Notas soltas à la Marcel@

Já há bastante tempo que não posto nada. Na verdade para preguiços@s como eu o facebook pode rapidamente tornar-se num concorrente desleal/boa alternativa aos blogs. Sem grande inspiração para escrever nem grande tempo para acompanhar como se deve a actualidade ou sem saber muito bem o que dizer sobre ela:), a economia de "espaço" do facebook pode revelar-se um óptimo substituto. Mandar umas bocas/uns rápidos comentários, estados de alma, via facebook ou linkar noticias para as quais queremos despertar a atenção torna-se bem mais fácil do que escrever num blog sem transformar as postagens neste em frases tipo telégrafo. Stop.:)
Ainda assim e para evitar que a malta amiga aqui do blog me despeça (até porque consta que não há cá subsidios para ninguem malandros/as) opto desta vez por me armar em Marcel@ Rebelo de Sousa com as suas notas no Sol, em que manda algumas achegas sobre temas que lhe despertaram a atenção em cada dia da semana que passou. Mas até nisto sou perguiçosa - já nem me lembro muito bem do que fiz ou vi ontem quanto mais na segunda feira ou na última sexta - e por isso sigo a mesma lógica mas por temas. Aqui vão para já três.
- Fanáticos/as contra a autodeterminação individual - fiquei pasmada com a noticia sobre "os piquetes pro-vida/contra a escolha". Burrice minha pois já devia saber do que aquela malta é capaz. Piquetes à porta da clínica dos arcos com biblia, terço, pseudo-caridadezinha, aquele ar de que "minha senhora, pense bem, estamos aqui por si, pela vida, estamos aqui para ajudá-la, pode contar connosco, encoste aqui a sua cabeçinha no meu ombro e chore" bla, bla, bla (isto querendo acreditar que não vão para lá com aqueles bonequinhos ou pins com pezinhos de crianças que usaram nas campanhas) enquadra-se perfeitamente na mentalidade daquela gente, gente que não respeita nada nem ninguém, que considera as mulheres uns seres menores, que despreza o direito à autodeterminação, à escolha, à dignidade. Gente que me dá voltas aos estômago.
Enfim, "apenas" para nos (re)lembrar, se tal fosse preciso, que conseguimos depois de muitos anos de reinvendicação, julgamentos, etc, etc a mudança da lei mas que esta não é um dado adquirido e que mesmo que ela não venha nunca a mudar, que falta muito ainda para a mudança social e cultural, para a mudança de mentalidades, para a afirmação das mulheres como Sujeitos com, nomeadamente, o direito à autodeterminação, ao corpo, a serem e decidirem o que quiserem sem ter que justificar-se, pedir perdão ou licença, ou sem ter que aturar coisas destas.
- 1º de MAio - May Day - Foi a primeira vez que participei no May Day não por não me rever nos seus princípios mas porque olha não se proporcionou antes ou possivelmente não o proporcionei:). Fi -lo este ano em Lisboa, não me arrependi, gostei e valorizo o surgimento e desenvolvimento deste "movimento/protesto" e da sua importância. Ainda assim dizer que estava porventura com expectativas demasiado elevadas. Não quanto ao protesto em si que até correu bem (tirando um ou dois momentos de "animação" que eram escusados:) mas quanto à mobilização e alcance da iniciativa. Estava à espera de bastante mais pessoas e mais diversificadas (para falar claro, que não fosse quase só pessoas com militância no Bloco ou perto de e mesmo nessas pareceu-me que eram maioritariamente de uma ou duas tendências dentro dele , mas aqui falo de côr).
Não que isso seja um problema em si, não o é, mas talvez porque tendo em conta o aumento considerável da precariedade e da sua denúncia pública (falsos recibos verdes, etc) e porque visto de fora - mediante a informação que me ia chegando via mail, redes sociais, blogs, amigos/as - julgava que tinha conseguido criar e gerar uma maior dinâmica, que teria conseguido alargar e sinceramente não me pareceu, de todo.
Sub nota: fui com o may day até o martim moniz e depois juntei me à manif da CGTP - impressionante como se nota logo a diferença. Como dizia uma amiga , os tempos , os sons, os ritmos da manif não têm nada a ver. Tudo ali "ordenadinho" ou quase, sector atrás de sector ou "reivendicação atrás de reivendicação", muito diverso mas ao mesmo tempo a parecer por vezes tudo muito "homogéneo".
- Trabalho sexual é trabalho - o MayDay contou este ano, quer em Lisboa quer no Porto, com a participação de trabalhadoras/es sexuais (já tinha contado o ano passado mas desta vez foi mais visível pública e mediáticamente, teve mais pessoas e foi mais "trabalhado") e com frases, lemas sobre o tema apelando ao respeito pelo trabalho sexual e pelos seus/suas trabalhadores/as, à dignificação das pessoas. Acima de tudo ao fim da estigmatização procurando dar visibilidade a outro tipo de trabalho precário, de trabalho informal, que não o tradicionalmente referenciado. Algo que muitos/as preferem não ver, não pensar sobre, não...nada ou então tudo numa só categoria, numa só explicação, numa só leitura. Visões únicas. É óbvio que tal pode dar asas a leituras inviezadas, simplistas ou a confusões, misturando trabalho sexual com tráfico sexual, redes de prostituição , trabalho forçado (por terceiros ou pelas circunstâncias) etc e que tal "demarcha" pode contribuir para o desculpar de um sistema que porventura empurra muitas pessoas para esta profissão. Cuidados a ter para não se generalizarem/homogeneizarem discursos mas sem dúvida importante pela reflexão que traz, pela voz que dá às/aos protagonistas, pela visibilidade que proporciona aos múltiplos percursos, vontades, motivos existentes, por estar centrado nas pessoas.

