Adenda presidenciável

Enganei-me aqui em relação ao timing de Manuel Alegre. Parece-me prematura a sua afirmação de disponibilidade, mas cumpre a função de exercer pressão sobre o PS. A bola agora está do lado de Sócrates. Ceteris Paribus.

21 comentários:

rafael disse...

Caro amigo e camarada Hugo,

estou já há uns tempos para comentar este e o teu anterior post, assim como os da autoria do Miguel Cardina. A candidatura do Alegre apresenta-se agora como uma realidade concreta, face a isto e pelos comentários que tenho lido tanto em blogs, com algumas declaraçoes na imprensa e até no facebook, parece-me que a posiçao (pelo menos da direcçao) do Bloco é a de apoiar Alegre logo a partir do inicio.

A mim, que nao sou adepto da 4ª mas encontro-me, como sabes, na area da brigada brejnev da blogosfera, isto parece-me mal por dois motivos: o primeiro, parece-me que nao houve dentro do BE (pode ser ignorancia mas nao me parece) um processo de discussao democratico e aberto sobre a estrategia a tomar relativamente às presidenciais. Parece-me que é uma decisao imposta de cima para baixo, como funciona nos partidos, desculpa a expressao stalinista, da burguesia parlamentar, e que os "aderentes" sao desconsiderados, sendo tratados como a carneirada que vai apoiar acriticamente a direcçao. Como principio, parece-me mal.

Em segundo, embora respeitando a figura de Alegre parece-me que é um risco sério para a definiçao, refundaçao e futuro da esquerda portuguesa embarcar numa aventura que durante um periodo de um ano faça convergir PS, BE e PCP num objectivo comum que matize ou disfarce as grandes diferenças de principio que existem entre estas expressoes da esquerda portuguesa. Já imaginaste o que seria ter Louça e Jerónimo de braços dados com um Sócrates do Código do Trabalho e aliado do CDS nas estratégias do OE?

Se nao houver mais nenhuma alternativa, provavelmente votarei Alegre, no entanto, e para concluir gostava de salientar que achava importante, num primeiro momento, que tanto BE como PCP nao prescindissem do seu espaço de intervençao, marcando o que acham que devia ser o papel e o programa de um Presidente de esqerda.

Desenvolvo estas questoes num post de alguns dias atrás, se quiseres ver o argumentário todo passa por aqui:

Um forte abraço e desejos de uma reflexao bem "vermelhusca".

Miguel Cardina disse...

Hugo: quer-me parecer que a bola não está só do lado de Sócrates...

rafael disse...

nao sei pq o link que deixei nao aparece, aqui está:

http://airadosmansos.blogspot.com/2010/01/um-presidentealegre.html

Zé Miranda disse...

O Francisco Assis já veio dizer que o PS não vai anunciar a sua candidatura por agora. O PS recusou a bola e, a meu ver, isso abre uma oportunidade à esquerda.

as presidenciais são diferentes dos outros actos. e a burguesia tem em Cavaco o seu candidato, sem dúvida nenhuma. a escolha que se coloca (à esquerda, claro) será entre imprimir uma dinâmica anti-liberal a uma candidatura de uma pessoa que por si já foi contra a sua bancada no código do trabalho, ou ter um candidato fantoche (como o PCP) para desistir uma semana antes (ou então não desistindo, que é basicamente a mesma coisa dada a irrelevância da candidatura numas eleições presidênciais).

o discurso de Alegre é bastante promissor numa prespectiva de ser uma campanha e desta ter uma orientação mais interessante do que se esperaria.

Não há candidatos perfeitos, não há condições perfeitas e não vejo de que forma é que lançando para a fogueira um Luís Fazenda qualquer em direcção aos 4% se estaria ajudar a refundar a esquerda. não vejo mesmo.

abraços

AP disse...

E o Miguel Cardina revela-se bruxo, com um timing impecável com a introdução desta discussão! Depois desta patetice (acho eu) do Alegre, o Bloco devia mesmo tomar a dianteira com uma espécie de pré-apoio, capitalizando os entretantos com a atenção pública. Depois pode sempre voltar atrás. Ninguém vai ligar e não é que faça grande diferença nas presidenciais com um candidato próprio.

Anônimo disse...

Olá Rafael,
Vejo que a brigada Brejnev da blogosfera continua bem e de saúde!

