A proclamação percorreu a Europa. Os governantes conservadores dos mais poderosos Estados europeus declararam estridentemente: o multiculturalismo falhou.
Nunca esclareceram o que entendem por multiculturalismo nem porque supostamente falhou. Limitam-se a constatar esse “falhanço” como se fosse óbvio e a apresentar como alternativa um assimilacionismo duro feito de “identidades musculadas” como se fosse a única solução. Ao fazê-lo apoiam-se e estimulam preconceitos profundos da Europa “civilizada”, pronta a (re)descobrir bodes expiatórios em tempo de crise. (...)
A proclamação de falhanço do multiculturalismo ilude o balanço da política imoral da Europa fortaleza, do “Frontex”, da “directiva da vergonha” (que uniformiza o modo de tratar estrangeiros/as ilegais: ou seja dá-lhes a expulsão como futuro), dos centros de detenção de imigrantes que permitem uma regulação muito musculada da mão-de-obra feita de abusos constantes, num jogo do gato e do rato que fabrica sem-papéis, seres humanos ilegais. E mesmo quem tem documentos só teria lugar na Europa como trabalhador/a descartável. No fundo, é este carácter utilitário, o sonho de usar mão-de-obra e de a mandar fora mantendo as características essenciais “puras” da sociedade de partida, que entrou em colapso porque os/as imigrantes estão para ficar e trouxeram outras formas de viver. E face a esta evidência responde-se mantendo más condições, juntando estigmatização ao mais alto nível e propondo assimilação, ou seja apagamento do que antes se procurava tornar invisível.
A verdadeira face da política de imigração europeia encontra-se cruamente nos campos agrícolas do Sul da Europa. A verdadeira face da política de imigração europeia encontrava-se na violência dos regimes ditatoriais do norte de África que, para além de fornecerem matérias-primas valiosas, serviam/servem de preciosa válvula para estancar a entrada massiva de imigrantes. As declarações de Merkel e companhia que remetem para um “perigo islâmico”, para uma Europa minada de minaretes, com as ruas cheias de véus e de burkas, escondem a islamofobia. E não deixa de ser irónico que as revoltas árabes pela democracia e pela justiça social lhes tenham respondido com tanta prontidão colocando em causa os seus preconceitos de base.
A verdadeira face da política de imigração europeia está ainda mais claramente na estimativa de que, desde 1988, 14.000 pessoas morreram na tentativa de penetrar nas muralhas da fortaleza Europa. Tolerância excessiva?
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O resto está aqui.
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