5 comentários:

Alexandre disse...

ai pois é, que na cgtp anda tudo a toque de caixa

Andrea Peniche disse...

Deixa-me contar-te o que ouvi da boca dos sinistros gorilas do serviço de ordem: Trabalho sexual é trabalho?! Agora as putas também vêm ao 1º de Maio?!

Xavier disse...

Não me leve a mal que faça dois reparos ao seu texto, um formal e um de conteúdo:

1ºadvérbios de modo não levam acento e em português a palavra "reinvendicação" não existe. Existe, sim, reivindicação.

2º Destilar ódio para cima das pessoas que estão à porta das clínicas a tentar dissuadir as mulheres de praticarem um aborto não é a melhor forma de convencer os outros da autoridade da sua posição. Concordará, certamente, que o aborto, em si não é uma coisa boa e que implica uma situação de - pelo menos algum - sofrimento.
Portanto, que haja gente disposta a ajudar e a convencer as mulheres de que há outras soluções menos drásticas oferecendo uma palavra de esperança, não devia ser visto como uma atitude própria de quem não respeita nada nem ninguém. Nem, permita-me, devia ser razão para as suas dores de estômago.

Também não percebo, nem acho que chegarei a perceber o anátema da esquerda sobre a caridade cristã a não ser dum ponto de vista meramente estratégico no âmbito de um projecto de transformação revolucionária onde se pretende que vigore a máxima "quanto pior melhor".
Do ponto de vista moral, aquilo que a Magda chama pseudo-caridadezinha implica o sacrifício voluntário e a entrega generosa daqueles que dedicam horas dos seus dias, dias das suas semanas, meses e também anos a tentar ajudar quem mais precisa.

O ideal seria que cada um reconhecesse o valor da caridade e nesse caso tornar-se-ia dispensável a necessidade de entregarmos o nosso dinheiro ao estado para o resdistribuir em nosso lugar.

meus cumprimentos.
Xavier

Andrea Peniche disse...

