Segundo a notícia do Público, à medida que a quantidade de jovens a frequentar a escola pública tem vindo a diminuir (fenómenos explicado, pelo menos em parte, pelas mudanças demográficas dos últimos anos tão eloquentemente abordada aqui), as escolas privadas têm visto os números de inscritos a aumentar.
A explicação é aparentemente simples: "As famílias que optam pelo privado procuram um ambiente seguro, um projecto educativo virado para o sucesso e um corpo docente estável, dizem os pais, os responsáveis pelas escolas, mas também os investigadores universitários." É o mesmíssimo discurso que transforma "trabalhadores" em "colaboradores", que transforma "cidadania" em "competitividade", que transforma "precariedade" em "flexibilidade" que transforma (atrevo--me a dizê-lo) "felicidade" em "sucesso". É o discurso que defende com unhas e dentes a ideia da construção de um projecto de via baseado na acumulação e diversificação curricular, é o discurso do "vamos arregaçar as mangas e levar este país para diante", é o discurso da santificação da tecnocracia, do reinado dos capazes e bravos.
É, finalmente, o discurso que abre espaço a que apareçam jovens engatatões e engatatonas, de fatos brilhantes, dentes branquinhos, currículos recheados, mesa reservada nos melhores restaurantes do Bairro Alto, empreendedor e sem medo do risco mas sem uma ponta de noção sobre cidadania e justiça social.
A explicação é aparentemente simples: "As famílias que optam pelo privado procuram um ambiente seguro, um projecto educativo virado para o sucesso e um corpo docente estável, dizem os pais, os responsáveis pelas escolas, mas também os investigadores universitários." É o mesmíssimo discurso que transforma "trabalhadores" em "colaboradores", que transforma "cidadania" em "competitividade", que transforma "precariedade" em "flexibilidade" que transforma (atrevo--me a dizê-lo) "felicidade" em "sucesso". É o discurso que defende com unhas e dentes a ideia da construção de um projecto de via baseado na acumulação e diversificação curricular, é o discurso do "vamos arregaçar as mangas e levar este país para diante", é o discurso da santificação da tecnocracia, do reinado dos capazes e bravos.
É, finalmente, o discurso que abre espaço a que apareçam jovens engatatões e engatatonas, de fatos brilhantes, dentes branquinhos, currículos recheados, mesa reservada nos melhores restaurantes do Bairro Alto, empreendedor e sem medo do risco mas sem uma ponta de noção sobre cidadania e justiça social.
10 comentários:
Parece-me que retratas fenómenos articulados mas distintos. As novas retóricas do consenso encontram-se vinculadas aos interesses e aspirações - passo o simplismo - de uma nova elite social que descreves como cagona - e com razão. Já a atractividade crescente do ensino privado - a confirmar-se - poderá de facto estar relacionada com um corpo docente estável, ambiente seguro, entre outros factores cada vez menos associados - prática ou simbolicamente - à escola pública. Em todo o caso continuo a pensar que a escola pública persiste como referência educativa na sociedade portuguesa e que a solução para muitos dos seus problemas mais insuflados não requer um transplante do receituário privado, antes uma revalorização da sua função (e matéria orçamental, avaliativa, disciplinar e intercultural, p.e.), socialmente insubstituível.
E com "corpo docente estável" queres dizer "corpo docente não sujeito a concurso público e, portanto, recrutado a partir de critérios não claros"? E com "ambiente seguro" queres dizer "ambiente monocultural, exclusivamente de classe média-alta/alta, com portões de 3 metros, asséptica e completamente desligada da realidade extra-muros"?
É que são estes (não só mas também) os ingredientes que são deitados para dentro do caldeirão dessa elite social cagona.
Sim, Diogo. Corpo docente que não varia de mês a mês e cujos critérios de selecção não são necessariamente prejudiciais para os alunos. A justiça da escolha não pode ser confundida com o resultado educativo. Ambiente monocultural? Voto a favor. É uma redoma. Infelizmente o mundo - ou o resto do mundo - não é assim e a escola pública tem responsabilidades acrescidas. That's why... Asséptica e desligada da realidade são juízos de valor: também dizem muito de quem os profere.
Tu às vezes confundes-me. Isso é mesmo para eu responder ou esqueceste-te de pôr o ;) no final do teu comentário?
Volta a ler, que hás-de perceber. Agora sim: ;)
Nunca fui bom com adivinhas.
Então qual é a dúvida? Onde está a contradição? Deita cá p´ra fora!
Tenho-te em demasiada boa conta para acreditar que escreveste com algum grau de seriedade aquele comentário, pá.
Então uma escola com professores escolhidos por critérios justos e universais não será uma escola melhor? Não só porque os professores poderão ser melhores (nem é isso que está em causa) mas é a própria qualidade democrática da escola que fica valorizada e isso só pode ser bom, mesmo que não se reflicta nos resultados.
Em relação à monoculturalidade perdeste-me por completo, confesso.
Em relação aos juízos de valor, são-no mas este é um post sobre a minha posição política em relação ao assunto, não um ensaio sociológico.
Pronto, já desabafei!
1. Euzinho.
2. Estás a discutir abstracções e não o sistema educativo português. O problema da instabilidade procurou ser resolvido com Lurdes Rodrigues, incentivando a permanência por 3 anos na mesma escola dos professores colocados e penalizando a «migração». O que é certo é que os mecanismos nacionais de concurso nem sempre conferiam margem de manobra às escolas para suprir lacunas pontuais ou particulares. A autonomia das escolas e o fim dos mini-concursos devolveram responsabilidades acrescidas a cada uma delas no recrutamento do pessoal docente, sem quebrar os critérios «justos e universais» em vigor: que, se queres que te diga, são altamente discutíveis (ranking por antiquidade e nota final). O resto é paleio.
3. Não gosto de analisar a multiculturalidade a partir do pressuposto da sua desejabilidade. É um facto com que se tem de lidar e não pode nem deve ser de qualquer maneira. Penso que estamos inteiramente de acordo nesta matéria.
4. Afirmar que há coisas ligadas à sociedade e outras desligadas revela um juízo subjectivo sobre o que é uma ligação e o que é a sociedade de referência. Só isso. Uma escola em Viseu desligada da sociedade é muito diferente de uma escola em Lisboa ligada à sociedade e vice-versa.
2. Mantenhamo-nos nas abstracções. Apenas te digo que concordo que os critérios existentes possam ser discutíveis e que as escolas públicas têm deficiências. Mas e daí?
3. Concordo. Mas também acho que, anular o fenómeno criando espaços culturalmente (e socialmente, já agora) homogéneos, não é melhor maneira de se lidar com o assunto.
4. Ah! Mas eu tive o cuidado de pôr as coisas com a devida cautela. Eu não disse que as escolas privadas estavam desligadas da sociedade. Elas fazem parte dela! Disse que estavam desligadas da "realidade extra-muros" o que é completamente diferente e apenas se refere ao forte carácter privado e fechado sobre si mesmo dessas escolas.
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