Doenças de nervos são doenças de ricos

A ministra da saúde anda a braços com a saúde mental: prescrições exageradas, médicos mal formados, despesistas e corruptos. E logo agora que o país está em crise!

Num país hiperdoente e hipermedicado (o que por si só faria sentido) não nos cansamos de ouvir que “já não se pode estar triste”, há países mais pobres e mais felizes, a especificidade de Portugal, o fado, a saudade...

Convinha antes de mais perceber porque é 23% dos portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica no último ano, se estão a ser mal diagnosticados, mal medicados, se os médicos são excessivamente zelosos ou simplesmente uma cambada de burlões.

Depois de ter revogado a portaria dos psicofármacos, Ana Jorge afirmou que ia “definir mecanismos reguladores” que beneficiassem quem realmente precisa, os doentes mais pobres e famintos, assim já a ver-se a barriga de kwashiorkor. Mas lembrando-se da frase da melhor poeta cá do burgo “Vinte anos de psiquiatria deixaram-me com mais 40 kg e uma distensão abdominal que me dá lugar sentado em todos os transportes públicos”, Ana Jorge resolveu reconsiderar e criar excepções para os doentes mentais graves, se assistidos no serviços público e “já" para o próximo ano.

Se o principal problema são as prescrições emotivas face às “prescrições racionais”, porque não implementar de vez a prescrição por princípio activo (ou de uma forma mais pomposa, por denominação comum internacional)? E longe de patentes e receitas trancadas à chave, criar um concurso prévio de modo a que ao princípio activo prescrito corresponda um só medicamento. Reproduzindo o que acontece nas farmácias hospitalares, evitavam-se as diferenças de biodisponibilidade que ocorrem mesmo quando se mantém o princípio activo e se muda de marca, a escolha subjectiva entre uma imensidão de fármacos equivalentes com preços muito variáveis, o problemas da mudança de caixas, paletes, cores ou sabores.

Bem sei que o João Cordeiro (e não só) ia ficar muito zangado e podia até ter, sei lá, uma crise de ansiedade. Caro João, caso isso aconteça, não nego que o ideal era ter o fármaco da melhor família, porsche design, sabor a mentol e "Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo...” de preferência nos champs-élysées, pois “estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo”. Na impossibilidade, o melhor é começar já a poupar.

3 comentários:

Ana Matos Pires disse...

"Depois de ter revogado a portaria dos psicofármacos", diz a Cátia, mas a verdade, verdadinha é q a 1474/2004 não é uma portaria específica para psocofármacos, o que torna a justificação apresentada para a sua revogação ainda mais hipócrita e aldrabona, ora veja http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_IV/portaria_1474_2004.pdf

Anônimo disse...

Basta ler o que escreveu para demonstrar que NÃO SABE, quanto muito deve ter ouvido alguém a dizer uns bitaites, o que acontece nas farmácias hospitalares.
Com o mesmo rigor e falta de bom senso se refere aos doentes mentais graves. Gostaria de a imaginar a conviver com um esquizofrénico não medicado e defender com tanto vigor o que aqui escreveu.
Também gostaria de a ver ficar longe de patentes nos casos, em que devido às patentes,o princípio activo prescrito corresponde a um só medicamento, porque não há alternativas.
Por fim não consigo ver no que escreveu, algo que pudesse ter evitado o descalabro das contas da saúde durante este ano.
A menos que aproveitasse o fel mal destilado com que escreveu este texto e desancasse a chamar burlões e corruptos a 10 milhões de portugueses, quando apenas alguns deles aproveitaram a oportunidade legislativa para aquisição dos medicamentos a preço de saldo.

Cátia Guerra disse...

Ana, não sabia que a portaria era tão abrangente. Aguardo o seu post sobre o assunto.

Anónimo, em que é que o posso ajudar?(Talvez fosse boa ideia começar por aprender a ler.)

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