1- Quanto ao processo de decisão democrático existe sempre uma dialéctica tensa entre representantes e representados. Os dirigentes dos partidos tomam todos os dias posições e podemos não nos identificar com muitas delas. Claro que existem questões mais importantes do que outras, e as presidenciais sê-lo-ão concerteza, mas o processo de discussão interna tem existido e culminará com uma decisão por parte da Mesa Nacional do BE. É óbvio que qualquer declaração por parte do Francisco Louçã na imprensa tem o condão de "condicionar" as posições do BE, mas não me parece que tenham faltado espaços para discutir isso. A diferença é que a discussão também extravaza para a blogosfera, enquanto a "ala brejneviana" não costuma discutir este tipo de assuntos "internos" na esfera pública.

2- concordo com o risco que apontas da diluição que poderia ser uma candidatura à primeira volta de Alegre com o apoio dos 3 partidos. A candidatura do Manuel Alegre poderia ter virtudes se conseguisse federar a esquerda com base num compromisso anti-liberal, com gente do BE, PCP e muitas pessoas da área do PS. Para que o compromisso possa ser claro não poderia incluir o apoio do aparelho do PS e como tal do Governo. Mas acho que devemos também lamentar os defeitos dos partidos de esquerda que não se esforçam muito para poder ter uma candidatura de "unidade", e se resignam a ocupar o seu espaço político, sem ambição de construir algo mais ambicioso. Portanto, a candidatura de "afirmar espaço político" não é algo que me agrade, é meramente o resultado da incapacidade de diálogo entre as esquerdas. E aqui o PCP também não tem ajudado muito, sobretudo quando publica textos de análise do BE como o que postaste, assinado pela Margarida Botelho.


Abraços
Hugo Dias

rafael disse...

Caro Zé Miranda,

você pode considerar um candidato fantoche os candidatos do PCP. Eu nao. Eu considero que a apresentaçao de um candidato do PCP, neste caso, ou por outra força politica, mesmo nao indo até ao fim tem a vantagem de poder intervir e divulgar quais sao as ideias e as estratégias para uma "Presidencia de Esquerda". de outra forma, ficam reduzido a espectadores...

Quanto a Alegre em si, apesar de um discurso cheio de boas punch-lines, pareceu-me redondo. Nao se compromete de forma clara com uma unica critica ao rumo do Partido Socialista. O Bloco vai alinhar nessa espécie de discurso de critica ao ar, calando as disparidades com o PS? Eu espero que nao...e já agora, alguem me pode explicar o processo de apoio a Alegre que está em curso por parte da direcçao do BE? E a forma como os "aderentes" foram consultados?

rafael disse...

Hugo, amigo

sabes perfeitamente que BE e PCP têm formas diferentes de organizarem o seu debate interno. Eu respeito o vosso, peço é que respeitem o do PCP. Sao opçoes, nada mais. Se me dizes que tem havido espaço para discussao sem condicionamentos por parte da direcçao, eu acredito porque és um bom rapaz e nunca te apanhei a mentir. quanto a isso, esclarecido...

Relativamente às posiçoes do PCP relativamente ao BE, deixa que te diga que a análise da Margarida parece-me bastante certeira e fundamentada. Eu sei que há gente e gente no BE, nao os meto todos no mesmo saco (apesar de se terem juntados todos no mesmo Partido), mas quando leio no Arrastao o Daniel Oliveira assumir-se como social-democrata, falar de que quer uma aproximaçao ao PS, chamar mentirosos aos deputados do PCP no PE, fazer leituras abusivas da posiçao do PCP relativamente à queda do Muro de Berlim (Bernardino Soares na AR: "O que foi derrotado não foram os ideais e o projecto comunistas, mas um «modelo» historicamente configurado, que se afastou, e entrou mesmo em contradição com características fundamentais de uma sociedade socialista, sempre proclamadas pelos comunistas, onde são indispensáveis entre outras a democracia política e a liberdade.") parece-me que os sectários nao sao os comunistas portugueses mas sim alguns bloquistas...

Deixo-te ainda um link para um post em que analisei algumas causas concretas para me manter afastado do BE [para além do chip colado ao cerebro de comunista fiel, que pode explodir se criticar o leninismo - era uma piada ;)]:

http://airadosmansos.blogspot.com/2009/09/tentacao-de-votar-bloco-de-esquerda.html

A unidade da esquerda é desejável, mas nao a qualquer custo e eu acho que, apesar das nossas discordâncias, também acreditas nisso.

