Desempregadas/os precisam-se!






Andrea Inocêncio e Mariana Bacelar definem-se como " artistas / desempregadas / trabalhadoras precárias" e estão na net à procura dos/as seus/suas modelos. Com a performance colectiva "Monumento ao Desempregado do Ano", pretende-se, na linha da intervenção urbana de artistas como Gilbert & George, Joseph Beuys, Rirkrit Tiravanija ou do movimento Fluxus, encenar o maior monumento vivo à maior conquista dos nossos tempos: a precariedade no trabalho e o desemprego.
Nos dias 5 e 6 de Junho, nos Jardins de Serralves, no Porto, Andrea Inocêncio e Mariana Bacelar vão coordenar uma gigantesca estátua viva que corporize e dê visibilidade aos números e às estatísticas da corrosão do valor do trabalho.

Esta intervenção, realizada bem no coração do Monumento aos recibos verdes, foi seleccionada durante o Concurso Projectos Artísticos para o evento "Serralves em Festa! 2010", orientado para a divulgação de novos valores em arte contemporânea portuguesa. A pertinência desta intervenção, ironicamente patrocinada pelo poder instituído, ganhou, com a divulgação do relatório da inspecção da Autoridade para as Condições de Trabalho de 4 de Março de 2010, um sentido renovado que só poderá acrescentar ao valor conceptual (e plástico, se as/os precárias/os de Serralves assim o entenderem) do trabalho das artistas.

As inscrições para integrar o "Monumento" estão abertas em
http://monumentoaodesempregadodoano2010.blogspot.com/
Fica o programa das festas:

Dia 5 de Junho às 14h30
Dia 5 de Junho às 17h00
Dia 6 de Junho às 14h30
Dia 6 de Junho às 17h00, sempre nos Jardins de Serralves.

4 comentários:

Tapa na pantera disse...

"ironicamente patrocinada pelo poder instituído"...
A ironia no entanto não é muita. Não devem ser muitos os desempregados a admirar esta obra, será mais para cultura da elite champanhe do Serralves admirar novas objectivações desse fenómeno do desemprego e trabalho precário, que é uma maçada diga-se, (bolsas de doutoramentos atrasadas, toda uma vivência arruinada).O programa é lamentar o trabalho precário, e depois jantar fora...Poça, cada vez mais se brinca aos protestos, enquanto o povo se afunda literalmente.Vão passear!

Frederica Jordão disse...

Tapa na Pantera, confirma-se que Serralves está até ao tecto de "elite champanhe", como diz. E parece confirmar-se também que o trabalho precário (uma maçada...) começa já a sair pelas frinchas de Serralves, como se pode ver no post de Luís Branco "A paixão de Serralves pelos falsos recibos verdes", aqui: http://minoriarelativa.blogspot.com/2010/05/paixao-de-serralves-pelos-falsos.html
O poder da arte / intervenção artística em provocar a mudança social está para além de comprovado, regressemos apenas a título de exemplo aos situacionistas, às avant-gardes inglesas e americanas, ao Bob Dylan, ao punk britânico e ao pós-punk, e ao pós-modernismo como resposta doméstica-anti-doméstica, etc.
Peço-lhe apenas que procure visualizar aqueles belos jardins, outrora (e daí, tantas vezes, não) fechado às elites caviar, repleto de desempregadas e desempregados que, convocadas/os através das redes sociais, querem fazer deste um protesto seu. Ainda vê o elitismo e a triagem de classe a funcionar?
Tanta amargura em relação às/aos artistas contemporâneos não ajuda nada à luta de classes, atenção aos alvos...

Frederica Jordão disse...

E, a bem da verdade, refira-se que Serralves não é só caviar, champanhe e falsos recibos verdes. Para que não se pense que isto é uma diatribe contra a instituição, reconheça-se a sua capacidade de promover a cultura, dinamizar as artes a norte, divulgar o trabalho de artistas contemporâneas/os e relacionar-se de forma extraordinária com a comunidade.

Andrea Peniche disse...

Seguindo o rumo da conversa, antes de Serralves eu não sabia o que era caviar!
Serralves tem uma excelente programação, um belíssimo jardim e um comovente edifício e, aos domingos, as entradas são gratuitas até às 14 horas. O que tresanda em Serralves são os falsos recibos verdes.
Parece-me, pois, que o Monumento ao/á Desempregado/a do Ano a erigir em Serralves numa altura destas, depois de o FERVE ter denunciado os falsos recibos verdes, é um daqueles deliciosos paradoxos que só pode trazer proveito ou, pelo menos, questionamento. Mais, muitas/os artistas envolvidas/os no projecto são, pasme-se, activistas contra o trabalho precário e, pasme-se ainda mais, elas/eles próprias/os também são trabalhadoras/es precárias/os.

Postar um comentário