tão depressa", ainda faltará, pelo menos, quase um ano. E aqui, diga-se, não estou nada certa, como muitos/as estão, que serão convocadas eleições antecipadas, ou, a sê-lo, não tão depressa, como muitos/as pelos vistos/as julgam, mas ok. Se o orçamento passar, que o governo se conseguir aguentar e que a crise financeira e económica não chegar a um ponto de não retorno, dúvido que Cavaco, e menos ainda Alegre, as convoque tão rapidamente. Se o orçamento não passar, haverá eleições antecipadas na certa, mas será porque o PSD não quis aprovar o orçamento e aí o PS explorará até ao tutano que a crise deve-se ao PSD.
Por outro lado, num ano (ou mais) passa-se muita coisa, e não é dito que o Governo/Ps não consiga , como já o fez, passar por mais uma crise sem comprometer por completo as suas hipóteses de ganhar.
Por várias razões: porque daqui até lá os indicadores económicos (não estou muito bem a ver como, é certo, mas ...) podem melhorar; porque a memória é curta; porque a nossa capacidade colectiva de apertar o cinto sem nos passarmos de vez é muita; porque lá para o fim do ano, inícios do próximo, o Governo vai adoptar medidas "mais populares"; porque possívelmente haverá uma remodelação governamental, porque o Sócrates tem várias vidas e consta que ainda não gastou as suas 7; porque se o Socrates está muito desgastado, e ele no fundo, no fundo, sabe, hão de encontrar no PS, no momento em que Socrates terá que sair de cena, quem possa e queira pegar no partido, dando-lhe um "novo ar" e Porque - e é aí que acho que estas propostas de Passos Coelho acabam por favorecer o PS - o PS voltará a poder adoptar, ainda com mais veemência, o discurso do voto útil, "da Esquerda possível, necessária e desejável somos nós", e de "se a direita for para o poder vai acabar com tudo o que é Direito, vai ser tudo privatizado, etc" (e de facto será por aí sim....sendo que o PS já terá dado uma "ajudinha").
Não sou nenhuma "analista política", contrariamente a cada vez mais pessoas aliás, mas as análises que tenho ouvido - lineares e quase deterministas no que nos espera nos próximos meses/tempos - não me parecem, na minha modesta opinião, assim tão lineares. Se por um lado, não tenho grandes dúvidas perante o facto do PSD de Passos Coelho ir chegar mais tarde ou mais cedo ao poder também não sei se será assim tão depressa ou, pelo menos (isto já para me resguardar da chuva de críticas que desconfio que esta minha pseudo análise terá) com a razia e o prenúncio de morte por bons e longos anos que tantos/as dizem que o PS terá.
A ver vamos.

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