Forte abraço

Rafael

Anônimo disse...

Olá Zé Miranda,

O Francisco Assis afirmou isso, mas disse também que acha que Alegre seria o melhor candidato do PS. Bem sei que o PS ainda anda em convulsão por causa da ala Soarista que procura debaixo das pedras e de viadutos candidatos presidenciaveis. Mas parece-me que não terá outra escolha senão aceitar Manuel Alegre como o seu candidato.

Já discuti com diversas pessoas com base nos argumentos que apresentas: as presidenciais são eleições diferentes, a burguesia está com o Cavaco, Manuel Alegre tomou posições importantes nos últimos anos. Mas parece-me claro que essa dinâmica anti-liberal a que te referes (e que seria importante) dificilmente será concretizada tendo o PS envolvido - políticas liberais, escândalos e corrupção, remember?

Se os socialistas (ideológicos e não necessariamente membros do PS) valorizam o programa político com que se apresentam, procuram também ser coerentes com este e tal concretiza-se nas forças que procuram agregar em torno dessa candidatura. Candidatura anti-liberal com apoios liberais não me parece muito consequente.

Confesso que gostei do discurso de Alegre de ontem, e que este poderia dar corpo a uma candidatura anti-liberal, mas assumo a premissa de que o PS o apoiará, o que cria este paradoxo. E mesmo que não se valorize muito umas eleições com estas características não deixa de ser contraditório.

Depois me explicarão de que forma se abrirá uma oportunidade à esquerda e de que modo esta candidatura poderá ser catalizadora de dinâmicas de mudança social importantes para o país. Neste momento a designação "populismo sem povo" do Zé Neves é a que melhor descreve este fenómeno...

Na resposta ao comentário do Rafael já me referi às candidaturas para "ocupar espaço político", que considero sintoma de debilidade. Mas não me parece que se deva desqualificar candidaturas que resultam de actos de clarificação política, como foi o caso de Lisboa, mesmo com os 4% que referes. Ou achas que o Bloco deveria ter feito parte da Coligação do António Costa? Assim não se queimava ninguem, mas também não se afirmavam principios que naquele momento se consideraram mais importantes.

Abraços
Hugo Dias

rafael disse...

Amigo Hugo,

nao resisto fazer esta provocaçao: houve alguma reuniao da Mesa Nacional do BE hoje à tarde?

abraço

Zé Miranda disse...

o facto de o Alegre perceber que necessita do apoio do PS para ganhar (e aqui surge a pergunta que tantos entala quando exigem uma candidatura sem o apoio do PS: então só apoiam o Alegre se for para perder?) não aproxima necessariamente Alegre do neo-liberalismo do Sócrates. Por menos crédito que se dê ao Manuel Alegre eu não acredito que o "estado estratega" e a oposição ao código trabalho sejam apenas retórica e posicionamento táctico que lhe convém... O percurso político recente do Alegre, e que o tornou relevante na cena política, é feito por oposição ao PS, por oposição às políticas que o PS trouxe ao país desde há muito tempo, assumindo publicamente a vontade (nos encontros das esquerdas) em procurar outros caminhos para a esquerda em Portugal fora do PS. Lança agora uma candidatura independente.

É claro que há o comicio de Coimbra a trocar as voltas...

assim, não acho que o Bloco devesse ter feito parte da coligação Costa nem ceder aos pricipios em nome da utilidade do voto.

mas que principios (além do purismo que caracteriza certa extrema-esquerda, nunca presente no ADN do Bloco) são esses que o Bloco deve afirmar nesta campanha, em oposição ao Alegre? E como fazer isso?

Neste panorama, se o Bloco chegar a Alegre primeiro que o PS pode tornar as coisas bem mais desconfortáveis para Socrates.

rafael disse...

"Neste panorama, se o Bloco chegar a Alegre primeiro que o PS pode tornar as coisas bem mais desconfortáveis para Socrates."

ò Zé Miranda, desculpe lá, mas que santa ingenuidade...

Zé Miranda disse...

desconfortáveis para Sócrates será:

- sem outras opções, como Alegre o colocou

- chegar atrasado no apoio a um candidato que se opôs às políticas que o PS defendeu, a uma candidatura já protagonizada pelo seu maior adversário à esquerda.

Acho que o crescimento da Esquerda se vai fazendo com mais politicas de esquerda, com mais vitórias de esquerda. No fim do dia, os partidos de esquerda fazem sentido se trouxerem mais igualdade, justiça social e democracia - se forem transformadores.

