Paris, what a city


É verdade que os centros históricos são reservas naturais para turistas, limpinhos, artificais, pintados de fresco. Em Paris, no café de Flore já não param Sartre nem Beauvoir, Picasso há muito abandonou as ruas de Monmarte, Gainsbourg está algures enterrado em Monparnasse e já não dança La Décadanse nem ataca meninas indefesas. A cidade é “mortalmente aborrecida” (já dizia o Rui Tavares) com esplanadas iguais em todos os lados e turistas hávidos de crepes, Lafayettes, compulsivos do disparo fotográfico.

Augé (com quem tenho contas a ajustar por causa de uns terrenos) fala do turismo como uma parte da humanidade que olha a outra como espectáculo “sem que a natureza do espectáculo conte realmente (...) como se, em última análise, o espectador em posição de espectador fosse para si próprio o seu proprio espectáculo”. Como se só longe daqui encontrássemos parte de nós e essa parte se resumisse ao sorriso decalcado nos sucessivos palcos de uma fotografia.

(Na imagem: Eu em Paris com carrinho de compras e bonhomme a gritar La vie en rose)

2 comentários:

magda alves disse...

Oi! feriste com este post a minha alma de emigra:) Paris, mortalmente aborrecida?!! NNNãããooo!!:) Poderia dizer se muita coisa daquela cidade, mas aborrecida sinceramente não me parece, ainda que seja suspeita. Vivi lá muitos anos e se acho que de facto não lhe dava o devido valor enquanto lá vivi (essencialmente porque não aproveitei nem 1/5 do que aquela cidade tem para ofececer), adoro lá voltar . BJI*

Cátia Guerra disse...

Ups!! Meti o pé na poça! Mas olha que é um bocadinho. Quem o disse, originalmente, foi o Rui: http://barnabe.weblog.com.pt/arquivo/152544.html
Desanca a cidade.

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