Dizer que a decisão pela interrupção voluntária de uma gravidez não desejada é uma decisão que implica uma profunda dor é um lugar comum. Muitas mulheres haverá que a sentem, não duvido; outras tantas o que sentem é um profundo alívio.
Mas a questão, em meu entender é outra: sendo a decisão dolorosa ou não, ela foi tomada e deve ser respeitada. Desrespeitoso é que alguém nos tente provar que a nossa decisão é errada, imatura e imponderada.
Os grupos anti-escolha têm direito a existir, mas não têm o direito de menorizarem as escolhas das mulheres. Têm o direito de ajudar se para tal forem solicitados.
Quanto à caridade, à falta de melhor proposta, a minha escolha é a da redistribuição pública da riqueza por um poder eleito democraticamente e sujeito ao escrutínio popular. Tudo o resto é legítimo, generoso até, mas não é solução. E não, do meu ponto de vista quanto pior, pior.

magda alves disse...

Xavier, dizer lhe "só" algumas coisas porque revejo me completamente na resposta da Andreia. Sobre o seu primeiro ponto, sempre me irritaram os/as supostos/as professores/as de português cujos comentários aos posts prendem-se com a ortografia sem parecer perceber que muitas pessoas quando escrevem posts não estão propriamente a escrever um ofício para uma determinada entidade ou um relatório para a FCT. A escrita em blogs é muitas vezes feita rapidamente, num tom e numa forma descontraída, sem ditames de forma ou conteúdo. Claro que procuro sempre reler os meus posts e corrigir eventuais erros mas não o faço minuciosamente , pelos motivos que expliquei acima. E não percebo qual o objectivo desses comentários - não me refiro só ao seu mas aos vários que já vi sobre posts de outras pessoas. Acha sinceramente que não sei escrever reivendicação? E mesmo que não soubesse ou saiba, so what? Estaria à espera que me ensinasse? Ou o objectivo é pegar pela forma para descridibilizar o conteúdo? Bem, mas passando porque isso de facto não interessa.

Sobre o resto, aliás o essencial, partilho na íntegra do que a andrea disse. E acrescentava "só" que para muitas mulheres sofrimento é querer menorizar as suas escolhas e a sua capacidade de decidir; é tudo fazer para que elas se sintam culpadas quando não têm que se sentir; é querer obrigá-las a levar por diante uma gravidez que não desejaram nem desejam. È chamá-las de assassinas; é terem nas mantido sobre a espada da lei durante anos, é ter havido julgamentos; foram as consequências sobre a sua saúde que a lei restritiva lhes impôs a elas ou a outras mulheres. Tudo isto defendido e promovido por esses grupos ditos pró vida. Mas esse sofrimento claro nem sequer lhes passou nem passa pela cabeça porque isso não interessa nada.
Os motivos que podem levar uma mulher a abortar são múltiplos, e as consequências emocionais que um aborto pode ter são várias. Como disse a Andrea para algumas poderá causar pouco, algum, bastante sofrimento, para outras um verdadeiro alívio. Irem para as portas de uma clinica tentar dissuadi-las quando a sua decisão já está tomada; sem elas terem pedido rigorosamente nada , com um discurso moralisador, procurando explorar as suas possíveis diversas emoções, é um desrespeito absoluto, porque sejamos claros/as: a convicção dessas pessoas dispostas a irem para a frente de uma clínica é a de que essas mulheres estão a cometer um crime, que elas são seres menos respeitáveis, que elas estão completamente erradas etc; não é portanto algo de "genuino", é algo profundamente ancorado numa determinada concepção das mulheres, da maternidade, da liberdade e dignidade de cada um/a que sim me causa voltas ao estômago.

E lamento, mas dizer-lhe que os/as activistas, cidadãos/ãs que defenderam a despenalização do aborto, e que abominam as já há muito conhecidas estratégias dos grupos anti-escolha também eles/as se "entregam generosamente às causas em que acreditam e dedicam horas dos seus dias, dias, das suas semanas, meses e também anos" a essas causas, princípios e valores. Mas com uma diferença de facto: é que essa entrega toda não pretende menorizar, desrespeitar, subjugar as pessoas, mas sim, antes pelo contrário, promover a sua, a nossa, liberdade, dignidade, igualdade.

Nota: "peço desculpa" antecipadamente pelos erros ortográficos que este comentário por certo terá, sabe como é:)

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