França: O início de uma viragem consolidada à esquerda?

Líderes do PSF, do PCF e de Europe Ecologie

As eleições regionais em França sancionaram Sarkosy e o seu Governo. Ainda que a(s) leitura(s) do(s) resultado(s) destas eleições não possa(m) ser de forma tão linear transpostas para uma dimensão nacional, parece contudo inegável que o sentido maioritário dos votos não deixou de ser de censura para um Presidente e um Governo cada vez mais desgastados. 21 das 22 regiões da França metropolitana foram ganhas pela esquerda! Aliás, amanhã, Sarkosy e Fillon -que entretanto vão encenar mais uma remodelação governamental - enfrentam mais uma greve de 5 centrais sindicais (com CFDT e CGT) juntando trabalhadores/as do privado e do público.
A tensão nas universidades ainda está longe de ter acabado e a qualquer momento pode voltar a surgir; o "conflito" nas banlieues - e a tensão social de modo geral - está sempre latente; a política de expulsão dos/as imigrantes ilegais tem sido vergonhosa e tende a ser cada vez mais contestada; com o pseudodebate sobre a identidade nacional saiu - a Sarkosy - o tiro pela culatra; os gastos elevadíssimos da Presidência Francesa da UE e da própria presidência de Sarkosy não caíram bem; os resultados económicos estão longe de ser satisfatórios e a promessa de centrar o seu mandato no aumento do poder de compra dos/as franceses/as tem lhe sido cobrada diariamente; as desigualdades em França acentuaram-se; a persona de Sarkosy - o seu estilo, a sua arrogância, a sua incapacidade em admitir os seus erros; as polémicas em volta dos/as seus/suas ministros/as que ele domina ou quer dominar por completo; as suas recorrentes aparições nas revistas cores de rosa, etc, etc. - estão, aleluia, a começar a, finalmente, jogar a seu desfavor.
Não convém, contudo, deitar já foguetes, pois tirar este senhor de lá não será assim tão fácil. Se há coisa que ele tem é esperteza , astúcia e "inteligência política" digamos assim, para além de que ele só chegou onde chegou também por causa das fragilidades da esquerda, nomeadamente de PSF.
Martine Aubry que começou mal e com sérias dificuldades em pacificar o partido tem vindo a afirmar-se na liderança de PSF e em colocá-lo como alternativa (ainda frágil, diga-se). No entanto, esta não vai deixar de contar tão depressa com as ambições de Segolène Royal ou com os/as seus/suas inimigos/as internos/as que não lhe vão facilitar a tarefa, e vai ter de chegar a acordo com Bertrand Delanoë - de que pessoalmente gosto muito e espero que este venha a assumir um papel de relevo no PSF e no País. A sombra de Strauss Kahn continua igualmente a pairar e desconfio que continuará. As pontes à esquerda que M.A tem conseguido estabelecer não estão asseguradas e dependerão muito da conjuntura política e da própria dinâmica e orientação do PSF. O MODEM - "centristas" liderados/as por Bayrou - apesar de fragilizado arrisca-se a continuar a ser uma pedra no sapato de muitos/as dado continuar a conseguir cativar algum eleitorado que no confronto Esquerda/Direita pode fazer a diferença.
A porra do FN é que teima em "resistir": pouco menos de 10% dos votos. Apesar de Jean Marie Le Pen estar mais para lá do que para cá, continua a não largar o osso e a sua "descendência" - leia-se a filha Marine Le Pen - tem conseguido segurar boa parte do "eleitorado" do FN...
A Europe Ecologie tem conseguido afirmar-se no panorama político francês, ainda que o seu futuro e o caminho a seguir continue a provocar discordâncias internas que podem agudizar-se e comprometer o seu crescimento se não forem bem geridas. A ver vamos...
Ainda assim, é de assinalar a convergência de grande parte da Esquerda, em boa medida responsável por estes resultados. PSF, Front de Gauche (juntando Partido Comunista Francês, que não tem outro remédio senão aliar-se pois está reduzido a nada ou quase, alguns/mas altermundialistas, comunistas renovadores/as, descontentes com o PSF, etc.) e Europe Ecologie juntaram-se na segunda volta e espero que o caminho seguido pelo PSF continue a ser esse: o de virar à esquerda e de virar-se para a esquerda .
Pode ser que isso inspire outros líderes de partidos socialistas... Mmmhhh.....pois, também não me parece.

5 comentários:

Anônimo disse...

O NPA devia aprender algo com o exemplo do PSR...

magda alves disse...

Pois, o NPA está com a vida sériamente dificultada. É normal que tenham um resultado muito baixo em eleições que não sejam de "dimensão nacional" porque não têm implementação local, estrutura, militantes, financiamento, etc, etc. Já o resultado das Europeias foi um sério alerta. Besancenot começa a ser, com alguma regularidade, contestado internamente e "por fora" as coisas não lhe têm corrido bem. O aparecimento e a consolidação do Front de Gauche e da Europe Écologie são sérias ameaças. Ou começam a repensar a estratégia, ou então não sei...

Anônimo disse...

França tem que ajudar com o seu exemplo de dentro para fora e dar a volta à Europa de Direita, mas na minha ignorância o eixo franco alemão nao permite...nem a atitude "je deteste les Etats Unis" mas tenho os mesmos problemas sociais...LOL

Hugo Dias disse...

Magda, concordo contigo quanto às dificuldades da capacidade de intervenção do NPA no terreno local, regional. Mas o resultado das Europeias (4,8%) ficou próximo de eleger um deputado europeu.

Nas regionais, o facto das eleições serem a duas voltas leva a muitos acordos de lugares entre o PSF, PCF e outros na 2ª volta. o que o NPA defende é que uma verdadeira frente de esquerda deveria ter independência política face ao PSF e que a discussão se deveria centrar nas políticas e não nos lugares. Onde isso foi possivel o NPA fez parte da frente de esquerda. O caso que vi foi em Limousin, onde tiveram 13% à primeira volta e na 2ª quase 20%. O PSF ganha sozinho mas esses 20% terão mais importância na guinada à esquerda do que qualquer outra coisa.

magda alves disse...

Oi hugo! Não sei porquê estava convicta que o NPA tinha tido nas europeias resultado perto de 2,5%..depois de teu comentário fui confirmar e tens razão, 4,9% quase o que não é de facto mau ainda que o front de gauche tenha tido perto de 6,5% quando surgiu depois. Sobre a segunda volta das regionais de facto isso não ajuda as pequenas formações, tens razão , é aliás por isso que por norma há "coligações" à segunda volta. Ainda que acompanhando de longe, parece me sinceramente que NPA está ou arrisca-se a estar a perder algum terreno. Mas admito que possa estar enganada. agora que front de gauche e europe ecologie lhe dificultaram a vida , isso não tenho grandes duvidas. A ver vamos. BJI

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