Haja a capacidade de criar as condições para que, de facto, exista essa transformação social sustentada por políticas à esquerda. Crie-se essa capacidade, seja pelo movimento social (aka luta de classes), seja também pelas boas tomadas de decisão nas lutas no campo politico.

E sobretudo olhando mais para as aspirações da população, de uma vida melhor, e menos de encontro às utopias que encontramos em tantos guiões que a esquerda tanto gosta e tanto se esgota...

Não?

abraços

rafael disse...

"o apoio a um candidato que se opôs às políticas que o PS defendeu, a uma candidatura já protagonizada pelo seu maior adversário à esquerda."
estamos a falar do Alegre que pediu o voto para Sócrates nas ultimas legislativas? estamos a falar do Alegre que combinou com Sócrates votar contra o código do trabalho, sabendo à partida q nao o inviabilizaria? Pq se o voto contra o chumbasse, passava a abstençao?

só para saber se falamos do mesmo ALegre...

PS: e que nao haja confusoes, movimento social e lutas de classes sao coisas distintas. Podem tocar-se e até serem, em certas circunstancias complementares, mas sao distintas...

Zé Miranda disse...

(protagonizada não foi uma boa palavra)

falava de uma candidatura já dinamizada pelo seu maior adversário à esquerda e queria referir-me à dinâmica que o Bloco (o maior adeversário do PS à esquerda) pode trazer à campanha do Alegre.

(movimento social, luta de classes) falava também da importância de organizar e imprimir conflito social, seja a prespectiva que se queira tomar, mas lembrando que a mudança, não só mas também, se alcança com boa representação no campo políco. Por essa europa fora temos muitos exemplos de uma esquerda social forte e dinâmica, sem uma competente esquerda política - ver resultados das europeias e constatar e aplaudir a excepção portuguesa.

É necessária uma análise sem fantasmas.

Não são as decisões pontuais que modificam as organizações ou as suas orientações. Mas podem ser as alianças tacticas a tornar mais favorável a relação de forças, o apoio popular às causas de esquerda.

e presidênciais não tem rigorosamente nada a ver com governação! tem muito mais a ver com um controlo à governação de outros.

Anônimo disse...

Mais tarde tentarei mandar um bitaite sobre a vossa discussão, mas neste momento não resisto a mandar uma provocação ao rafael!

Pelo que tem sido aventado na imprensa, o PCP poderá também não apresentar uma candidatura própria, apoiando Alegre á 1ª volta, ou então lançar aquelas candidaturas que acabam por não ir a votos. Isso coloca alguns problema tb... :p

Abraços
Hugo

Anônimo disse...

"e presidênciais não tem rigorosamente nada a ver com governação! tem muito mais a ver com um controlo à governação dos outros."

É mesmo preciso ser muito, mas mesmo muito ingénuo. Ou então fingir-se de parvo para esconder apoios indirectos ao governo. É que se o presidente não tem nada a ver com a governação, não se percebe porque é que o PS +/- D sonham sempre com uma maioria, um governo e um presidente.

rafael disse...

Pois é Hugo, a imprensa diz muita coisa...mas nao me parece que haja qualquer decisao sem uma reuniao do Comité Central. Face ao tao criticado centralismo democrático do PCP, o Bloco apresenta um centralismo burocrático...à albanesa, será?

Volta, Enver Hoxha estás perdoado. ;)

abraços libertários

Zé Miranda disse...

Uma reunião do CC onde todos concordarão com todos e onde vêm cantar em coro cá para fora. é sempre bonito ver pessoas do pcp a usar o argumento democrático.

basta procurar um bocadinho na internet para aceder à informação de que o Bloco terá na próxima semana uma Mesa Nacional. antes disso nenhuma posição oficial pode ser tomada, como é obvio. mas quando for de certeza que não será em coro. e ainda bem. já nos basta os da igreja e os das praxes académicas.

O Manso disse...

ò Zé, nao brinques comigo! o que é que foi a declaraçao de Louça ontem entao?

já agora, pelo que vejo falas de experiencia propria, já assististe a muitas reunioes do CC? Sabes como se processam? como sao realizadas as discussoes? Como sao apresentadas as conclusoes?

rafael disse...

ainda nao tinha reparado na foto...é reveladora do teu estado de espirito relativamente a esta questao, Hugo?

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