Os sectários

Os sectários armam-se cegamente de uma certeza e sentem-se ameaçados quando alguém a questiona. Cada pergunta ou crítica é um golpe que há que fazer pagar caro. Defender a sua dama é desqualificar o/a crítico/a: há sempre um diletante ou um traidor, em acto ou em potência, naquele que não pertença à agremiação. Vivem como peixe na água numa cultura de anti-debate político em que haja claques mais do que argumentos.

Os sectários olham para quem está perto de si como se estivesse ao serviço do inimigo e sempre pronto a destruir o que eles abnegadamente constroem.

Os sectários estreitam a camaradagem ao tamanho da sua mesmidade.

Os sectários são tão inseguros quanto fervorosos. Duvida-se que tal orgulho identitário resista às encruzilhadas do tempo, que uma certeza assim cultivada seja sólida, que uma unidade assim construída possa ser cimento promissor.

Os sectários, como as ervas daninhas, crescem espontaneamente nas organizações. Há mesmo quem diga que o sectarismo é a doença infantil da militância. Assim, em princípio, não seria por demais perturbador que o sectarismo fizesse parte da flora organizativa. Só que a sua força tende a tornar dominante o sectarismo enquanto princípio de exclusão.

A diferença está na atitude que se mantenha perante ele: pode-se ensaiar desconstruí-lo de diversas formas ou procurar protegê-lo já que os sectários serão militantes exemplares ao serviço das direcções. Isto ainda que o instinto de sobrevivência aconselhasse a fugir dele já que uma organização que cresça à sombra do sectarismo isola-se e afasta outros/as.

Os sectários sentem-se os melhores militantes do mundo. E no entanto…

Não há antídoto seguro para o sectarismo. Apenas lutas permanentes pelo reinventar da criatividade militante e dos agenciamentos colectivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário