Uma passagem rápida pelo moribundo twitter fez-me dar com uma hilariante referência, feita pelo azeite: no seu último livro intitulado "De la Guerre en Philosophie", Bernard Henry-Lévy cita um obscuro filósofo francês - Jean-Baptiste Botul (1896-1947) - no contexto de um feroz ataque a Kant e ao modo como a (inexistência da) sua vida sexual o havia feito entrar em abstracções filosóficas vãs. Acontece que Botul mais não é do que uma personagem fictícia criada por um jornalista, como é hoje contado no jornal i. E as suas conferências aos "neo-kantianos do Paraguai" até estão traduzidas para português por José Mário Silva - com direito a notas circunspectas como esta. Ainda não li "A Vida Sexual de Emanuel Kant", mas a recordação das leituras da trilogia crítica do filósofo de Koenisberg faz-me suspeitar que alguma razão terá o fantasmático Botul. No entanto, neste caso como em muitos outros, convém não confundir o Manuel Germano com o género humano: a vida sexual de Jean-Baptiste Botul também foi assim a modos que inexistente mas os seus escritos aparentam ser bastante calorosos. Prometo que vou conferir.
(A ler esta recensão de Desidério Murcho publicada em tempos no Público, numa altura em que o jornal ainda tinha um suplemento literário).
2 comentários:
Estas episódios abundam na história da filosofia, não é assim, Miguel?
Na faculdade falámos sobre o "atiçador de lareiras do Wittgenstein", a história de um desentendimento entre ele e Karl Popper que ninguém já sabe como terá ou não acontecido mas que foi largamente repetido na versão de Popper, até aos desmentidos que se lhe sucederam.
A filosofia é um lugar carregado de símbolos e episódios como este remetem às formas clássicas de fazer filosofia, através da catacrese, da parábola, da sinédoque... Pena foi ter desmanchado o penteado ao Henry-Lévy.
Desde que o Tales de Mileto caiu dentro de um poço enquanto olhava as estrelas, para gozo da criada, que a coisa nunca mais se endireitou... :-)
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