Surfin' bird... papa papa papa papa papa papa

Bem sei que o sonho de muita e ampla esquerda, radical ou enconado-institucional, passa em grande medida por receber o Santo Padre como os populares recebiam Carlos Cruz à entrada do tribunal. Os marxistas gritariam «paneleiro», os paneleiros gritariam «chupista» (lá está), a islamofilia gritaria, com autoridade moral, «assassino», e, finalmente, Freitas do Amaral (há merdas do caralho) gritaria «incendiário», cuspindo de seguida um preocupado «vamos mazé fazer um jogo de futebol... e coise...». Os laicos e republicanos, com eficácia maçónica, namorariam o Ministério Público e prescindiam, naturalmente, do espectáculo popular, a que têm nojo por causa do cheiro a velho e das unhas cagadas.
Eu, que não sou católico pelo mero acaso de não ser crente e que nunca escrevi para O Tempo e o Modo pelo mero acaso de ser cardíaco (e não ser rico), prefiro a pedagogia duns Bronski Beat, que ao que consta não seriam propriamente meninos de sacristia. Isto enquanto não me der para assinar petições de repúdio «por outras matérias políticas» ou para reagir ao laicismo zeloso e jacobino do governo, que se atirou ao subsídio de Natal como o outro se atirou aos gravadores.



It ain't necessarily so
It ain't necessarily so
The things that you're liable
To read in the Bible,
It ain't necessarily so.

8 comentários:

Alex disse...

eu era gajo para o tratar mal (mesmo sendo ele um senhor mais velho que eu diga-se)! e se não fosse por a religião ser ó opio do povo(porque o benfica este ano arrecadou esse titulo também), seria por exemplo por não recomendar o uso do preservativo em África. Isso é criminoso em qualquer ângulo!
"Os laicos e republicanos, com eficácia maçónica, namorariam o Ministério Público e prescindiam, naturalmente, do espectáculo popular, a que têm nojo por causa do cheiro a velho e das unhas cagadas." Como se dizia nos já idos tempos do mirc (que isto agora o que é velho já não é definido como antigamente)-lolada (:

Tiago Ribeiro disse...

Alex, isso é criminoso nomeadamente no ângulo recto ;) hehe

Andrea Peniche disse...

Eu estou é um bocadinho farta de ter de pedir desculpa por ser ateia. E não aceito o argumento das vacas sagradas: a maioria da população portuguesa é católica (e eu conto para essa estatística) e, portanto, há que respeitar, pagar e calar. Eu respeito a fé, mas fico-me por aqui. Não respeito a doutrina católica e combato-a na exacta medida em que ela condiciona a minha vida e contribui para aquilo que eu considero o atraso dos costumes e dos modos de vida. A maioria da população mundial também é feminina e nem por isso a ICAR ou o mundo, de uma forma geral, a respeita. 30 anos foi o tempo de espera para a descriminalização do aborto neste país, só para dar um exemplo.
Não me verás no meio de uma homilia a apupar o papa (até porque eu sou das que vão trabalhar) porque, precisamente, respeito esse momento que é um momento de fé.
Mas a vinda do Papa a Portugal é a dita deixa para tornar audível aquilo em que creio. Mais, farei (e já fiz) a mesma coisa quando outro chefe de Estado ou confessional, que me cause urticária, visitar o País.

Diogo Augusto disse...

E do Dalai Lama? Ninguém fala do Dalai Lama?

Andrea Peniche disse...

Assim de repente, não me lembro do Dalai Lama ter sido recebido pelo PR nem pelo PM, nem da tolerância de ponto, nem de ter sido transportado pela TAP. A pergunta é: e devia tê-lo sido? Adivinhas a minha resposta, certo?

Tiago Ribeiro disse...

Andrea, isto há aqui várias camadas e velocidades e em nenhuma delas a vaca sagrada é argumento. E também me resulta estranha essa ideia de que passas o santo dia a pedir desculpa pelo teu ateísmo. Mas provavelmente sou eu que ando em contraciclo e são muito poucos os católicos papistas que se me dão a conhecer. O que é certo - e é óbvio que aí tens razão - é que a propósito da visita da sumidade católica o Estado português enfiou o bedelho e o dinheiro público onde não é chamado. Nessa matéria, subscrevo: tolerância zero. E também é inequívoco que a ICAR tem agenda e mobilização política conservadora. Mas - lamento imenso - não se limita a isso e cumpre funções solidárias importantes que muita extrema-esquerda labrega insiste em não reconhecer ou em caricaturar como simples e mal-intencionada cobrança e propaganda moral. Não é que o não seja, mas há mais há mais vida e trabalho para além disso e talvez assim se compreenda alguma da força social de que a ICAR ainda dispõe e que tanta indignação suscita junto da preguiça anticlerical. Na minha cartografia política, a ICAR é 95% oponente 4% coadjuvante (1% para «vareia»), mas reconheço que não se esgota no Cardeal Saraiva Martins e na ultramontana Isilda Pegado. Mas há outra coisa: são raras as vezes em que os benefícios de uma unidade anticatólica superam os custos da sua larga idiotice. Esta petição vale o que vale, mas o meu umbigo - como bem dizes - é do caraças ;)

Frederica Jordão disse...

De facto, a Andrea não tem que pedir desculpas. Como já disse algures num post aqui no MR, o contributo da ICAR para a cultura é imenso mas também o é por omissão. Da mesma forma com a acção social: em que medida a acção social da igreja, se não tem uma acção supletiva do Estado e não pretende substituir-se a ele, não esvazia as responsabilidades do mesmo Estado? Que força de trabalho representa hoje o voluntariado? O que significa hoje a caridade? (Isto são perguntas, não são provocações.)

Anônimo disse...

De se lhe tirar o chapéu. Sublinho com particular entusiasmo o baptismo dos enconado-institucionais, essa família política de tão difícil caracterização.

Quanto à filia, é confessa, e sei que não estamos de acordo.

Renato T.

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