As Oportunidades fazem os ladrões


Saiu aqui: um jovem de 23 anos que frequentou as Novas Oportunidades, fez exame à específica de Inglês para acesso ao ensino superior, tirou 20 e entrou.
Sobre as Novas Oportunidades não haverá muito a dizer. Será um dos programas mais odiados do mediatismo político, feito à medida da classe D (driver da felicidade: parecer; desfruta das coisas simples do quotidiano: fazer compras, ver montras, ir ao hipermercado; é sensível à moda e à opinião alheia), o que não o torna muito diferente das Tardes da Júlia...
O Programa Novas Oportunidades tem imensos defeitos, certo, a começar por equiparar “competências” técnicas adquiridas no trabalho com “competências” em saberes académicos que não têm a mesma natureza. Mas o que sempre me faz sorrir é quando noto, por trás da crítica (muitas vezes avisada) aos erros estruturais do Programa, um laivo maldoso de elitismo “à antiga portuguesa”: "Oportunidades, sim, mas não muitas..."

Em tempos de guerra, cresce a tentação de subestimar quem, em aparência ou pela "lógica", deveria permanecer no fundo da escala social, o alvo da crítica é distorcido por uma miopia extrema que interpreta o "êxito" alheio como um roubo e algo sugere que é na praça pública que a vasta maioria "sans" (sans papiers, sans emploi, sans culottes, etc.) se condena a si mesma, recorrendo à retórica do opressor (fazendo-se instrumento dele) para procurar a mudança social. Fico como a outra: "faz-me lembrar a Alemanha nazi..."

3 comentários:

miguel andrade disse...

conheço um bocadinho o programa (ou programas) Novas Oportunidades e alguns profissionais nesta área, e tem, na minha opinião, uma filosofia bastante à frente até no que toca a métodos de aprendizagem para adultos. em teoria. e filosofia.
depois vem a parte que importa a quem manda (Governo): os números (de diplomados, para as campanhas eleitorais).
e a parte que importa a quem ganha com isto (as Escolas): os números (em €uros).
Quando um governo lança qualquer tipo de programa escolar, qualquer tipo de medida, qualquer tipo de lei, pode pautar-se pela exigência ou pelo facilitismo.
E neste caso, como em quase tudo na educação nos últimos anos, o facilitismo foi a palavra de ordem. Quando um primeiro ministro diz '1milhão de diplomados até ao final do ano', estamos a falar de RECRUTAR 1/10 da população portuguesa e dar-lhes canudos! não há aqui qualquer importância na Qualificação e as mudanças nos discursos da (vénia irónica) ANQ também mostra isso...
e a forma de as escolas conseguirem verbas é dependente do número de diplomados que produzem por ano.
enfim, se eu andasse no secundário, provavelmente esperava plos 23 e ia curtindo...

eu pessoalmente nem sequer percebo que pessoal que nunca quis estudar (desculpem, todos conhecemos pessoal assim, ou não? sem preconceitos ideológicos...) tenha aos 23 a hipótese de fazer 5 anos em 3 meses... como há casos de 'adultos' que com o 7º ano, de repente têm equivalência o 12º. mas não me choca que alguém com 20 anos de trabalho o possa fazer. como referido no texto, equivaler a experiência profissional o saber académico dá uma salgalhada daquelas...

Luis Melo disse...

Quando se pensava que a Educação em Portugal tinha batido no fundo, eis que afinal se confirma que ela ainda pode ser mais enterrada por este (des)Governo socialista.

Pelos vistos, com José Sócrates e o PS a gerir os destinos do país, já é possível entrar no Ensino Superior sem sequer ter terminado o Secundário. Como? Através das Novas Oportunidades.

Não se trata só de uma imoralidade, como é também uma grande injustiça para aqueles que se esforçaram e cumpriram a sua missão enquanto jovens: Estudar para ter e dar um futuro melhor ao país.

A propósito deste assunto, sugiro a leitura deste meu post (escrito em Dezembro 2009) e deste artigo do Vasco Campilho.

Frederica Jordão disse...

Uma das questões importantes é saber se, na medida em que o Programa Novas Oportunidades "constitui um pilar fundamental das políticas de emprego e formação profissional" (vd novasoportunidades.gov.pt), existe um reflexo positivo na situação de emprego daqueles e daquelas que frequentaram o programa. Não me parece.
A única forma que se encontrou de justificar o imenso investimento neste Programa - muito legítimo na sua filosofia - foi, na verdade, permitir que ele entroncasse com o sistema de ensino secundário e superior e é aí que reside a perfídia ou o populismo da medida.
A aquisição de "qualificação" deveria integrar titulares (de cursos técnico-profissionais, licenciaturas ou mestrados) dentro da escala de vencimentos que já existe (e bem definida, por sinal) mas isso não está a acontecer porque, de base, o país não tem estrutura para receber no mercado de trabalho gente mais qualificada - proveniente das Novas Oportunidades ou do ensino superior. E o que faz o Governo em relação a isso? Mascara a precariedade com estatísticas da OCDE onde Portugal apresenta 36% de jovens com 20 anos a frequentar o ensino superior.
E a seguir, para onde vão? Dar formação nas Novas Oportunidades?

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