Visita ao BPN

Copiem, malditos!

Se nos roubarem Abril dar-vos-emos Maio




Imagem por: Gui Castro Felga

Teleléguiados

Processando a Deutsche TeleKom, Malte Spitz conseguiu acesso a seis meses de informação que esta empresa tinha guardada sobre o seu telemóvel. Depois foi só fazer um mapa interactivo que reconstitui o seu dia... Ver aqui. Indispensável para qualquer paranóico dos dias de hoje.

Troikadilhos estúpidos contra a estupidez da inevitabilidade política da troika

Para eles, a conta da austeridade não troika a todos.

Para eles, as eleições são apenas uma troika de casais entre os mesmos de sempre.

Troika de vida se quiseres viver contrafeito.

Ou então troika-lhes as voltas.

A banca está em pulgas com a ajuda que o FMI lhe vai trazer!


Animal Nobre

Zanguei-me com o populista do meu cão. Vejam só que até lhe chamei Nobre e tudo. Mas juro que o gajo estava a pedi-las: aqueles apelos suspeitos ao voto fácil dos zangados com a política e a conversa só para uso demagógico do “menos deputados”, aquela fúria privatizadora das empresas públicas, aquela ausência de respostas concretas sobre os problemas políticos e económicos junto com uma grandiloquência evasiva de quem pretende fazer uma política anti-política boazinha… Quando voltarmos a poder conversar, ele ainda me vai ter de explicar o estranho vínculo entre a animalidade e essa fúria privatizadora ou o salpicar de um certo "agostinhanismo da silva" com a vontade de fazer “forças de manutenção de paz” junto com o exército angolano e o da Guiné-Bissau.

Boaventurado compromisso

Um “compromisso nacional” havia mais tarde ou mais cedo de surgir. Afinal, a principal peça da ofensiva austeritária é o dito “interesse nacional” e os candidatos a ilustres e responsáveis senadores do país pululam. Já o que pode espantar é que na lista do compromisso (bac)oco surja o nome de Boaventura Sousa Santos a assinar agora o que tão bem desmentiu ainda há poucos dias.
“Boaventura compromisso” apela ao presidente e partidos “para garantir a capacidade de execução de um plano de ação imediato, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular financiamento da economia, evitando perturbações adicionais numa campanha eleitoral que deve contribuir para uma escolha serena, livre e informada”e para “assegurar que o próximo Governo será suportado por uma maioria inequívoca, indispensável na construção do consenso mínimo para responder à crise”, porque “uma solução governativa estável” “constitui a primeira premissa para que os Portugueses possam encontrar uma razão de ser nos sacrifícios presentes e encarar com esperança o próximo futuro.”
Mais, acrescenta já a receita: “esse consenso mínimo deverá formar-se sobre o processo de consolidação orçamental e a trajetória de ajustamento para os próximos três anos prevista na última versão do Programa de Estabilidade e Crescimento”.
Resumindo: compromisso para um plano imediato para a credibilidade externa (e não há outro que não o da austeridade que é o compromisso vigente) e para constituir uma maioria (e esta adivinha-se é a dos responsáveis pela política de recessão), sujeitando-nos ao PEC para os próximos três aninhos.
Esperto, Boaventura sem compromisso já topou o filme todo dos compromissos dominantes no país e responde: “O que neste momento se está a definir como solução para a crise que o país atravessa não fará mais que aprofundá-la. Eis o itinerário. A intervenção do FMI começará com declarações solenes de que a situação do país é muito mais grave do que se tem dito (o ventríloquo pode ser o líder do PSD, se ganhar as eleições). As medidas impostas serão a privatização do que resta do sector empresarial e financeiro do Estado, a máxima precarização do trabalho, o corte nos serviços e subsídios públicos, o que pode levar, por exemplo, a que o preço dos transportes ou do pão suba de um dia para o outro para o triplo, despedimentos na função pública, cortes nas pensões e nos salários (a começar pelos subsídios de férias e de Natal, um “privilégio” que os jovens do FMI não entendem) e a transformação do SNS num serviço residual.”
E esclarece-nos ainda sobre o que se se passará depois dos tais aninhos PEC: “Feita a intervenção de emergência – que os portugueses serão induzidos a ver como uma necessidade e não como um certificado de óbito às suas justas aspirações de progresso e de dignidade –, entra o Banco Mundial para fornecer o crédito de longa duração que permitirá “reconstruir” o país, ou seja, para assegurar que serão os mercados e as agências de rating a ditar ao país o que pode e não pode ser feito. Serão ocultadas as seguintes irracionalidades: que o modelo imposto ao mundo está falido na sua sede, os EUA; que o FMI faz tudo para servir os interesses financeiros norte-americanos, até para se defender do movimento que houve no Congresso para o extinguir;
que o maior credor dos EUA, a China, e segunda maior economia do mundo, tem o mesmo poder de voto no FMI que a Bélgica; que as agências de rating manipulam a realidade financeira para proporcionar aos seus clientes “rendas financeiras excessivas”.
O primeiro discurso vende-nos o manto do compromisso do sacrifício de todos a bem do interesse nacional que cobre os interesses dos donos de Portugal. O segundo mostra bem o que está por detrás desta capa e que nos vão “induzir” a “ver como necessário”. Serão os dois Boaventuras compatíveis? Ou podemos escolher só um e esquecer o outro?

Eles querem continuar a viver acima das nossas possibilidades

Dívida privada, factura pública

Strauss-Kahn, director do FMI, diz que o problema português não é tanto a dívida pública como a dívida privada e o financiamento dos bancos, esses mesmo que distribuem dividendos obscenos e que atribuem regalias principescas aos chefes. Mas se a dívida é privada porque é que a factura é pública? Porque é que os lucros são privados e os prejuízos nacionalizados?

Reportagem: O FMI na Grécia e na Irlanda

Os amigos e as ocasiões

O embuste do «interesse nacional» merece ser todos os dias escavacado: sabemos exactamente a que interesse e a que nação diz respeito. Também não vale agora a pena discutir até que ponto o seu sentido pode ou deve ser disputado no debate político corrente. Por mim, até ponto nenhum: prefiro a luta de classes. Mas quando a reacção de Ana Gomes à convergência das esquerdas baseia no «interesse nacional» a importância da inclusão do BE e do PCP em novos consensos políticos que respondam à crise (e, a bem dizer, redireccionem a austeridade para onde é justa e precisa), não deixo de, enternecido, reconhecer que quem é vivo sempre aparece. Reduzam o gesto a mero foguetório ou tesão do mijo - e terão toda a razão.

Esta ideia cancerosa (bom dia Manuel Alegre) de ganhar a ala esquerda do PS para a contra-hegemonia não deve cair, e será bom sinal se ouvirmos ad nauseum o elegantíssimo adjectivo histérica para acarinhar Ana Gomes - é porque certamente está a a fazer um bom trabalho, como de resto tem feito. Mas não me venham com beijinhos inconsequentes. Já a multiplicidade de orgasmos em torno da "aproximação" entre o BE e o PC também tem muito que se le diga, não tem que se le? Quais as divergências na política económica de resposta à austeridade? Afinal divergiam? Assim tanto? E o que é convergir? É formar um novo partido? É marcar uma manif conjunta? É cantar a Internacional? Se a ideia é fazer política, tudo bem, se é brincar à unidade, tende lá paciência, mas eu não me dou com comunas.