O mais lúcido post...

...sobre o assunto blogosférico da semana é este, do Ricardo Noronha. Deixo dois excertos (mas vale a pena ler tudo):

Acolho com algum cepticismo as denúncias apaixonadas, mas tardias, do autoritarismo de Sócrates e da sua incapacidade de lidar com críticas. Foi precisamente esse um dos atributos que lhe mereceu mais elogios quando se tratou de reunir o consenso em torno das «reformas difíceis», contra os «interesses corporativos» e as «resistências à mudança». Nunca faltou apoio a Sócrates para «arrumar a casa», mesmo quando isso implicou uma ofensiva generalizada contra o movimento sindical e contra todos os que se atreveram a denunciar o aprofundamento das desigualdades sociais que acompanhava a sua proposta de «modernização». É verdade que não lhe foi então necessário «silenciar», «afastar» ou «perseguir» pessoas que escreviam nos jornais. Pela simples razão de que os jornais foram há muito higienizados contra esse tipo de opiniões, arcaicas e teimosas, tendo ficado apenas meia dúzia de consciências de esquerda para compor uma duvidosa imagem de pluralismo.


Se é de princípios que se está a falar, então é bom relembrar que a alternativa a Sócrates nas últimas legislativas gosta de fazer humor a propósito da suspensão da democracia e acha um abuso que os jornalistas escrevam as notícias como querem. Por princípio, parece-me indesejável participar numa manifestação dedicada à causa da liberdade, promovida por pessoas que consideravam Manuela Ferreira Leite a melhor solução para os problemas do país e que se dirigem explicitamente a Cavaco para que ele salve a pátria. É sabido que o homem do leme nunca revelou grandes preocupações com o tema e, no que diz respeito ao combate pela liberdade, chega tarde ao seu encontro com a história. Nenhum episódio de calhandrice será suficiente para fazer dele um democrata. A liberdade não vai passar por aqui. Cuidado com as más companhias.

3 comentários:

Frederica Jordão disse...

É bom manter-se esta lucidez acerca da manifestação que se aproxima. Por mais que se dêem voltas ao texto, as palavras de ordem que ali se debitam não estão suficientemente esclarecidas.

Voltando (inevitavelmente) às "más companhias", lembro que, se nenhuma luta existe no vácuo e tem o seu contexto social e político, quando se trata de alinhar pelo ensino universal, gratuito e de qualidade ou assuntos que tais, perspectiva-se um resultado que é prático, palpável e reside num caderno de reinvindicações que pode ser consultado e subscrito.
Neste caso, o caderno de reivindicações consiste numas generalidades bem intencionadas cuja leveza deve ser sempre de desconfiar. Sabendo disto e à vista de tudo o que se tem escrito por aqui e noutros lugares da blogosfera, temo que seja mais um caderno de encargos ou uma assinatura em branco.

Mais, penso que será difícil para as esquerdas tentarem controlar a manifestação ou mobilizar alternativas. Nem lhes ficará bem, tendo em conta o fantasma do populismo, mas espero para ver quem lá vai estar. Penso que vai haver surpresas.

Anônimo disse...

Só duas perguntinhas:
1-leram as escutas?
2-qual é a dúvida?
Alcatrão e penas.
O flagrante delito não é teorizável.
Não percam o segundo fascículo na sexta.
A manif faz todo o sentido, tal como faz sentido a indignação não ter cor partidária.
Quantos mais aparecerem maior será o sinal dos que querem viver fora da lógica de ideologias há muito mortas e enterradas. O que distingue os partidos é o que distingue os clubes de futebol, a cor. No resto só querem ganhar uns aos outros e foi essa lógica que nos conduziu até aqui e aos mitos/medos da falta de alternativa ou de que só é possível governar com poder absoluto.
Toda a gente é bem vinda amanhã.
Cumps,
tripamoura

Miguel Cardina disse...

tripamoura,
O seu extremismo anti-partidos e anti-ideologia é um belo retrato da manif. branca. Esse é precisamente um dos motivos que me faz recusá-la.

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