O discurso irregular sobre as contas dos partidos

As notícias sobre irregularidades nas contas dos partidos são recorrentes. E têm atingido, ao longo dos tempos, todos os partidos. Uma qualquer busca na internet poderá ajudar os mais esquecidos, como eu, a por-se a par desse historial.
Sobre estas irregularidades andou sempre à solta muita demagogia que fazia equivaler a menor das irregularidades à maior das trafulhices. Sobre isto não basta o comentário ligeiro e teremos de entrar no detalhe de que tipo de irregularidades se trata e porque foram cometidas. E se quisermos aprofundar a democracia será preciso um debate sobre financiamento dos partidos e regras de controlo das suas contas onde é preciso bem mais do que um discurso irregular de denúncia.
Por tudo isso, tenho dificuldade em entender a quantidade de ligações que amigos/as meus/minhas do Bloco de Esquerda fizeram a estas notícias tirando daí uma lição de superioridade moral face aos outros partidos. Julgo que a memória selectiva não cai bem. Até porque, se alguma vez voltar a haver irregularidades nas contas do Bloco de Esquerda, que irão então dizer? Que afinal os partidos são todos iguais ou aí já haverá algum espaço para nuances?

3 comentários:

Sandra Cunha disse...

Não se trata de apontar a ausência de irregularidades nas contas do Bloco de Esquerda como uma vitória per si (se o Bloco de Esquerda tivesse tido irregularidades desta vez, não seria a primeira vez). Trata-se de achar que se esforça por não as cometer e isso, já é uma enorme diferença. Se isso deve ser entendido como superioridade moral...? Bem, se o meu vizinho foge aos impostos e eu não eu é que estou moralmente errada?

Posto isto, concordo, evidentemente, com a necessidade do debate sobre o financiamento dos partidos.

Carlos Carujo disse...

Certo. Mas o que eu comentava não era bem essa ideia. De qualquer forma, assim voltamos a ter um problema: não se consegue provar pela simples transmissão daquela notícia (e menos ainda por alguns dos comentários que lhe fora associados) a ideia de que o Bloco se esforça por ter as contas bem e os outros (grandes, pequenos e médios) não. Acho esse pressuposto muito "clubista".
Não se trata apenas de considerar que se eu não fujo aos impostos estou numa situação moralmente mais cómoda que o meu vizinho do lado. Trata-se de tomar toda a vizinhança como estando a fugir aos impostos e achar-me a mim unicamente como honesto.
Por outro lado, a legislação não é neutra: algué a fez, com algum propósito, provavelmente com alguns "alçapões".
Portanto, até concordamos: é preciso discutir o essencial: o que é um lei de financiamento dos partidos justa (e já agora não apenas burocrática) e que mecanismos de fiscalização devem existir.

Carlos Carujo disse...

Mais uma coisa, de que me esqueci no comentário anterior, até compreendo que se entenda como motivo de orgulho as contas estarem regulares. Esta entrada foi mais motivada pelo exagero.
Por exemplo, dizer "é por isto que sou do BE", como li em alguns comentários, penso que é exagerado.
1- porque o dizem pessoas que já eram do BE quando existiram situações de irregularidades nas contas e não as vimos protestar com o Bloco sobre isso.
2- porque ao estarem a ligar a sua pertença ao bloco a esta questão arriscam a coerência. Se houver alguma irregularidade com as contas do BE das próximas eleições desfiliam-se ou vê-las-emos apenas a justificar o carácter menor dessas irregularidades?
Mas isto devo ser eu que sou picuinhas...

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